domingo, 27 de novembro de 2011

O mistério do prego caído… padre zé.

 

«Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...»

Fernando Pessoa

 

Braveheart (Bh) – Então Ricardo que fazes aí tão concentrado?

Ricardo (Rb) - Ahh, Braveheart, estou a ler uma cena interessante nos escritos de Fernando Pessoa.

Bh – O quê?

Rb – Um texto acerca da liberdade… ora vê.

Bh – Epá, Ricardo, isso é interessante, mas Fernando Pessoa não intuiu bem a coisa…

Rb -  Qual coisa?

Bh -  A coisa acerca de Jesus Cristo não perceber nada de finanças.

Rb – Achas que percebia?

Bh – Acho. A sério, fez-se-me luz agora que li esse texto, Cristo afinal de contas percebia muito de finanças pá. Vê bem, Cristo deu o exemplo, para memória futura, nas bodas de Canaã... inflacionou o vinho e o pão quando estes acabaram...

Rb – ehehe ganda maluco Braveheart. Que ideia!

Bh – Claro meu, vê bem, ele não disse aos convidados para beberem menos ou comerem menos, nem para comerem apenas uns e beberem outros; quer dizer, se o dissesse não havia bodas mas sim um açambarcamento por parte de alguns e mal estar geral por parte de quase todos…

Rb – Não inventes Braveheart. Só faltava agora os padres começarem a associar ideias económicas dessas nas homilias…

Bh – Homilias, olha que boa ideia. Que boa parábola! vou telefonar já ao nosso irmão padre zé pró gajo falar sobre estas coisas na homilia de natal…

Bh: Alô zé, já conheces aquela?… que Cristo sabia de finanças quando inflacionou o vinho nas bodas?
Padre zé: O quê? Tens que vir cá no natal Braveheart, urgentemente, estás a precisar de pôr a cabeça em ordem.

Bh: Caraças pá, estou a falar a sério. Como é que Cristo resolveu a falta de vinho no casamento de Canaã? ahh? e a cena da falta de pão no monte das oliveiras? ahh?

: Fez o milagre da multiplicação do vinho. Mas não acrescentou água ao vinho pá; era isso que estavas a pensar, creio [não espero outra coisa de ti].

Bh: Não porra. Sabes que acredito em quase tudo Nele... mas ele sabia de finanças. A sério zé. Qual água no vinho qual quê!?... quer dizer, não sei, na volta botou água no vinho, mas, enfim, não é isso pá; o ponto é que Ele inflacionou o vinho, percebes?


: Tás maluco!? Ele gerou vinho. Acrescentou ao que não existia. Não esticou o vinho [nem lhe deitou agua]. Um milagre, portanto.
Bh: Pois é isso, gerou e nem precisou de o fabricar porque é Deus, mas ouve, não achas que isso tem uma certa semelhança com os dias de hoje!? quer dizer, o BCE – a imprimir notas – a inflacionar a massa monetária – a poder satisfazer os países pobres. Ahh?

: Pá, ouve, Braveheart, desculpa lá, guarda essas teorias para as nossas sextas, tenho que preparar a missa; agora não tenho tempo.

Bh: Ó zé, vá lá, falas sempre nas mesmas cenas nesses teus discursos domingueiros. Ouve, aproveita, sobe ao púlpito e fala sobre a inflação do vinho, meu. Vou aí no natal ouvir-te e tudo.

: Não. Não me apareças na missa, que fico acabrunhado. Ou se apareces não me digas e senta-te lá ao fundo quietinho… e não levantas o braço, nem me acenes, muito menos faças aquela cara de riso quando levanto a taça do sangue de Cristo.
Bh: Ok, vou lá para o fundo, do lado direito e vou vestir-me de vermelho... vivo. 

: Epá, não. Queres que diga que Ele inflacionou o vinho, é isso?
Bh: É. Por agora chegava isso... depois, talvez, possas fazer do Exemplo a conduta a seguir pelo BCE e…

: Está bem pronto, vou dizer isso já neste domingo.
Bh: Estás a mentir-me.

