quinta-feira, 19 de março de 2015

Dia dos pais

- Alô pai?
- então Caco, bons ouvidos te oiçam. A última vez que me ligaste foi...
- Eu sei, eu sei foi... mas penso em ti todos os dias.
- Hummm
- A sério pai. Consulta aí os anjos a ver se não é verdade. É, pois.
- Eu sei.
- pai, ando para te perguntar isto faz tempo.
- Diz lá.
- Como é isso por aí?
- Tu sabes que não posso revelar essas coisas.
- Épai, mas revela lá algumas coisinhas. Tem bolsa de valores e banqueiros e jogos de futebol; como se deslocam de um lado para o outro, voam, tem coches celestiais, tem moças bonitas, como é?
- Tem tudo isso. Movemo-nos por indução mental.
- Uau, e tens amigos ou andas sempre por aí sozinho a vaguear com o jornal debaixo do braço?
- Amigos e familia. Muitos. São almas com quem tivemos contacto quando andei por aí. Jornais também temos; e eu até tenho uma coluna no Celestial Post.
- A sério?
- Sim, a sério.
- De que falas nesses artigos?
- Discuto.
- Discutes o quê?
- Não discuto o quê. Discuto apenas. Há hábitos que não se perdem assim de repente.
- Pois. Bons bravos hábitos. Mas discutes com almas, como direi, de pessoal já falecido ou metes-te à discussão com hierarquias superiores?
- Como sabes?
- Não sei, estou a perguntar?
- Tive um diferendo com o Arcanjo Gabriel.
- Oh!
- Pois, eu sei, não devia. Ele priva com Deus e fui chamado à Sua presença por causa disso?
- E então, esclareceste que essa estória é apenas uma hábito terrestre e...
- Bem, ahhh, quer dizer, acabei a discutir com Deus.
- Uichhh, condenou-te?
-  Quase. Por milagre safei-me.
- Milagre de quem?
- Do teu filho primogénito, meu neto.
- Como assim, o Ricardinho que...?
- Sim, o rapaz ascendeu a altas esferas celestiais.
- Não!?
- É, tem funções de anjo advogado de defesa dos arcanjos.
- Ah meteste-lhe uma cunha então?
- Não é preciso. Eu vivo com ele desde sempre. Ensinei-lhe tudo o que sei sobre leis e códigos e ele tirou o curso com elevada classificação. Até o Diabo o sondou a ver se o recrutava para dirimir argumentos de posse do Paraíso.
- E ele, não aceitou?
- Não. Ele é o terror da litigação contra demónios.Nada o demove desse desiderato.
- E como é que o tentaram aliciar?
- Pela negativa. Esse foi o erro dos demónios.
- Como assim?
- Disseram-lhe que teria companhia da irmã se não aceitasse a oferta. Um logro.
- Filhos da...
- Pois. Mas ele não cedeu à chantagem.
- Isso. Mas essa postura significou infelizmente que a irmã lhe fez companhia,
- Sim, é um facto, sabes bem. Também cuido dela desde sempre, ara que saibas. Mas o teu filho tinha um plano maior para fazer o que fez.
- Sim, qual é esse plano?
- Assegurar-te mais dois.
- Fónix. Estou baralhado.
- Eu explico: O logro é que ela já viria na mesma por designios do Altissimo e o teu filho percebeu-lhes a artimanha.
- E fez com eles um acordo, com aval de Deus.
- Que acordo foi esse?
- Assegurar-te dois sublimes e maravilhosos filhos. As partes que podiam obstar ao seu nascimento foram enredadas no acordo que ele fez.
- Nem o Diabo, nem o Altissimo intervieram para prejudicar que pudessem ter éxito. O Mário e a Margarida.
- Estás  a brincar comigo, isso foi mesmo assim?
- Claro que foi. Até te digo mais, O Altissimo, que tudo pode, à socapa botou neles uma centelha especial. Serão dois anjos.

.

Sem comentários: