segunda-feira, 12 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Angolanidades… II

 

Via BIMBE

 

walking por luca.gargano.muhimba dance por luca.gargano.

 

muimba girl por rurukina.

mucubais smoking por rurukina.

a family between safe traditions and uncertain future por luca.gargano.

goat marsupio por luca.gargano.  mucubal child por luca.gargano.

 

water! por luca.gargano.

 

at sunset,after milking por luca.gargano.

 

cooking por rurukina.

enchidos psicopatas…

“É claro que tem havido evolução. Serei sempre o último a nega-lo. Na educação, por exemplo, ela tem sido mais que evidente: a máquina até há uns anitos atrás produzia simples chouriços; agora, já produz toda uma vasta diversidade de enchidos psicopatas.
Basta atentar nas chamadas "praxes".”
(via dragão)

desavergonhados…


“Parece que esta choldra hodierna que responde pelo inverosímil nome de "portugueses" é composta por duas classes substanciais: os pobres envergonhados e os ricos desavergonhados.
E o mais triste e rasteja bundo de tudo isso é que a principal vergonha que aflige os primeiros, ao que consta, é não serem iguais aos segundos.”
(Via Dragão)

memorias…


Imagem097 Imagem070
Imagem089 Imagem102
Imagem106 Imagem051
Imagem052 Imagem053
Imagem072 Imagem075
Imagem078 Imagem082
Imagem084 Imagem088
Imagem090 Imagem101
P1040098 P1040038

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CAOS…


Luanda é uma cidade invulgarmente caótica.
O transito, a falta de electricidade, o difícil abastecimento de combustível, a falta de limpeza, o excesso de gente, os cheiros do fumo dos carros e dos esgotos e dos assados mesmo ao lado…
A cada esquina que dobramos somos confrontados com atitudes e situações cuja compreensão só atingimos se as encararmos com um piscar de olho.
A marginal está a ser esventrada e revolvida para se parecer com a marginal de outra cidade qualquer, no entanto, ninguém sabe quando ou se as obras terminarão.
Até lá, o ex-libris da capital continuará com os coqueiros secos e a morrer e o lixo a acumular-se na praia.
Luanda projecta novos centros comerciais para o centro e, em vez de assumir que a EDEL  (a nossa EDP) lhes deve fornecer energia em qualidade e quantidade suficientes, prepara-se para adquirir grupos geradores capazes de abastecer o empreendimento e o bairro à volta. O falhanço é um dado a priori, o que não deixa de ser irónico para estes projectos ambiciosos.

Os esgotos entupidos levam a que se façam derivações em torno das obstruções mais obstinadas ou, em último recurso, que se abram fossas nas caves ou nos quintais.
Quando estão cheias, chamam-se carros para as limpar, aspirando as lamas pestilentas para as cisternas. Ao fim do dia, estes mesmos camiões aproveitam uma sarjeta insuspeita para despejar o que foram limpar, entupido os esgotos noutra parte da cidade com as lamas que depressa fazem uma argamassa impermeável.
Os geradores têm trabalhado 24 horas por dia e a água tem de ser comprada em camiões cisterna que enchem regularmente o deposito subterrâneo lá de casa. A agua vem directamente do rio; as empregadas da casa garantem que deitam lixívia no deposito… mas não sei, penso que devem esquecer-se muitas vezes. Por isso aquela agua, para mim, só tem mesmo uma utilidade… tomar banho, e esquecer o local do rio onde me disseram que tiravam a água.
Com a introdução de novos autocarros no centro da cidade, os candongueiros têm vindo a ser empurrados cada vez mais para as periferias. A polícia apertou bastante o cerco aos que cobravam preços especulativos ou que encurtavam as rotas habituais.
 