: Eu não minto Braveheart, já sabes disso.
Bh: hmmm, então porque é que puseste herdade do perdigão no copo da celebração, quando dizias que aquilo era simbólico e o sangue de Cristo e não-sei mais-o-quê…

: São coisas diferentes, e depois foste tu que me ofereceste a garrafa. Achei que devia usa-la na melhor altura e em honra da melhor Coisa.
Bh: Pois pois zé. Percebo-te bem. Vê lá não inflaciones o perdigão na taça de celebração ao Senhor… e te esqueças de falar sobre a inflação do vinho feito Exemplo nas bodas de Canaã.

 

Bh – Bem, Ricardo, parece que convenci o nosso padre zé a falar sobre o assunto.

Rb –Nãaa. Não acredito, ele comprou essa estapafurdice?

Bh – Claro, não sabes Rb, são os pequenos exemplos que nos fazem ver a luz…

Rb – Ó Braveheart, ainda se intuísses que Ele percebia de Alquimia, porque transformou a água em vinho, agora, veres nisso um exemplo de boa governança e finança, parece-me, digamos, uma bocadinho coiso.

Bh – Pamordeus Ricardo, não estás a ver a coisa bem vista, vê bem, Ele é uma génio financeiro e…. aiii, porra, liga a luz, porque é que me deste um estalo?

Rb – Eu? não, não fiz nada, mas…

Bh – Fogo Ricardo, tiraste outra vez o prego da mão direita do crucifixo.

Rb – Não pá, deve ter caído… é cruz velha, sabes?

Bh – hummmm!

 

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

…incertos monstros feitos em pós de certezas

 

Não nasci em Braga no ano de 1963. Esta é a mais pura das verdades. Também não nasci nos cinco anos seguintes, nem em Braga, nem nos arredores. Aliás, nem sequer nasci em Braga.

Quem alvitra que nasci em Angola ou Moçambique, erra por um hemisfério de distância. De resto, enunciar aqui todas as localidades em que não nasci ocupar-me-ia por uns bons meses, correndo, ainda assim, o risco de não ser exaustivo. O certo é que era Outono, Outubro, dizem, e o sol estava prestes a finar.

Animado pela decadência do calhau celeste, predispus-me a contraria-lo, como sempre – a contrariar – e vir à luz, por obras dos ímpetos mais tardios do meu saudoso pai vindo das guerras além mares. Para o efeito, havia que ajuntar-me ao que ele somou e, finalmente, desembaraçar-me de minha santa mãe. Por via disso, sensivelmente nove meses depois, lá me apresentei eu à rampa de lançamento. Armado dos meus 3 quilos e qualquer coisa, fui duma audácia sem limites: lancei-me neste vale de lágrimas disposto a tudo. E, sobretudo, a vender caro o riso das sortes.

Desde então tem sido uma odisseia. Uma luta entre pares, eu e as sortes. Neste momento, aliás, navego entre a espada e a parede, bem no meio, entre a cruz e a caldeirinha e entre o Indico e o Atlântico num tormentoso cabo de incertezas.

Não há decisões fáceis quando a deriva é incerta. O certo é incerteza e o incerto a certeza que temos. Porém, o exemplo torna certa a coisa incerta e transforma a coisa incerta na certeza de a vencer. Por isso a luta é justa. As sortes são certas, mas o engenho é divino.

Eu vi-os, com os meus próprios olhos, prostrados nas montanhas do cabo, os incertos monstros feitos em pós de certezas que o nosso glorioso Bartolomeu Dias fez questão de me fazer ver…

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                                (Cabo da Boa Esperança)                                                                         (Cape Point)

 

… e são, enfim, esses pequenos grandes nadas feitos no exemplo dos gloriosos, que me dão certeza que não há incerteza que não possa ser vencida.

 

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

… as opções de Portugal…

 

Imaginemos o senhor “fulano de Tal”.

O azar persegue-o. Crivado de dívidas, com as finanças numa lástima e sem fontes de rendimentos, o abismo espreita-o, o desespero atormenta-o...

A pergunta é um daqueles problemas éticos e resume-se a isto:

Deve o sr. “Fulano de Tal”, para resolver o seu problema, com a maior urgência, correr a:
a) Suicidar-se?
b) Prostituir-se?
c) Vender-se? (O sangue, os órgãos, por exemplo)
d) Arrendar-se? (Para experiências científicas ou testes farmacêuticos)
e) Leiloar-se? (Em hasta pública)


Se qualquer uma das soluções é aberrante para o “sr. Fulano de Tal”, então porque não é aberrante para o vosso próprio país?

 

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Orgasmo Feminino… the origin and the legend

 

«Orgasmo Feminino: Continuamos sem saber para que serve» Jornal Público

«Cientistas afirmam ter localizado o ponto G das mulheres graças à ecografia» Jornal Público

 

Ricardo (Rb): Olha, ainda bem que chegaste, Braveheart, estava aqui a ler este artigo no jornal Público, acerca do orgasmo feminino. Estás m’a ver estes tipos, Braveheart, eles talvez precisem de uma alma caridosa que os elucide acerca destes assuntos.

Braveheart (Bh): São uns totós pá. Estudam a vida toda e, na verdade, não sabem como funcionam as coisas básicas. Olha, Rb, manda-lhes um email para os esclarecer.

Rb: Pois, até mandava, mas na realidade eu também não sei para que serve o orgasmo feminino.

Bh: Não sabes meu?

Rb: Pois, não sei bem, quer dizer percebo-o no homem. A mecânica do impulso. Mas na mulher, Braveheart, confesso, não sei. Para que serve, afinal de contas?

Bh: Caneco pá, tu também não sabes a origem do orgasmo feminino?

Rb: Pois, não sei.

Bh: Ok, não fiques vermelho, eu compreendo, a sério, afinal de contas eu sou o único que sabe a verdadeira estória acerca desse assunto.

Rb: Sabes?

Bh: Sei perfeitamente. Foi assunto que me interessou há uns anos e, como deves imaginar, não desisto enquanto não tiro as coisas a limpo. Naquela conversa que tive com S.Pedro, esclareci o assunto, lembras-te?

Rb: Sim lembro-me da conversa que TIVEMOS com S.Pedro, aliás até a publiquei aqui (clicai), mas não me lembro dessa parte…

Bh: Bem, pá, ouve, depois da nossa conversa com ele chamei-O à parte e, enfim, esclareci o assunto. Ele descreveu-me a Conversa Primordial que teve com Adão acerca do Orgasmo feminino… e foi assim, once upon a time:…


Deus: Dei-te uma mulher Adão e tu reclamas?
Adão: Pois Pá, mas ela não gosta de, enfim, de, enfim, Estás a ver, do acto de procriar.
Deus: Não gosta?
Adão: Não. faz-se de esquisita e foge. E eu já não tenho pernas para ela, raios. 
Deus: Faça-se então o Clítoris e mais o Ponto G.

Adão: Achas que isso resolve? Vais lhe tirar as pernas para ela não fugir? o que é o ponto G meus Deus?
Deus: Resolve pois, pá, mas tens que te esforçar. O ponto G tens que ser tu a descobrir.

...

 
Adão: Eva, chega-te a mim faxabor.
Eva: Ohh Adão, nem imaginas, sinto-me diferente.

Adão: ai sim, atão que sentes?
Eva: Não sinto, já senti.

Adão: O quê?
Eva: Olha, nem imaginas, estava eu na cabana a dormitar e apareceram-me umas pessoas...

Adão: Uma pessoa? Mas nós estamos sozinhos no mundo, como é possível?
Eva:... não, pois, quer dizer, era um engenheiro do Senhor - o director de qualidade - aquele que verifica a conformidade das obras da criação e atesta a ISO da Criação.

Adão: hummm e como se chamava ele?
Eva: Ele não, eram eles, eram dois. Um engenheiro e um arquitecto do Senhor.

Adão: Porra, como se chamavam os tipos?
Eva: José Maria e Luís Miguel.

Adão: E o que é que os cabrões queriam?

Eva: Testar um novo invento do Senhor a ver se funcionava bem.

Adão: ai ai caraças, que invento?
Eva: Não sei bem, mas o engenheiro disseque estava a funcionar na perfeição.

Adão: Como assim?

Eva: Olha, eles fizeram qualquer coisa aqui em baixo e deu-me para chorar de alegria. Parecia que tinha levado uma descarga eléctrica.

Adão: O que é isso de descarga eléctrica?
Eva: Não sei, mas eles disseram que a descarga se verificou. Um deles testou e o outro mediu a descarga como o dedo.

Adão: Ai os filhos da p..., quem foi o que testou mesmo?
Eva: Bem, Adão, na verdade depois eles trocaram para reverificar o sucesso do invento do Senhor.

Adão: E então, também tiveram sucesso à segunda?

Eva: A intensidade da descarga já não foi a mesma aqui à frente, mas outra coisa aconteceu que me estremeceu.

Adão: O quê?
Eva: Não sei, mas quando gritei eles disseram que o ponto G também estava em conformidade.

Adão: Bem, vamos lá testar isso outra vez...

Eva: Agora não Adão, que me dói a cabeça.

….

Adão: Senhor, não podes fazer qualquer coisa para as dores de cabeça?

Rb: Fogo Braveheart, afinal foi desta forma que se instituiu o orgasmo na mulher. Ele há coisas do Diabo, quer dizer, de Deus. Mas fiquei curioso, o que é que Ele arranjou para as dores de cabeça da Eva?

Bh: Não sei pá. O Gajo já estava a sair e balburreou umas palavras de longe e eu só consegui ouvir excertos assim do tipo… fazer a cama… lavar a loiça… levar o lixo… tirar a mesa… enfim, pá, coisas sem nexo nenhum.

 

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Modernidade…

 

Não sei bem se é defeito meu. Talvez seja. Mas há coisas para as quais não tenho pachorra. É verdade. Há coisas que me irritam tão profundamente… coisas menores, ainda assim, vampirizam-me o bem estar.

Não me refiro ao transito; para esse mal, encontrei um antídoto eficaz que faz de mim, para a maioria dos angolanos que me vê passar, um verdadeiro maluco dentro de um carro. Gesticulo, esbracejo, abano a cabeça e reviro os olhos, como um verdadeiro maestro, e embalo-me na estória da melhor música jamais realizada – Mozart, a sinfonia nº41 ‘Júpiter’ – um assombro. Ou essa ou aquela heavy dos Rammstein – Du Reisht; a intensidade é semelhante.

Mas enfim, na verdade, a irritação advém de outro lado. Da modernidade. Esta modernidade de se estar a falar com alguém e esse alguém nos dizer que está bem que pode ser mas que lhe mande um email com o que acabei de lhe dizer e que depois falamos.

Irrito-me. Melhor, fico solenemente irritado. Sou assim, não há volta a dar. Principalmente quando estamos a falar com alguém e, de repente, ouvimos esse alguém a levantar um tijolo, coloca-lo ao ouvido, e a pedir implicitamente, senão mesmo gestualmente, que me cale, que o outro que está do outro lado (também ele com um tijolo) tem precedência relativamente à minha pessoa. Por uns tempos acreditei ser uma precedência derivado à urgência, mas acabo hoje por achar que é mesmo uma procedência sobre a ética.

Irrita-me também, já agora, a esse propósito, o síndrome do tijolo a tocar. Uma doença da modernidade que nos faz colocar a mão nos bolsos a ver se é o nosso tijolo ou se é tijolo alheio que geme. E paramos todos, param as conversas, para a reunião; os olhares e a atenção vão para se saber aquilo que é de facto importante, qual de nós é o dono do tijolo vibrante… quem é o pai da criança?

Irrita-me ainda muitíssimo mais, mesmo de forma doentia, quando recomeço a dizer - bem pá como estava a dizer… - e a porra do tijolo do escutante recomeça a vibrar. Não pá, atende lá, está à vontade, pode ser que seja eu a querer falar contigo (quase ninguém entende a subtileza, é estranho).

Depois irritam-me os emails dirigidos a mim mas com conhecimento de toda a gente da via láctea. Muito mais aqueles que não são dirigidos a mim mas aonde o meu nome é incluído no rol de testemunhas do que um quer dizer ao outro.

Portanto, vamos falar com alguém. Esse alguém a meio da conversa atende o tijolo. Quando consigo acabar de lhe dizer o que me levou a falar com ele, o gajo diz-me para enviar um email. Envio o email com os meus melhores cumprimentos (seco e lacónico) e ele acusa a recepção devolvendo cumprimentos sinceros. Envia-me outro email a dizer que não percebeu bem. E para que o universo saiba que ele não percebeu bem ou eu não me expliquei da melhor forma, envia uma cópia para o universo, para pessoas que eu próprio nem sei quem são.

