sábado, 23 de agosto de 2008

Sei que não vou por aí...

Muitos pensadores acreditam que a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la…
Tenho o enorme defeito de ser uma pessoa que tem dúvidas permanentes em relação ás coisas… pensamentos, ideias… incomoda-me apenas não conseguir sentir o que não é demonstrável, e não o contrário… aceito a vida como ela é… nascer, viver e morrer.
Verifiquei em Luanda, que as religiões dos mais diversos credos proliferam de uma forma assustadora… vejo dezenas e dezenas de igrejas espalhadas pela cidade, algumas nem conhecia… é a do reino de deus, adventistas sétimo dia, ismaelitas, católica, maná, etc., etc., etc., a primeira é um monumento enorme, imponente e cheio de gente… é a festa da crença, passo em frente e vejo todos de braços no ar a louvar o seu deus.
Habito numa casa cuja grande maioria das pessoas é muçulmana; acreditam no ‘bom profeta’ Jesus e no não menos bom profeta Maomé que deu origem á sua crença… para eles, ambos profetas são seres humanos, com capacidades extraordinárias, porém não os consideram divindades.
Pelo contrário, os cristãos, ficaram a achar, depois do concilio de cardeais no quarto século, que Jesus não fora criado, mas sim gerado por deus. Os ânimos nesse concílio estavam exaltados, e os cardeais empatavam na votação para aprovar tal afirmação. Decidiu então o imperador Constantino por ordem na casa.
Ficou então decidido, não sei a troco de quê, que Jesus tinha afinal sido gerado, mas não criado e consubstancial ao pai. Foi então a partir da influência de Constantino que Jesus passou a ser da mesma substancia de deus. Constantino adoptou os cristãos e fê-los ter lugar destacado no seu império… e assim começou a cristandade. Constantino, grande guerreiro, teve uma visão ou um sonho… venceria uma batalha muito importante sob o signo da cruz… e portanto por razões bem mais mundanas do que celestiais… mandou colocar o símbolo da cruz no seu exercito e chacinou o inimigo.
Como a coisa deu certo, e porque ‘em equipa que ganha não se mexe’ Constantino colocou a até então seita cristã em lugar de destaque social.
Estas pessoas que habitam a casa são influentes e importantes na sua religião ao mais alto nível. Eu “que nunca principio nem acabo” gosto do tema… e não raras vezes troco com eles impressões acerca de assuntos religiosos. Como tiveram educação portuguesa, nomeadamente religião e moral, conhecem os fundamentos do cristianismo. Um deles acredita que Maomé é digamos… o espírito encarnado de Jesus; porque não, pensei.
Têm os mesmos preceitos morais que os cristãos, nada os diferencia… seguem uma linha que os distingue das outras correntes muçulmanas… dizem que Aga khan, o líder religioso (papa), é descendente de Maomé e aquele esteve á cerca de um mês em Lisboa e foi recebido por Cavaco Silva.
Eu ouço, leio, informo-me mas raramente me dou por convencido, nestes assuntos.
A grande diferença entre nós, humanos, e os restantes animais está na dimensão utilizável do cérebro; este, ao longo dos milénios, tem vindo a crescer, o que resultou numa inteligência superior aos restantes animais.
Perguntei, certo dia, a um importante membro da igreja que diferença biológica existe entre um macaco e um homem? Concordamos que seria a capacidade cerebral. Tornei a perguntar-lhe qual a diferença entre os dois seres a outro nível, que não o biológico? Respondeu-me com a existência de alma no ser humano e a inexistência da mesma no animal.
Isto levou-me a pensar… a pensar que a alma existe com o aparecimento da inteligência a um determinado nível… uma inteligência inferior á nossa, e a alma não tem condições de existir…será isso possível?
Bom, há muitos milhões de anos não tinha-mos a inteligência actual, e nessa linha de pensamento, não tínhamos alma. Na verdade não passávamos de meros macacos.
Com a evolução e o aumento da inteligência criaram-se então condições para a alma aparecer.
Isto far-me-ia acreditar, a ser verdade, que existem vários níveis de alma; a alma de seres inteligentes, mas pouco, as dos seres médiamente inteligentes e assim sucessivamente até chegarmos á alma perfeita, isto é, a alma será equivalente e proporcional á inteligência.
Mas eu tenho sérias dúvidas… e “não vou por aí…”; e se dúvidas tenho, não acredito honestamente, ou tenho fundadas dúvidas, que a alma ‘apareça’ assim… tão-pouco, que a mesma apareça… e perdoem-me os colegas de casa.
Eis o paradoxo do absurdo da vida… a esperança, a crença, a fé. Ter estes saudáveis atributos implica simplesmente sentir como verdadeiro o que não é demonstrável. Será isso possível… talvez… muita gente diz ter aqueles atributos, uns mais alienados que outros, outros sim por firme convicção, outros porque nasceram assim e nada questionam, vão sempre por onde lhes dizem para ir, outros ainda por simples receio.
Mas eu não consigo aceitar… “…se ao que busco saber nenhum de vós responde por que me repetis: vem por aqui!"?
Confesso-me incomodado; esta minha forma de ser incomoda-me. Apetece-me quase sempre simplesmente não ser assim. Acredito que ter fé em Algo é ser o oposto do que na realidade eu sou. Preferia ter nascido sem dúvidas, ou até nem questionar estas temáticas… mas não, assolam-me estas ideias repetidamente, e o facto é que “nunca vou por ali...”.