Ontem ao fim da tarde, numa paragem dos novos autocarros junto à Praça 4 de Fevereiro, que fica entalada entre o Hotel Presidente, o Palácio de Vidro, o edifício principal do Porto de Luanda e as obras da baía, assistia enquanto passava, a uma luta intensa para ganhar lugar no autocarro… a fila era enorme. O autocarro estava repleto de gente lá dentro; na verdade, era bem visível  a inclinação do veículo; a suspensões estavam de rastos com o peso excessivo do lado da entrada…
Foi invulgar, observar um mar de gente a entrar numa porta com uns 50 cm de largura.
Imagem128
Praça 4 Fevereiro
O curioso disto tudo, foi observar que a entrada fazia-se à força bruta… ‘vi claramente visto’, pessoas em cima do autocarro, no tejadilho, a forçarem a entrada pela parte de cima da porta… enquanto uns entravam de pé, outros tantos metiam-se por cima deles na horizontal; tais tácticas motivavam ainda mais a confusão. Se o condutor resolvesse arrancar, levaria certamente de rastos umas boas dezenas de pessoas, todas elas entrelaçadas umas nas outras.
O funcionamento das coisas em geral é muito débil… um europeu não questiona determinadas coisas, nem imagina que uma sociedade se organiza em função da informação que uns e outros se prestam mutuamente.
No fim de cada mês recebemos uma carta da EDP, outra da TVcabo, Telecom, Extractos Bancários, etc… nessa altura ficamos a saber o que pagar e quanto pagar.  Pois bem, em angola, não existe correio ou não funciona. Se quisermos pagar uma conta temos de mandar o motorista pelo meio do transito estupidamente caótico, percorrer as capelinhas todas para saber simplesmente os valores a pagar. Se surge uma dúvida no montante, o melhor é esquecer… é sempre preferível pagar logo.
Nos bancos as filas são de uma dimensão que nos fazem perder horas só para saber se determinada transferência foi realmente feita.
É frequente que a pessoa atrás de nós nos diga ‘ tou ná tua trás, yá?’ ; tal expressão quer dizer que o tipo vai fazer a sua vida enquanto estamos na fila e quando regressar vem ter comigo e eu devo dizer que sim, que ‘ele estava ná minha trás’…

.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A 6000 Km de distância e com direito a prenda !

Rori-Ricardo O Rori sabe Leça Luanda
.

contrário à heráldica e à estética…

 

Achei curioso este artigo de Fernando Pessoa:

«O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a república é que não estava. Grandes são as virtudes de coesão nacional e de brandura particular do povo português para que essa anarquia que está nas almas não tenha nunca verdadeiramente transbordado para as coisas!

Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos - porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com o seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos - de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regimen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.

A monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis da família, a lei da separação da Igreja e do Estado - todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.

A monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a república que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros da monarquia.

A monarquia, desagregando a Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e criou dois ou três estados revolucionários. No tempo da monarquia, estava ela, a monarquia, de um lado; do outro estavam, juntos, de simples republicanos a anarquistas, os revolucionários todos. Sobrevinda a república, passaram a ser os republicanos revolucionários entre si, e os monárquicos depostos passaram a ser revolucionários também. A monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a desordem múltipla.

É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em admninistração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o sr. Afonso Costa.

O sociólogo pode reconhecer que a vinda da república teve a vantagem de anarquizar o país, de o encher de intranquilidade permanente, e estas cousas podem designar-se como vantagens porque, quebrando a estagnação, podem preparar qualquer reacção que produza uma cousa mais alta e melhor. Mas nem os republicanos pretendiam este resultado nem ele pode surgir senão como reacção contra eles.

E o regimen está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados mentais, nos serve de bandeira nacional - trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português - o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito natural, devem alimentar-se.

Este regimen é uma conspurcação espiritual. A monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada, nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a república veio a ser.»

- Fernando Pessoa, "Da República"

Barbie… africana

‘Uau quem é você?’ eu perguntei
‘sou eu doutô… à dilina.’ ela respondeu
‘ahh pois é, no meio dessa nova cabeleira nem a estava a reconhecer…’ eu disse apreciando os longos caracóis da farta cabeleira intensamente negra que ela agora usava.
‘num gosta doutô?’ ela perguntou desolada.
‘eu? gosto muito Adelina, acho que lhe fica bem… olhe fica igualzinha à… barbie.’ eu disse não encontrando na minha memória referências de modelos africanas.
‘ké?’ ela respondeu
‘ Pois, digamos parece a barbie, aquela boneca – a barbie de africa.’ eu respondi.

Bom parece que o nome pegou… toda a gente na empresa trata a Adelina por barbie… e ela parece gostar;
Na verdade, para ser parecida com a boneca barbie apenas precisa de mudar tudo e deixar a cabeleira.
As raparigas africanas são vaidosas e gastam o dinheiro todo que têm no visual; os salões de beleza proliferam por todo lado… mas o mais caro, e mesmo indispensável para elas, são as cabeleiras ou extensões de cabelo; não há uma mulher africana que não as use.
O curioso é que ás vezes deparo-me com algumas funcionarias da empresa e nem as reconheço; quando elas tiram a cabeleira, ficam com um cabelo normal, estilo natural, sempre muito curto; quando me habituo à fisionomia da pessoa, não tarda a aparecem com cabelos novos e compridos… alguns fazem-me lembrar as perucas da corte do rei luís xiv… outros fazem-me lembrar os cabelos das bonecas.

o jugo dos açambarcadores…

Sob a nossa direcção, o povo destruiu a aristocracia, que era sua protectora e sua ama de leite natural, porque seu interesse era inseparável do interesse do povo. Agora que a aristocracia foi destruída, ele caiu sob o jugo dos açambarcadores, dos velhacos enriquecidos, que o oprimem de modo impiedoso.

um tipo ‘assado’ de feitio…

Embora seja um tipo meio agnóstico, meio deísta e sem ideias definitivas sobre a matéria existencial, nestas alturas sinto-me sempre um palerma; a sério… porque raio serei ‘assim’ e ao mesmo tempo ‘assado’?
Descobri que sou ‘assado’… é,  sou ‘assado’… e pergunto-me porque sou então ‘assado’ quando penso racionalmente que sou ‘assim’. 
Lembrei-me  de Descartes, um tipo que desenvolve um estilo de pensamento, que pese embora não aprecie lá muito,  mas que contudo entendeu, como eu agora também intuí, que se sou de facto ‘assado’ é porque existe em mim tal ideia ‘assim’.
Confuso? também acho…
Na verdade a coisa até é simples… que dizer, hoje lembro-me daqueles que há 49 anos se juntaram num projecto de vida em comum… o meu pai e a minha mãe; recordo esse dia imaginando as velhas fotografias lá de casa em cima da mesa, ao lado da lareira e que eternizaram o momento.
Lembro-me do meu pai, com muita saudade, mas com satisfação… e sinto, quando penso nele, que de facto não sou ‘assim’ como penso que sou… eu sinto que ele está presente, mesmo não estando.
E lembro-me da minha mãe, também com saudade, mas com a satisfação de não precisar de sentir que está presente, lembro-me com a satisfação de a poder ver e sentir todos dias, mesmo não a vendo a esta distancia.
E pronto como o mundo é feito de coincidências, lembro-me por mero acaso, que hoje é também dia da implantação da república portuguesa e que há quarenta e um anos também nasceu um tipo ‘assado’ de feitio e mesmo ‘assim’, confuso como o caraças.

a dança das repúblicas…

 

A Queda da Monarquia

Nas últimas décadas do século XIX, o descontentamento da população crescia.

Para pagar as obras públicas, o governo contraía dívidas, aumentava os impostos, e o custo de vida subia.

Na Europa, crescia o interesse pelos territórios em África, fonte de matérias-primas para a indústria: algodão, café, ouro, diamantes. Os portugueses fizeram viagens de exploração no interior africano, entre  Angola e Moçambique.

Capelo e Ivens

Os países mais industrializados (Grã-Bretanha, França, Alemanha) procuravam também assegurar a posse de vários territórios em África. Em 1884-1885, esses países reuniram-se na Conferência de Berlim e decidiram que os territórios africanos seriam dos países que os ocupavam efectivamente, e não dos que os haviam descoberto.