Eu envio-lhe outro email a dizer que o enviado era sequencia da conversa que tínhamos tido. Ele responde que não se recorda bem do conteúdo (pudera). Eu replico que ele pode passar pelo gabinete que eu terei o prazer de lhe avivar a memória. Ele vem ao gabinete e mal entra vibra o tijolo e eu digo-lhe - vais atender ou queres que te explique o caralho do assunto que te trouxe aqui -.

Pronto irrita-me. Irrita-me mesmo quando põem o tijolo no silêncio. Vrrr Vrrrr Vrrrr espera aí Ricardo que tenho que responder a este gajo. Responde pá. E ele responde.

Agarrado ao tijolo, imprime uma velocidade nos dedos fantástica a escrever as mensagens; espanta-me aquele despacho; quando acaba, eu digo-lhe - dass pá tens dedos maravilhosamente ágeis, guarda-os bem, quando fores velho vão ser a tua arma -. Às senhoras não digo o mesmo, mas apetecia-me.

E responde alguém no universo - Vrrr Vrrr Vrrr - e replicam à resposta da resposta da pergunta inicial mais uma vez, com os dedos agarrados ao tijolo e olhar lunático preso ao ecrã. Mesmo quando o tijolo não geme, o lunático olha para ele e mexe-lhe. Bloqueado, Desbloqueado. Pim Pam. Flip Flop. Aceso, Apagado. Pisca pisca. Abre fecha. Para cima para baixo. On Off.

Eu observo. E parecem-me todos alienados. Às vezes dou comigo numa reunião aonde metade das pessoas estão a falar com o tijolo e a outra metade a olharem uns para os outros. Olham para cima, para baixo. O tempo está mudar. Alguns não resistem e também eles tiram o seu próprio tijolo, mesmo que ele não vibre, e olham para ele como o fazem os maluquinhos quando olham para o horizonte fixamente…

… outros fazem-no porque sentem apoio moral com o tijolo na mão, outros porque precisam do tijolo para fingir que estão ocupados, outros ainda para não ter que falar e revelar a sua própria essência. Eu sei lá.

Qual é o jogo que te absorve pá, digo. Ficam desconcertados. Jogo? Não era suposto ele estar absorvido com um jogo no meio de uma reunião em que metade das pessoas está com o tijolo no ouvido e a quase outra metade com o tijolo na mão. Era suposto ele estar a debitar, quando muito, mensagens e emails sobre coisas sérias… teorias sobre séries estatísticas, ou a despachar assuntos prementes.

Porque não a jogar? Ao menos quem joga tem algo de normal dentro do género da modernidade.

Pronto, está a jogar, não quer falar enquanto os outros falam com o tijolo, está no seu direito, mas também não está ali a disfarçar que faz qualquer coisa séria com o tijolo.

Portanto, enquanto os outros falam com o tijolo, das duas uma, ou estamos na presença pessoas do género humano para falar, ou tiramos o tijolo e com o som bem alto jogamos o tétris ou o golf o o space invaders… e quando todos acabarem de falar com os respectivos tijolos pedimos, com a devida calma, para esperarem um bocadinho que estamos quase a bater o record…

 

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pegasus, o meu cavalo alado…

 

… se todas as alternativas falhassem teria sempre o meu meio transporte preferido - Pegasus, o meu Cavalo Alado…

Convoquei-o com carácter de urgência, afinal de contas, vivemos variadíssimas aventuras em vidas passadas.

Os cancelamentos dos voos do pássaro de ferro da tap, nos exactos dois dias anteriores ao meu prometido, não estavam a inspirar-me confiança. À cautela mandei vir o meu amigo Pegasus…

Foi Pegasus que me ajudou, naqueles tempos, a regressar a casa. Tão heroica foi a sua ajuda que Zeus, reconhecendo-lhe o mérito, colocou-o, também a ele, numa constelação de nome PÉGASO.

