sexta-feira, 26 de março de 2010

G. K. Chesterton…

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Acabei de ler o livro «Ortodoxia» de Chesterton… embora discorde de algumas das ideias do autor, recomendo-o para quem gosta destes temas; deixo um excerto da obra… uma parte do prefácio:
«Pessoas completamente mundanas nunca entendem sequer o mundo; elas confiam plenamente numas poucas máximas cínicas não verdadeiras. Lembro-me de que, certa vez, fiz um passeio com um editor de sucesso, e ele fez uma observação que eu ouvira antes muitas vezes antes; é na verdade, quase um lema do mundo moderno. Todavia, eu ouvi essa máxima cínica mais uma vez e não me contive: de repente vi que ela não dizia nada. Referindo-se a alguém, disse o editor»: “Aquele homem vai progredir; ele acredita em si mesmo”. Disse-lhe então: Quer saber onde ficam os homens que acreditam em si mesmos?” Eu sei. “Os homens que acreditam em si mesmos estão todos em asilos lunáticos”.
Ele disse calmamente que, no fim das contas havia um bom número de homens que acreditavam em si mesmos e que não eram lunáticos internados em asilo. “Sim, certamente”, retruquei, e você mais do que ninguém deve conhecê-los. Aquele poeta bêbado de quem você não quis aceitar uma lamentável tragédia, ele acreditava em si mesmo. Aquele velho ministro com um poema épico de quem você se escondia num quarto dos fundos, ele acreditava em si mesmo. Se você consultasse sua experiência profissional em vez de sua horrível filosofia individualista, saberia que acreditar em si mesmo é uma das marcas mais comuns de um patife. Atores que não sabem representar acreditam em si mesmo; e os devedores que não vão pagar. Seria muito mais verdadeiro dizer que um homem certamente fracassará por acreditar em si mesmo. Total autoconfiança não é simplesmente um pecado; total autoconfiança é uma fraqueza. Acreditar absolutamente em si mesmo é uma crença tão histérica e supersticiosa como acreditar em Joanna Southcote: quem o faz traz o nome ´Hanwell´ [nome de um asilo para loucos] escrito no rosto com a mesma clareza que está escrito naquele ônibus” .
A tudo isso meu amigo editor deu uma profunda e eficaz resposta: “Bem, se um homem não acredita em si mesmo, em quem vai acreditar?” Depois de uma longa pausa eu respondi: “Vou para casa escrever um livro em resposta a sua pergunta”. Este é o livro que escrevi para responder-lhe.”

segunda-feira, 22 de março de 2010

À Deriva Porto Rico...

Fausto

Naquele lugar servem-nos tabaco em lugar de vinho
em Porto Rico cheira a erva santa de Santo Domingo
tão doce e sentida, chupada e contida no peito tão só
sorvem como sumos pelas bocas em fumos pelos narizes em pó
por baixo das linhas quentes tropicais são mais cristalinas
música de búzios, dos atabalinhos, de campaínhas e buzinas, transmarinas

Escarabulha, salta, pula, pincha, fazem muitas mil doidices, quem o disse?

De tal maneira a marinhar p´ra não se deitarem ao mar
Uns atavam-nos uns aos outros, pelas gambias, pelos cotos

Esvoaça, avoa, abeija a ala pelas ventas extasia, quem diria?

Imitam aves o que é raro e eu até sofro do faro
Um vai tonto e outro tolo pois tanta côdea é pró miolo

A chusma de gulosos dedilha folhas secas, viciosos canudinhos
em extase escondidos de tudo areou perdeu o tino dos caminhos
e andamos ao pairo sem norte nem sol no desvairo das folias
se o piloto trás dois nortes pelo seu sol outro em sua fantasia

e as ilhas deste mundo sem bóias que as prenda lá no fundo deste mar
andam sobre as águas bailam pelas fráguas como bóias a bailar a boiar