Portugal reage apresentando o Mapa Cor-de-Rosa, no qual exigia para si os territórios entre Angola e Moçambique.

O Mapa Cor-de-Rosa e o Ultimato

Em 1890, a Inglaterra (que nunca aceitou o Mapa Cor-de-Rosa) apresenta ao rei D. Carlos I um Ultimato: ou os portugueses desocupavam os territórios entre Angola e Moçambique ou o governo inglês declarava guerra a Portugal.

Para grande descontentamento da população, o governo português aceitou este Ultimato.

O Regicídio

Neste clima de descontentamento contra a monarquia, as ideias republicanas ganham adeptos: defendem um presidente eleito à frente do governo, e não um rei. Forma-se o Partido Republicano.

Em 31 de Janeiro de 1891 dá-se no Porto a primeira revolta armada contra a monarquia. No dia 1 de Fevereiro de 1908, em Lisboa, ocorre o regicídio: são mortos num atentado o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

A Revolta do 5 de Outubro de 1910

A revolução republicana começou em Lisboa na madrugada de 4 de Outubro de 1910.

Partiu de pequenos grupos de conspiradores a que a população aderiu.

O exército monárquico não se conseguiu organizar e os revoltosos venceram.

Na manhã de 5 de Outubro de 1910, dirigentes do Partido Republicano, na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, proclamaram a implantação da República em Portugal.

Neste dia terminou a monarquia em Portugal, e começou a dança das repúblicas… até hoje.

Conspirações… republicanas

 

 

Bom chegados a mais um aniversario da Implantação da República, e tendo averiguado sobre o assunto, verifiquei esta passagem interessante que se passou no decurso da queda da Monarquia e consequente Implantação da Republica; o texto a que me refiro é este:

“O movimento revolucionário de 5 de Outubro de 1910 deu-se em natural sequência da acção doutrinária e política que, desde a criação do Partido Republicano, em 1876, vinha sendo desenvolvida por este partido, cujo objectivo primário cedo foi o da simples substituição do regime.

Esta operação tinha também como finalidade fazer do derrube da monarquia uma mística messiânica, unificadora, nacional e acima de classes. Esta panaceia que deveria curar de uma vez todos os males da Nação, reconduzindo-a à glória, foi acentuando cada vez mais duas vertentes fundamentais: o nacionalismo e o colonialismo. Desta combinação resultou o abandono do Iberismo, identificando-se monárquicos e monarquia com antipatriotismo e cedência aos interesses estrangeiros.

Outro componente muito forte da ideologia republicana era o anticlericalismo, identificou-se religião com atraso científico e força de oposição ao progresso, em oposição aos republicanos, vanguarda identificada com ciência e progresso.

Os nomes mais radicais ficaram encarregues das funções logísticas na preparação da revolução. O comité civil era formado por Afonso Costa, João Chagas e António José de Almeida. À frente do comité militar ficou o almirante Cândido dos Reis.

António José de Almeida ficou encarregue da organização das sociedades secretas, como a Carbonária, em cuja chefia se integrava o comissário naval António Maria Machado Santos, a Maçonaria, embora esta independente dos órgãos do partido, e “Junta Liberal”, dirigida pelo Dr. Miguel Bombarda. A este eminente médico se ficou a dever uma importante acção de propaganda republicana sobre o meio burguês, que produziu muitos simpatizantes.

As forças armadas foram outro campo de recrutamento para os ideais republicanos, inevitável dada a orientação revolucionária escolhida. Embora já existisse um núcleo republicano, quando em 1909 se começou a preparar a revolução a curto prazo, havia falta de oficias no movimento. Esta falta foi suprida por acção conjunta da Maçonaria, do almirante Cândido dos Reis no Comité Militar Republicano (que recrutou a maior parte dos oficiais) e de Machado dos Santos na Carbonária.”