Naquela altura fui para a guerra, um tanto contrariado. Desejava ficar em casa, junto à minha Mary Penélope e filhos, mas a princesa da Grécia solicitou a minha ajuda e, enfim, acabei por ir. Despedi-me de tudo o que mais estimava, mas parti nos meus navios para a guerra de troia.

Penélope era uma mulher muito linda, admirada e invejada até pela deusa Atena. A sua fama ultrapassava fronteiras e, um a um, fidalgos e príncipes das redondezas partiram para a minha casa, em Ítica, na esperança de conquistar o amor de Penélope. Eram todos arrogantes e e insolentes, deleitados com toda a sua riqueza. Foram para o meu palácio sem serem convidados e por lá ficaram; banqueteavam-se no meu salão e beberam os meus vinhos da adega. Foram hóspedes grosseiros e espalhafatosos.

 

 

Tudo isto foi-me relatado pelo meu amigo – Pegasus, o cavalo alado.

Tinham passado dez longos anos desde que sai de Ítica. Penélope, todos os dias, ao fim da tarde, sentava-se no cais e mirava longe o mar na esperança de me ver chegar.

A pressão dos príncipes era tremenda, exigiam que Penélope escolhesse um deles para marido. E tinha mesmo de ser assim naqueles tempos. Diziam-lhe que eu, Ulisses, estava morto, mas Penélope continuava, dia após dia, a visitar o cais de embarque…

A escolha do príncipe para marido tinha que ser feita. Era exigido que ela escolhesse um deles.

Disse-lhes então que escolheria um assim que terminasse de fiar o véu de linho que tinha no tear. Seria um véu para usar como mortalha para o pai, já idoso e doente. Concordaram.

Todos os dias Penélope sentava-se no tear e fiava com afinco a confecção do véu… e todas as noites desfazia o trançado dos fios que tinha fiado. Assim se passaram alguns meses, e um dos príncipes, desconfiado, observou Penélope quando esta desfazia o trabalho do dia anterior. Obrigaram-na a escolher um deles para marido logo no dia seguinte.

No dia seguinte, ao entardecer, o banquete foi servido, com muita comida, bebida, cantoria e festa. A certa altura os meus empregados começaram a retirar os meus escudos e espadas que estavam pendurados nas paredes… mas deixaram o meu velho Arco de flechas. Um arco construído de madeira especialmente rija, que Penélope fazia questão de o polir diariamente.

 

Foi nesta altura que Pegasus me trouxe. Vim vestido de mendigo, tinha os pés descalços e roupas esfarrapadas, mas o meu velho cão de caça, depois de todos aqueles anos, e já cego, ainda assim me reconheceu.

Entrei no salão e fui alvo de troça e zombaria. Os príncipes atiraram-me com pedaços de pão contra a cabeça exigindo que saísse. Naquele momento vi-a. A minha Penélope descia as escadas, imponente e bela, e deveria escolher um deles.

Ficaram em delírio. Penélope, por compaixão, mandou que me servissem uma refeição, um banho e que me propiciassem cuidados. Uma empregada que me lavava os pés reconheceu-me pela marca de uma cicatriz, com os olhos a brilhar manteve discrição.

Era tempo para a escolha. Penélope disse-lhes que colocaria a decisão nas mãos dos deuses. Apontou para o meu arco de flechas, dizendo que que só eu, Ulisses, era capaz de vergá-lo e que escolheria para marido aquele que demonstrasse maior habilidade no arremesso da flecha.

Todos tentaram. Eram 120 candidatos, entre fidalgos e príncipes. Nenhum conseguiu. Em tom de escárnio, um deles propôs que o mendigo (eu próprio, Ulisses) tentasse vergar o arco.

Levantei-me e, com andar hesitante, cruzei o salão. Peguei no arco e examinei-o, observei o material bem polido, bem conservado, como eu o tinha deixado. Riam e gozavam e ridicularizavam-me. De repente, transformei-me naquilo que realmente era, Ulisses. Sem esforço verguei o arco e arremessei uma flecha.

Assumi uma postura correcta, levantei o rosto, demonstrando que, mesmo vestido de trapos, era um rei de cabeça aos pés.

Penélope reconheceu-me imediatamente. Os pretendentes entraram em pânico tresloucado e tentaram fugir do salão. As minha flechas forma mais rápidas e certeiras; nenhuma delas errou o alvo. E gritei dizendo «vingo-me assim daqueles que tentam destruir o meu lar».

