sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Out of Africa… Moçambique… Inhambane

 

… sala de espera do aeroporto de Maputo; Um avião levar-nos-ia para norte… Inhambane situa-se a cerca de 500 km de Maputo. Se tivesse tempo teria preferido ir de Jipe…

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O avião era, afinal, uma espécie de avião… era novo daqueles a hélice, pequeno o suficiente para bater com a cabeça no tecto. Estava vento forte e o avião parecia desfazer-se em sacudidelas e abanões e não raras vezes a traseira parecia deslocar-se fazendo piões em pleno ar. Incrível.

A ‘Aeromoça’ veio ter connosco e perguntou se, em caso de calamidade, a podia ajudar… explicando os procedimentos de emergência e tal… imagine that.

Adoro estas conversas em pleno ar… dão confiança a um tipo. Eu só queria saber como se arrancava a porta de emergência… e imaginava se o casaco, devidamente agarrado nas pontas, daria como paraquedas…

Aterramos cerca de uma hora depois no aeroporto ou aeródromo de Inhambane. Fantástico.

Á saída esperava-nos a carrinha do ‘water logde Flamingo Bay’ aonde iriamos ficar.

Cá fora uns miúdos acercaram-se de mim, em avalanche como sempre, uns sete ou oito à espera de qualquer-coisinha... «ahhhh parou, tchuu ahh parou ca…, só dô ao chefi di tóduss e ele distribui yá? quem é o chéfi?» eu dizia.

Eles apontaram prontamente para o ‘chéfi’, um rapaz com uns oito anos… e ordeiramente responderam ao meu apelo… uns rebuçados, uns Meticais e pronto é sempre agradável vê-los satisfeitos a comer rebuçados…

 

A viagem até ao Lodge, cerca de 30 km, convenceu-me. Um paraíso na terra… fez-me lembrar a Costa do Sauípi no Brasil… muitos coqueiros. O primo Luís A. tinha-me dito que era assim e com toda a razão.

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Na verdade estava deslumbrado com aquela região, e ainda não tinha visto o melhor… o Oceano Indico e a inacreditável vida que ele encerra...

Inhambane situa-se no mesmo paralelo da ilha de Madagáscar…

 

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O Water Lodge aonde iriamos permanecer tinha criado em mim, por antecipação, uma certa ansiedade, uma espécie de curiosidade… como seria dormir em cima da água? Haveriam tubarões e Moreias e Alforrecas… e o Nemo andaria por ali?

 

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Em boa verdade existe tudo naquele mar… rigorosamente tudo.

A Mary andava com receio… aquele dia do mês que as mulheres sempre têm, fez-me dizer-lhe que os tubarões deveriam estar nervosos a circular à volta nossa cabana junto ao mar…  os tubarões cheiram ao longe… fresh flesh.

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A sensação de entrar naquele complexo é verdadeiramente ímpar, um mundo que não é o nosso...

Naquele local percebi uma coisa importante… no mundo ocidental, citadino e intenso, as vidas das pessoas quase têm andado desligadas da ordem natural das coisas. Já não existe uma relação entre a natureza e o ser humano. O nascer e o pôr do Sol é talvez a única excepção, a única restrição que a natureza ainda vai impondo ás pessoas do mundo ocidental. A noite para dormir e o dia para trabalhar… em horas perfeitamente definidas pelo movimento de rotação da terra, dia após dia…

Ora, naquele local tudo funciona em torno daquele eco-sistema específico. Invulgarmente tudo. E de forma bem diferente da nossa.

As marés ditam as horas para viver e trabalhar e as marés não cumprem um horário certo. Variam de dia para dia. É na maré vaza que as populações das aldeias vizinhas podem atravessar o mar e deslocar-se para o trabalho. Pode ser às quatro horas da manhã ou às duas ou às seis…

É na maré vaza que podem pescar ou apanhar marisco na praia, sustendo da sua alimentação e turismo… era na maré cheia que o catamarã podia levar-nos à ilha das conchas…

Naquele local o sol não é o regulador maior da actividade humana… é a conjugação da luz e da maré que regulam a actividade das pessoas. O relógio, naquela região, é um instrumento sem qualquer utilidade.

O Sol, naquele local, nasce no mar…

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No varandim exterior da cabana existia um acesso ao mar. De manhã, logo pelas seis horas, já estava de óculos de mergulho e barbatanas à procura de bicharada marinha… centenas de peixes faziam da estrutura da cabana, a sua própria casa.

Quando descia pelas escadinhas vinham todos ter comigo a pinicar as pernas… passou por mim a tartaruga Squirt totalmente cool e levava a Dory e o Marlin para surfar na corrente australiana... eu vi «yá bro»… não vi o Bruce, o tubarão, infelizmente; enfim, filmes e coisas de crianças que eu conheço de cor… vi o filme do Nemo com os meus filhotes umas cinquenta vezes… sem contar as vezes que adormeci.

 

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Agarrados à estrutura de madeira podia ver-se milhares de búzios e caracóis de água e caranguejos e outros bichos de concha esquisitos, uns grandes outros pequenos. Todos eles mexiam… era engraçado ver os búzios a fugir.

 

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Achei curioso estarmos dentro da cabana e, mesmo assim, podermos ver por entre as tabuas de madeira do chão, a água a correr… na casa de banho o espaço entre as tabuas ainda era maior…

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A uns quarenta metros do quarto, mar adentro, podia ver-se uma pequena ilha. Pequena na maré alta e enorme na maré vaza… não ficaria bem comigo próprio se não vencesse a corrente que se fazia sentir quando a maré estava a vazar e chegar à ilha.