 

Entretanto fui ao site do Grande Oriente Lusitano (Maçonaria) e encontrei isto:

“O Grémio Lusitano (Maçonaria) congratula-se com as comemorações que se estão a preparar em todo o País para assinalar o aniversário da implantação da República Portuguesa, promovidas por entidades públicas e grupos de cidadãos, de acordo com os valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.  Grande Oriente Lusitano 2009.

 

Ora estas palavras aguçaram-me a memória e o espírito conspirador :)… e relacionei tudo com o que tinha lido nos Protocolos dos Sábios do Sião (1890)do qual coloco aqui alguns excertos:

“Fomos nós os primeiros que, já na Antiguidade, lançamos ao povo as palavras "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", palavras repetidas tantas vezes pelos papagaios inconscientes que, atraídos de toda a parte por essa isca, dela somente tem usado para destruir a prosperidade do mundo, a verdadeira liberdade individual, outrora tão bem garantida dos constrangimentos da multidão.

Homens que se julgavam inteligentes não souberam desvendar o sentido oculto dessas palavras, não viram que se contradizem, não repararam que não há igualdade na natureza, que nela não pode haver liberdade, que a própria natureza estabeleceu a desigualdade dos espíritos, dos caracteres e das inteligências, tão fortemente submetidos às suas leis ; esses homens não sentiram que a multidão é uma força cega ; que os ambiciosos que elege são tão cegos em política quanto ela ; que o iniciado, por mais tolo que seja, pode governar, enquanto que a multidão dos não-iniciados, embora cheia de génio, nada entende da política.

Todas essas considerações não abrolharam no espírito dos cristãos ; entretanto, é nisso que repousa o princípio dinástico dos governos ; o pai transmite ao filho os segredos da política, desconhecidos fora dos membros da família reinante, a fim de que ninguém os possa trair. Mais tarde, o sentido da transmissão hereditária dos verdadeiros princípios da política se perdeu.

O êxito de nossa obra aumentou. Todavia, no mundo, as palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade puseram em nossas fileiras, por intermédio de nossos agentes cegos, legiões inteiras de homens que arvoraram com entusiasmo nossos estandartes. Contudo, tais palavras eram os vermes que roíam a prosperidade dos não-judeus, destruindo por toda a parte a paz, a tranquilidade, a solidariedade, minando todos os alicerces de seus Estados. Vereis pelo que se segue como isso serviu ao nosso triunfo; isso nos deu, entre outras cousas, a possibilidade de obter o triunfo mais importante, isto é, a abolição dos privilégios, a própria essência da aristocracia dos cristãos, o único meio de defesa que tinham contra nós os povos e as nações.

Sobre as ruínas da aristocracia natural e hereditária, elevamos nossa aristocracia da inteligência e das finanças. Tomamos por critério dessa nova aristocracia a riqueza, que depende de nós, e a ciência, que é dirigida por nossos sábios.


Nosso triunfo foi ainda facilitado pelo fato de, nas nossas relações com os homens de quem precisamos, sabermos tocar as cordas mais sensíveis da alma humana: o cálculo, a avidez, a insaciabilidade dos bens materiais, todas essas fraquezas humanas, cada qual capaz de abafar o espírito de iniciativa, pondo a vontade dos homens à disposição de quem compra sua actividade.

A ideia abstracta da liberdade deu a possibilidade de persuadir ás multidões que um governo não passa de gerente do proprietário do país, que é o povo, podendo-se muda-lo como se muda de camisa.

A removibilidade dos representantes do povo coloca-os à nossa disposição; eles dependem de nossa escolha.”

“Para impelir os ambiciosos a abusar do poder, opusemos umas às outras todas as forças, desenvolvendo todas as suas tendências liberais para a independência...

Encorajamos para esse fim todas as tendências, armamos todos os partidos e fizemos do poder o alvo de todas as ambições. Transformamos os Estados em arenas onde reinam os distúrbios... Dentro de pouco tempo, as desordens e bancarrotas surgirão por toda a parte.