Faltar-me-á humildade, simplicidade… muito provavelmente… mas se uma réstia de dúvida subsiste, por mais pequena que seja, não posso, em nome da verdade, afirmar isto ou aquilo.
Há já muito tempo que tenho vindo a ‘separar o trigo do joio’… deus da religião; a minha busca centra-se agora no primeiro, o joio é incompatível com o meu cérebro.
Independentemente do conteúdo e da mensagem de paz que as religiões em geral encerram a falta de rigor histórico a par das inúmeras contradições, erros, omissões e adulterações que alguns escritos evidenciam, fizeram com que tecnicamente me considere (a)religioso, agnóstico ou outra qualquer definição similar, busco apenas a causa das coisas, necessito de obter coerência e não tenho encontrado, bem pelo contrário. Não, não adianta dizer que as forças do mal isto ou aquilo… que nos fazem querer… fico absolutamente na mesma… são meras palavras.
Por outro lado não me surpreende a incoerência histórica das religiões, em nada… são constituídas por homens… têm uma administração económica, têm objectivos traçados de evangelização, os cargos são ocupados por pessoas… que naturalmente têm desejos, ambições, nasceram de um ventre de uma mãe, tiveram amigos, tiveram namoricos, gostam disto ou daquilo… é normal.
Desde há algumas centenas de anos que as diversas igrejas têm vindo a melhorar substancialmente, já não assassinam em nome da evangelização, já não acrescentam documentos tidos por divinos… ou inspiração, não, hoje precisam muito mais do que meras palavras. A ciência não perdoa. Mas o medo ainda resulta…
Mas estas organizações religiosas tem um lado muito positivo… e até certa medida indispensável; se é certo que os principais mentores são ou foram de todo exequeráveis, e servem tudo menos O que apregoam, e já o provaram na história, os restantes colaboradores, ou a grande maioria deles, são pessoas bem intencionadas, com objectivos de ajuda ao próximo notáveis. Veja-se os padres, as freiras, os missionários, as misericórdias, alguns profetas, grande parte pessoas boas e honestas, que querem efectivamente, por pura convicção e boa-fé, estabelecer a ajuda ao próximo de acordo com os preceitos morais da sua religião.
Mas eu… nunca dou por certo o que essas instituições dizem; nunca. Tenho o defeito de precisar de muito mais do que palavras.
Defino-me na minha essência como alguém exterior a qualquer religião existente mas partilho os valores morais, de quase todas. Acredito numa força, num movimento racional, amoral, tendente ao equilíbrio físico das coisas. Acredito no tempo, na escala, na relatividade. O inicio dos inícios, não sei… terá sido um deus? Uma força? Nunca iremos saber… não entendemos a abstracção da expressão… infinito.
Vamos eliminando teorias e algumas crenças de outrora, a ciência encarrega-se disso. Vai justificando racionalmente as coisas; começamos a observar que o início de tudo não está aqui na terra… já existia universo antes de nós; chegamos já a convicções de que o inicio das coisas aconteceram há quinze mil milhões de anos… uma explosão primordial que deu origem a este universo. A terra já não é o centro do universo… o sol já não gira á volta da terra… o tempo já não é absoluto… a procura de deus está a colocá-Lo no Seu devido lugar… no infinito… sem inicio… sem fim…
Várias pessoas perguntam… o que é que existia antes deste universo, antes da grande explosão… é um conceito que não se coloca, pois o tempo não existia… e não existindo tempo… não existia ‘antes’. Complicado? Lógico porém.
Nos próximos dias (10 setembro) novas experiências vão ser efectuadas no C.E.R.N.; vão replicar o big bang no acelerador de partículas, a maior maquina do mundo com cerca de 30 km de raio; espera-se esta experiência há 50 anos. Vamos obter daquela experiência novos dados, que permitem conhecer o processo de desenvolvimento pós big bang.
Eu acredito que se temos inteligência, se deus nos deu, ou terá dado, esta capacidade, a mesma servirá O seu melhor propósito se corresponder-mos ás Suas eventuais expectativas… procurar inteligentemente o deus verdadeiro.
Penso várias vezes que havendo um deus, este deverá estar de certa forma desapontado com a humanidade, uma vez que esta, tendo lhe sido dada inteligência, mesmo assim, substituiu-O por outro ou outros, inventado em concílios das mais diversas religiões, em escritos duvidosos… enfim Projectado pelas fraquezas e ambições dos homens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Simplesmente genial!
A mim conforta-me acreditar que há um Deus,entidade superiora e gestora das forças do Bem.Acredito, também que existem as forças do Mal:qual Yng e Yang,o polo negativo e o positivo, o dia e a noite,o homem e a mulher,os sucessivos e eternos ciclos que experienciamos.Parece-me, contudo, que temos uma certa tendência para substimar o Mal(o até lhe deve dar um jeitaço!).
Pensa,pois,querido mano,que paradoxal é esta questão!
E se mudarmos as peças do xadrez:o mundo foi criado por uma terrível entidade malévola!Não será igualmente estranho?Continuamos o assunto later!Afinal quem gostama desta abordagem era o dad, nos bons velhos tempos...Agora ele já saberá mais do que nós...Será?!Xi-coração.

BibaRita disse...

Cardo... thanks for the comment... soube bem pa caraças ;)