Penélope trouxe de seus aposentos um rolo de pano branco e macio, muito delicado e de imensa beleza, e disse: «É esse o véu, Ulisses. Prometi que no dia em que estivesse concluído, eu escolheria um marido; e escolho você».

 

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Prometeu foi libertado…

 

…TRÊS anos, o equivalente a 26.280 horas depois disto (clicai) e continuo firmemente a acalentar a esperança, repetida quase três dezenas de milhar de vezes, tantas quantas as horas aqui passadas, de me pôr a andar…

… dizem que a Esperança foi o ultimo dos Dons ou Virtude que permaneceu na Caixa de Pandora. Quer dizer, anteriormente ao surgimento da estória da Caixa de Pandora, na Ilíada de Homero, é descrita a exibição de duas Jarras na mansão de Zeus, no Olimpo, uma com todos os males e outra com todos os bens, as virtude e defeito potenciais da humanidade. Parece que as duas Jarras se fundiram posteriormente numa Caixa especial, que não devia ser aberta, denominada de Pandora, que continha todos os males e todos os bens com que Zeus poderia ‘presentear’ a humanidade. Aberta a Caixa de Pandora, fugiram e disseminaram-se então os males e os bens, mas permaneceu a virtude Esperança. Imagine-se, até a Coragem fugiu… até a Persistência desistiu.

Enfim, eram outros tempos, naqueles tempos não existiam obstáculos à permanência da Esperança. Não haviam Agências de Rating, nem Credit Default Swaps (acrónimo cds para seguros contra o risco de incumprimento dos títulos soberanos), nem mercados susceptíveis…

… a Esperança de Pandora tinha, pois, naqueles tempos, bons motivos para lá ficar, ao contrario dos dias de hoje.

 

Hoje, após este tempo de desterro, senti-me uma figura homérica… senti-me uma espécie de Prometeu. Até sonhei com isso. A sério!

 

Prometeu era filho dos deuses Úrano e de Gaia. Estranhamente a mãe era simultaneamente a avó, coisas aonde Eça se terá inspirado lá na casa do Ramalhete.

Zeus, o chefe de todos os deuses, incumbiu Prometeu e o irmão de criar a humanidade e animais em geral.

Foi assim atribuído a cada animal os dons variados de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça protegendo um terceiro, etc.

Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o do barro - hold on your wild horses, então não foi Jeová ou El ou que fez Adão por esse método? bolas. 

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-BEM já reparam que é a mão que me conduz, eu limito-me a segui-la, como diz Lobo Antunes… isto era para ser um POST acerca dos 3 anos em Angola, mas enfim, adiante, pode ser que ainda chega lá…-

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E porque é que Prometeu formou o Homem a partir do barro?

É simples, acabaram os recursos com a feitura dos animais, e enfim, fabricou-nos com o que encontrou mais à mão, o barro, que até era matéria moldável ao gosto da imaginação do Autor… o boneco saiu tão bom que, Prometeu, quis dar-lhe algo que fizesse a humanidade superior aos comuns animais… não, não me refiro às mulheres.

Prometeu, que era rapaz despachado, roubou então o Fogo dos deuses e deu-o aos homens. Terá entrado à socapa no quarto do papá Úrano, que dormia agarradinho a Gaia e pimbas, fanou o Fogo sagrado da lareira.

Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. O Fogo.

Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Pois é. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte, onde todos os dias uma Águia (embora os portuenses jurem que era um Dragão) dilacerava seu fígado que, todos os dias, se regenerava… ever and ever. Esse castigo devia durar 30.000 anos.

Uma porra de vida, a de Prometeu.

É precisamente aqui que Prometeu se parecia comigo no dito sonho -não pensem que me esqueci da comparação-.

Ele ficaria trinta mil anos naquele estado… eu, estou nas vinte e seis mil oitocentas e cinquenta horas, coisa semelhante, ligeiramente a meu favor em desgraça, se atendermos ao facto de Prometeu ser imortal e eu também não.

Não tenho águias ou dragões a debicarem o meu fígado, mas asseguro que me tiram coisas bem piores… algumas regeneram-se, outras nem por isso… adiante…

… anyway, Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicou-se a aventuras deste estilo. Yá, vou salvar gajos, disse ele.