Os falastrões inesgotáveis transformaram as sessões dos parlamentos e as reuniões administrativas em prélios oratórios. Jornalistas audaciosos e panfletários cínicos atacam diariamente o pessoal administrativo. Os abusos do poder, finalmente, prepararão a queda de todas as instituições, e tudo será destruído pela multidão enlouquecida.

Os povos estão mais escravizados ao trabalho pesado do que no tempo da servidão e da escravidão. É possível livrar-se de um modo ou de outro da escravidão e da servidão. É possível compactuar com ambas. Mas é impossível livrar-se da miséria.

Os direitos que inscrevemos nas constituições são fictícios para as massas ; não são reais. Todos esses pretensos ""direitos do povo" somente podem existir no espírito e são para sempre irrealizáveis. Que vale para o proletário curvado sobre seu trabalho, esmagado pela sua triste sorte, o direito dado aos falastrões de falar, ou o direito concedido aos jornalistas de escrever toda espécie de absurdos misturados com cousas sérias, desde que o proletariado não tira das constituições outras vantagens senão as miseráveis migalhas que lhe lançamos de nossa mesa em troca dum sufrágio favorável às nossas prescrições, aos nossos prepostos e aos nossos agentes?

Para o pobre diabo, os direitos republicanos são uma ironia amarga: a necessidade dum trabalho quase quotidiano não lhe permite goza-los ; em compensação, tiram-lhe a garantia dum ganho constante e certo, pondo-o na dependência das greves, dos patrões e dos camaradas.


Sob a nossa direcção, o povo destruiu a aristocracia, que era sua protectora e sua ama de leite natural, porque seu interesse era inseparável do interesse do povo. Agora que a aristocracia foi destruída, ele caiu sob o jugo dos açambarcadores, dos velhacos enriquecidos, que o oprimem de modo impiedoso.

Nós aparecemos ao operário como os libertadores desse jugo, quando lhe propusermos entrar nas fileiras do exército de socialistas, anarquistas e comunistas que sempre sustentamos sob o pretexto de solidariedade entre os membros de nossa franco-maçonaria social.

A aristocracia, que gozava de pleno direito do trabalho dos operários, tinha interesse em que os trabalhadores estivessem fartos, fossem sadios e fortes. Nosso interesse, ao contrário, é que os cristãos degenerem.

Nosso poder reside na fome crónica, na fraqueza do operário, porque tudo isso o escraviza à nossa vontade, de modo que ele fique sem poder, força e energia de se opor a ela. A fome dá ao capital mais direitos sobre o operário do que a aristocracia recebia do poder real e legal.

Pela miséria e o ódio invejoso que dela resulta, manobramos as multidões e nos servimos de suas mãos para esmagar os que se oponham aos nossos desígnios.

Quando chegar a hora de ser coroado nosso soberano universal, essas mesmas mãos varrerão todos os obstáculos que se lhe anteponham.

É preciso que cada um saiba que não pode existir igualdade em virtude das diversas actividades a que cada qual é destinado ; que todos não podem ser igualmente responsáveis perante a lei ; que, por exemplo, a responsabilidade não é a mesma naquele que, pelos seus actos, compromete toda uma classe, e naquele que somente atinge a sua honra. A verdadeira ciência da ordem social, em cujo segredo não admitimos os cristãos, mostraria a todos que o lugar e o trabalho de cada um devem ser diferentes, para que não haja uma fonte de tormentos em consequência da falta de correspondência entre a educação e o trabalho. Estudando essa ciência, os povos obedecerão de boa vontade aos poderes e à ordem social estabelecida por eles no Estado. Ao contrário, no estado actual da ciência, tal qual a fizemos, o povo, acreditando cegamente na palavra impressa, em consequência dos erros insinuados à sua ignorância, é inimigo de todas as condições que julga acima dele, porque não compreende a importância de cada condição.

Essa inimizade aumentará ainda em virtude da crise económica que acabará por parar as operações da Bolsa e a marcha da indústria.