Escarabulha, salta, pula, pincha, fazem muitas mil doidices, quem o disse?
De tal maneira a marinhar p´ra não se deitarem ao mar
Uns atavam-nos uns aos outros, pelas gambias, pelos cotos
Esvoaça, avoa, abeija a ala pelas ventas extasia, quem diria?
Imitam aves o que é raro e eu até sofro do faro
Um vai tonto e outro tolo pois tanta côdea é pró miolo

 

sexta-feira, 19 de março de 2010

nano-segundos de ilusão…

Há determinadas coisas que não são susceptíveis de serem explicadas ou compreendidas… surgem apenas no meu subconsciente, em fragmentos, em lampejos… nano-segundos de ilusão…
A sua existência, embora efémera, é fantástica… tanto quanto decepcionante é a tomada de consciência da sua inexistência… nano-segundos depois.
É simples, eu é que gosto de complicar, estou a referir-me ao meu pai… e da forma como intimamente penso, quando tenho algo de bom na vida para contar; o meu primeiro instinto, é partilhar com ele e contar-lhe… debalde.
Não sei quantos anos passaram… dois, três ou quatro… não quero saber… a saudade sente-se, não se mede com régua e esquadro… e eu vivo, dia-a-dia, sem ser capaz de medir ou contar o numero de nano-ilusões a que subconsciente já me habituou… todos juntos, os nano-lampejos,  somam uns miseráveis segundos… ainda assim, prefiro tê-los a não ter nada… são nano-segundos de ouro…

Always present Dad.


The Platters 

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Rumo a Sul… V

Bom… não há muitas palavras que possam descrever com exactidão as paisagens que vi.
Em boa verdade, o que vi seria digno de concorrer com as paisagens do filme ‘lagoa azul’…
Segundo dia… depois da visita intensa que, eu e o Cláudio, fizemos à cidade de Benguela, decidimos rumar a outras paragens… Baía Farta e Baía Azul… duas localidades que mereceram a nossa visita.
A familia Corleone, juntamente com o Tino and Higherjohn já tinham tomado o pequeno almoço… my self and qui-û-ra priest, mal chegamos ao hotel mergulhamos o corpinho na piscina… o dia estava, aquela hora da manha, abrasador… Don Vito e a ragazza J. Corleone acompanharam-nos… J. Corleone é uma criança divertida, com uns dois ou três anitos e faz-me lembrar o meu marocas… para ela, eu, sou o tio ricardo.
Uns 20 km de carro e chegamos a localidade ‘Baía Farta’… bem, não tem nada a ver com… nada, aquela praia não existe… 
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não podia existir, mas eu vi-a… aquele local é a coisa mais pura que já conheci…
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… uns miúdos nus de ‘pirilau ao léu’…
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… uma igreja, um porto lá mais ao fundo…
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… uma água transparente e quente, uns barcos de pesca de madeira… e muita beleza… fiquei impressionado.
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… e a miudagem com Littlejohn
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… e os amigos… e nativos
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… e tipos que sonhavam com a vitória do FCP por dois… embora levassem com cinco…
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… e rapaziada colorida…
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… e…
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… e mais… no comments
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… e uns tipos cheios de assistência… a preparar o isco…
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… e pessoal divertido…
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… e muita amizade…
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Rumo a Sul… IV


Depois das banhocas revigorantes no Lobito, entramos na cidade de Benguela… aonde iríamos permanecer no hotel mil cidades, por duas noites.
Littlejohn, promovido recentemente a Higherjohn devido aos excelentes dotes no campo artístico, tinha um primo a trabalhar em Benguela e que já não via há cerca de 25 anos… enfim, combinou um encontro, um jantar num restaurante uns dois ou três quarteirões abaixo do hotel.
E pasme-se, saímos do hotel a pé e de noite…
‘Sensação esquisita’ - comentei com o padre qui-û-ra, achamos estranho estarmos a circular em plena noite com o mesmo à vontade com que o fazemos naturalmente em portugal. E gostamos muito… passear à noite é actividade que na cidade de Luanda é manifestamente impossível…
Mas em Benguela não… respira-se segurança e as pessoas, além de simpáticas, olham-nos com olhos normais.
Pelo caminho fui reparando que a cidade tem um estilo de vida diametralmente oposto ao de Luanda… o facto de haver segurança contribui decisivamente para que tudo exista naturalmente… esplanadas, crianças a brincar nos muitos jardins, casas mais expostas e menos muradas.
Anyway, o restaurante estava repleto de Portugueses e não havia lugares disponíveis… coisas a que o destino já me habituou… mas é precisamente nessas alturas que Don Vito Corleone intervém… conversa particular com o staff, tu-cá-tu-lá com as empregadas e depois com o chefe e depois com todos, sente-lhes o pulso e avança, não sem antes sugerir uma organização mais eficiente do espaço… tira aquele cliente dali e coloca-o acolá… estava afinal resolvido, sem surpresa… o LEITÃO DA BAIRRADA estava no papo. O restaurante estava repleto de tugas…