No lugar de Prometeu, o centauro Quíron, o único rapaz bondoso da sua centáurea classe, deixou-se acorrentar no tal monte de nome Cáucaso, pois a substituição de Prometeu por alguém igualmente imortal era uma exigência para assegurar a sua libertação. Zeus exigia isso e não brincava em serviço.

Confesso que esta parte suou-me bem ao ouvido. Quem é que quer fazer de centauro Quíron para este vosso Prometeu?

Ok, eu sei, é chato ficar ali à espera, ser debicado na alma, mas, talvez sabendo do destino glorioso que vos espera, como Quíron afinal acabou por ter, alguém se ofereça voluntariamente, rogo.

… pois então, vejam, Quíron era imortal, mas foi atingido por uma seta especial de corrida que lhe estava a causar dores terríveis pela eternidade afora. Um martírio eterno. Não morria mas não suportava as dores.

Zeus prometeu a Prometeu (passo a redundância) que só podia ser salvo se algum imortal abdicasse da sua imortalidade de livre vontade.

Ora Quíron, estava em agonia com as dores das setas envenenadas e, aceitou prescindir da sua imortalidade em troca de paz na alma e no corpo. A ideia era acabar com as dores, mas tinha ao mesmo tempo que substituir Prometeu.

Caneco, ia ser debicado nos fígados pela Águia. Sem fígado, que o órgão já não se regenerava como suíra, não resistiu… paz à sua alma.

Não sei se sabiam, mas Aquiles foi discípulo de Quíron. Aquiles, o do calcanhar. Quando nasceu, a mãe de Aquiles seguro-o pelos calcanhares e mergulho-o nas águas do rio sagrado. Com esse banho ficaria imune às mazelas e ferimentos. E ficou, o rapaz era um colete de balas caminhante. O seu único ponto fraco eram os calcanhares, aonde a mãezinha  o segurou enquanto mergulhava nas águas sagradas. E foi nesse preciso local do corpinho que ele, Aquiles, sofreu um ataque. A coisa é engraçada. É que Prometeu tinha dito a Zeus, quando ainda não tinha roubado o fogo do deuses, que uma profecia rezava que o filho de Tétis seria maior do que o pai. Vai daí, Zeus e Posídon que gostavam da rapariga Tétis e andavam a corteja-la, ao serem lembrados da profecia desistiram de Tétis. Não fosse rebentar o preservativo e nascer uma criança com poderes superiores ao progenitor.

Como os potenciais pais se puseram ao fresco (Zeus e Posídon), Tétis arranjou uma alternativa para fecundar, de nome Peleu. E pronto nasceu Aquiles. Ora Tétis, que era mulher fina como um alho, e queria que Aquiles tivesse sido imortal, mergulhou o filho no rio para contornar a coisa.

Peleu, o pai de Aquiles, confiou então o filho a Quíron, o centauro, no monte Pélion, para lá ser criado.

O centauro encarregou-se da educação do jovem, alimentou-o com mel de abelhas, medula de ursos e de javalis e vísceras de leões. Ao mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contacto com a natureza; exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude.

Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, loiro, de olhos verdes, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência, parecido em tudo comigo próprio, mas não tanto.

Bom, mas Aquiles dá outra estória… back to my story, quem quiser ver Quíron pode fazê-lo facilmente… a sério! eu explico…

… Zeus apreciou o gesto de Quíron, vá-se lá saber porquê, e homenageou-o… colocando-o no céu…

… é verdade, colocou-o no céu como uma constelação que chamamos de Sagitário.  

Portanto, olhem para as estrelas sff e identifiquem o homem que se imortalizou na constelação… e aprendam com ele.

Eu aprendi. Aprendi que é preferível morrer de pé do que viver deitado.

 

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domingo, 26 de junho de 2011

Muxima…

 

 

Muxima, cabo ledo 377

 

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SAM_0439SAM_0521Muxima, cabo ledo 266 Muxima, cabo ledo 273Muxima, cabo ledo 282Muxima, cabo ledo 283  Muxima, cabo ledo 292Muxima, cabo ledo 293

Muxima, cabo ledo 305

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