Quando criarmos, graças aos meios ocultos de que dispomos por causa do ouro, que se acha totalmente em nossas mãos, uma crise económica geral, lançaremos à rua multidões de operários, simultaneamente, em todos os países da Europa.

Essas multidões por-se-ão com voluptuosidade a derramar o sangue daqueles que invejam desde a infância na simplicidade de sua ignorância e cujos bens poderão então saquear.

Elas não tocarão nos nossos, porque conheceremos de antemão o momento do ataque e tomaremos medidas acauteladoras.

Afirmamos que o progresso submeteria todos os cristãos ao reinado da razão. Será esse o nosso despotismo, que saberá acalmar todas as agitações com justas severidades, extirpando o liberalismo de todas as instituições.

Quando o povo viu que lhe faziam tantas concessões e complacências em nome da liberdade, julgou que era amo e senhor, e se lançou sobre o poder ; porém, naturalmente, foi de encontro, como um cego, a muitos obstáculos ; pôs-se a procurar um guia, não teve a ideia de voltar ao antigo e depôs todos os poderes aos nossos pés. Lembrai-vos da revolução francesa, a que demos o nome de "grande" ; os segredos de sua preparação nos são bem conhecidos, porque ela foi totalmente a obra de nossas mãos.

Desde então, levamos o povo de decepção em decepção, a fim de que renuncie mesmo a nós, em proveito do rei-déspota do sangue de Sião, que preparamos para o mundo.

Actualmente somos invulneráveis como força internacional, porque quando nos atacam em um Estado, somos defendidos nos outros. A infinita covardia dos povos cristãos, que rastejam diante da força, que são impiedosos para a fraqueza e para os erros, porém indulgentes para os crimes, que não querem suportar as contradições da liberdade, que são pacientes até o martírio diante da violência dum despotismo ousado, tudo isso favorece nossa independência.

Sofrem e suportam dos primeiros ministros de hoje abusos pelo menor dos quais teriam decapitado vinte reis.

Como explicar tal fenómeno e tal incoerência das massas populares em face dos acontecimentos que parecem da mesma natureza ?

Esse fenómeno se explica pelo fato de fazerem esses ditadores - primeiros ministros - dizerem baixinho ao povo que, se causam mal aos Estados, isto é com o fito de realizar a felicidade dos povos, sua fraternidade internacional, a solidariedade, os direitos iguais para todos. Naturalmente, não se lhe diz que essa unidade será feita sob nossa autoridade.

E eis como o povo condena os justos e absolve os culpados, persuadindo-se cada vez mais que pode fazer o que lhe der na veneta. Nessas condições, o povo destrói toda estabilidade e cria desordens a cada passo.

A palavra "liberdade" põe as sociedades humanas em luta contra toda força, contra todo poder, mesmo o de Deus e o da natureza. Eis porque, no nosso domínio, excluiremos essa palavra do vocabulário humano por ser o princípio da brutalidade que transmuda as multidões em animais ferozes. É verdade que essas feras adormecem logo que se embriagam com sangue, sendo, então, fácil encadeá-las. Mas se não lhes der sangue, não adormecem e lutam.

“Demais, a arte de governar as massas e os indivíduos por meio de uma teoria e duma fraseologia habilmente combinadas pelas regras da vida social e por outros meios engenhosos, dos quais os cristãos nada percebem, faz também parte de nosso génio administrativo, educado na análise, na observação, em tais subtilezas de concepção que não encontram rivais, pois que não há ninguém como nós para conceber planos de acção política e de solidariedade. Somente os Jesuítas nos poderiam igualar nesse ponto, porém nós conseguimos desacredita-los aos olhos da plebe ignorante, porque eles constituíam uma organização visível, enquanto que nós operávamos ocultamente por meio de nossa organização secreta. Aliás, que importa ao mundo o amo que vai ter? seja o chefe do catolicismo ou nosso déspota do sangue de Sião? Mas para nós, que somos o povo eleito, a questão já não é indiferente.