Dia seguinte, acordei cedíssimo… às seis da manha.
O dia em África começa cedo… e a claridade matinal anunciava um dia esplendoroso. 
Eu e o açoriano (e portista) Cláudio, mais conhecido por padre qui-û-ra, fomos os primeiros a tomar o pequeno almoço… e saímos para conhecer a cidade. Littlejohn, não dava sinais de vida… enfim, não quisemos acordar sua alteza.
Aquela hora, umas oito da manha, o sol já queimava e visitamos a pé tudo o que eram ruas, monumentos, jardins, praias daquela cidade, andamos quilómetros… and guess what… gostei mesmo muito.
Benguela está organizada de forma moderna e eficiente… ruas largas e perpendiculares umas  em relação ás outras, formando blocos habitacionais geometricamente perfeitos.
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O mercado recuperado… e o tipo de casas
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O jardim com um ambiente fantástico, calçada portuguesa e rodeado de palácios do tempo colonial… uma obra alusiva à evangelização dos nativos…
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Um palácio, agora utilizado para fins governamentais…
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Muitas alusões a portugal…
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e mais jardins e pátios de casas particulares…
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e muitas casas de portugueses do tempo colonial…
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muitas outras…
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e ruas com nomes lusos… bem na marginal de Benguela.
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O ambiente geral é bom, calmo, bonito e bem português… chegamos à marginal com bastante calor… resolvemos tomar banho no mar… deveriam ser umas 9 h…
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… e soube muito muito bem…
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De regresso ao hotel, deparamo-nos com um edifício fabuloso… tinha que entrar e convencemos o guarda a fazer uma visita guiada… este edifício era o antigo cinema ao ar livre e está perfeitamente recuperado.
«meu amigo, então o senhor trabalha aqui há muito tempo?» eu perguntei ao guarda.
«trabalha sim, sinhô… trabalho aqui deisdi o nosso tempo… quê dizé desdi o tempo dos branco» ele respondeu identificando-se com aqueles tempos.
Bem se via pelo aspecto do complexo que ali seria um local de excelência para conviver… tudo era perfeitamente bonito e bem arquitectado… e tinha salas de dança ao ar livre e zona de churrascos… e um ecrã enooorme…
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«ai sim, que fixe, e como era isto? o ambiente, as pessoas… havia festas?» eu continuava
«uichh sim, muitas feista mêmo… damas e homis e musica» ele recordava e continuava «ágóra tambeim tem feista… muita música, mais fauta uma péça ná máquina de filmi, não dá filmi» ele concluiu.
«ohh que pena senhor… meu amigo como é que se chama?» eu perguntei
«eu? chamo Cipriano Prófecta… e o sinhô?» ele respondeu perguntando.
«eu? chamo-me Ricardo Messias… ahahah» eu disse e continuei « nãa, estou a brincar, está a ver – profecta, messias – era uma chalaça… pois, pronto é só mesmo Ricardo» finalizei, constatando que os únicos que se riram fui eu próprio e o Cláudio, embora o ‘sinhô’ tenha esboçado um sorriso… alguns segundos depois do processador ter entrado em funcionamento.
Continuamos a visita pelo complexo, que era enorme…
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… e senti que ali, naquele tempo, devia passar-se uma excelente noite…

(continua)