Na primeira tentativa esgotei-me fisicamente e fui parar, empurrado pela corrente, bem mais abaixo. Na segunda tentativa, equipado com óculos de mergulho e barbatanas, comecei mais acima e ao mesmo tempo que ia sendo levado pela corrente nadava em direção à ilha, numa linha crescentemente enviesada… resumindo, apliquei o teorema de Pitágoras, fiz a hipotenusa em vez de fazer o cateto.

A mary venceu o receio e também nadou… com óculos de mergulho, nadamos por baixo das cabanas e dos passadiços… afinal não havia qualquer perigo… até ela ter visto uma anémona.

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Eu não vi nenhuma, mas senti umas picaditas pelo corpo. Nada de especial. Picam-me sempre, já estou habituado; em angola há uns meses, mal cheguei à praia dirigi-me para o mar. O mar estava maravilhoso, sem ninguém. Ninguém mesmo. Um mar só para mim. Entrei logo de cabeça e senti uma picada e depois outra e outra ainda… nas orelhas, nas pernas, nos lábios, em todo corpo…resolvi sair pensando tratar-se de um químico tóxico qualquer… e verifiquei que estava toda a gente na praia a olhar para mim.

Um cinema grátis. Um idiota a tomar banho num mar infestado de anémonas ou caravelas portuguesas…

 

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Anyway, a noite naquele lugar, naquela cabana é mágica… desliguei todos os aparelhos eléctricos, o frigorifico e o ar-condicionado… o som da água a correr por baixo de nós é celestial.

Ao longe ainda podíamos ouvir chapadas nas águas que os pescadores iam dando, uma qualquer técnica de pesca, na mais profunda noite.

 

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(continua)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Out of Africa… Moçambique… Maputo II

A noite estava quente… o avião da TAP acabava de aterrar em Maputo. A mary iria gostar de, novamente, sentir o ambiente de africa… aquela lufada de ar quente à saída do avião sabe bem. A Zambia e as cataratas de Livingstone tinham sido uma aventura tremenda, daquelas que guardaremos na memoria para a eternidade.
Africa tem destas coisas… é um continente de uma magnanimidade e diversidade impar no mundo. O potencial para a aventura é ilimitado. Falta-me conhecer o Seringueti no Kenya e na Tanzânia, o Krugger park na Africa do Sul, a Namíbia, as Seicheles, o Zimbabwe…
Domingo de manhã… resolvemos conhecer a parte norte, a parte sul e o interior de Maputo…
A baixa da cidade foi o nosso primeiro destino, não sem antes conhecer o Jardim dos Namorados nas imediações do Polana e a Igreja de S. António, um enorme espremedor de laranjas…
 
Conhecer a estação de caminhos de ferro, revisitar o mercado, entrar na principal igreja de Maputo… passear no Jardim Botânico, sentir o ambiente da zona alta da cidade aonde se situa o hotel Cardoso e o museu de história natural… sem esquecer de visitar a zona das praias de Maputo e o mercado do peixe…
Se tempo tivéssemos ainda poderíamos conhecer a paradisíaca ilha de Innhaca, que se situa em pleno Índico mar adentro em frente à cidade  e aonde ficam alguns dos melhores resorts de Maputo. De avioneta demorar-se-ia uns 45 minutos, mas de barco, diziam, eram umas três horas…
Enfim, a agenda já estava cheia e ainda nem tínhamos começado. Na verdade é impossível conhecer Moçambique sem reservar, pelo menos, uns quinze dias.
A Chopela foi o meio de transporte escolhido. Circulando junto à marginal instruí o motorista para nos levar à estação de comboios…
     
… no regresso paramos no centro, bem perto da igreja…
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Tenho a lamentar o facto de ter perdido grande parte das fotografias… uma operação de cópia de ficheiro para a memória do cartão do telefone/camera apagou misteriosamente parte substancial dos arquivos… não é fácil fotografar em africa com um telemóvel. Há fotografias que nem tiro porque sei de antemão que não vai resultar. Não há condições técnicas adequadas à dimensão dos espaços, a porra do meu telemóvel não alcança o substrato, a essência da realidade. E as que apanhou desapareceram…
Há maquinas fotográficas que quase revelam o cheiro nas imagens… esta minha, não revela nada, quando muito exala cheiros que a própria realidade não tem. Uma maquina fotográfica não é apenas uma máquina. Uma boa máquina desperta em nós a curiosidade de ver mais e de ir mais além. Apanhar o inesperado e registar a imagem logo a seguir aquela curva e aquela-outra também… embora eu já tenha esse espírito.
Na semana passada coloquei uma carta nos correios de Luanda. Estes serviços funcionam mal. Basicamente não existe correio, lá deve escapar e seguir viagem uma ou outra cartita… e eu queria tanto que esta pudesse chegar à Lapónia.

Enfim, tenho o que tenho e o que tenho captou isto… a casa de Ferro aonde morava o governador… uma casa original da qual apenas tenho esta fotografia…
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… e o Jardim Botânico de Maputo…
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Este Jardim é bonito e exótico… as árvores abaixo estavam repletas  de morcegos enormes, só mesmo com a NIKON que mencionei na referida carta…

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Guardamos o dia seguinte para visitar o Museu Natural, um edifício arquitetonicamente deslumbrante aonde estão expostos todos os tipos de animais (embalsamados) de Moçambique…

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… uma visita ao forte de Maputo terminou o dia…
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