Uma coligação universal dos (povos europeus) cristãos poderia dominar-nos por algum tempo, porém estamos garantidos contra contra esse perigo pelas profundas sementes de discórdia que já se não podem mais arrancar de seu coração. Opusemos uns aos outros os cálculos individuais e nacionais dos cristãos, seus ódios religiosos e étnicos, que há vinte séculos cultivamos. É por isso que nenhum governo encontrará auxílio em parte alguma ; cada qual acreditará um acordo contra nós desfavorável a seus próprios interesses. Somos muito fortes e é preciso contar connosco. As potências não podem concluir o mais insignificante acordo sem que nele tomemos parte.

Per me reges regnant - "por mim reinam os reis". Nossos profetas nos disseram que fomos eleitos por Deus mesmo para governar a terra. Deus nos deu o génio, a fim de podermos levar a cabo esse problema. Embora surja um génio no campo oposto, poderá lutar contra nós, mas o recém-vindo não valerá o velho habitante ; a luta entre nós será sem piedade e tal como nunca o mundo presenciou. Além disso, os homens de génio chegariam tarde.

Todas as engrenagens do mecanismo governamental dependem dum motor que está em nossas mãos: esse motor é o ouro. A ciência da economia política, inventada por nossos sábios, mostra-nos desde muito tempo o prestígio real do ouro.
O capital, para ter liberdade de acção, deve obter o monopólio da indústria e do comércio; é o que já vai realizando a nossa mão invisível em todas as partes do mundo. Essa liberdade dará força política aos industriais e o povo lhe será submetido. Importa mais, em nossos dias, desarmar os povos do que levá-los à guerra ; importa mais servir as paixões incandescidas para nosso proveito do que acalmá-las ; importa mais apoderar-se das ideias de outrem e comenta-las do que bani-las.
O problema capital do nosso governo é enfraquecer o espírito público pela crítica ; fazer-lhe perder o hábito de pensar, porque a reflexão cria a oposição ; distrair as forças do espírito, em vãs escaramuças de eloquência.

A aristocracia dos cristãos desapareceu como força política e não temos mais que contar com ela; porém como proprietária de bens territoriais, poderá prejudicar-nos na medida da independência de seus recursos. É preciso, portanto, arrancar-lhe as suas terras. O melhor meio para isso é aumentar os impostos sobre seus bens de raiz, a fim de endividar a terra. Essas medidas manterão a propriedade territorial num estado de absoluta sujeição.

Como os aristocratas cristãos não sabem, de pais a filhos, se contentar com pouco, serão rapidamente arruinados.

Ao mesmo tempo, devemos proteger fortemente o comércio e a indústria, sobretudo a especulação, cujo papel é servir de contrapeso à indústria; sem a especulação, a indústria multiplicaria os capitais privados e melhoraria a agricultura, libertando a terra das dívidas criadas pelos bancos rurais. É necessário que a indústria tire à terra o fruto do trabalho, como o do capital , que nos dê, pela especulação, o dinheiro de todo o mundo: lançados, assim, às fileiras dos proletários, todos os cristãos se inclinarão diante de nós para terem ao menos o direito de viver.

Para arruinar a indústria dos cristãos, desenvolveremos a especulação e o gosto do luxo, desse luxo que tudo devora. Faremos subir os salários, que, entretanto, não trarão proveito aos operários, porque faremos, ao mesmo tempo, o encarecimento dos géneros de primeira necessidade, devido, como apregoaremos, à decadência da agricultura e da pecuária; demais, habilmente e profundamente subverteremos as fontes de produção, habituando os operários à anarquia e as bebidas alcoólicas, recorrendo a todas as medidas possíveis para afastar da Terra os cristãos inteligentes.

Para impedir que essa situação seja vista prematuramente sob seu verdadeiro aspecto, mascararemos nossos verdadeiros desígnios com o pretenso desejo de servir às classes trabalhadoras e de propagar os grandes princípios económicos que actualmente ensinamos.” … 1890