Os jactos modernos, para poupar combustível, voam muito alto. A paisagem costuma ser monótona, vendo-se quase sempre apenas a parte de cima das várias camadas de nuvens. Com um pouco de sorte encontramos algumas abertas que nos permitem espreitar o chão.
Na mudança de estação, há dias excepcionais, em que não se avista uma única nuvem assim que se cruza o Trópico. Tive a felicidade de, num destes dias sem nuvens, ver o deserto do Saara surgir da savana cada vez mais rala.
A primeira ideia que temos do deserto é a de paisagem monótona, como geralmente são retratados nos filmes. O Saara é tudo menos um mar de areia monótono. A cada centena de metros a cor do chão muda… muitas montanhas e ravinas seguidas de extensas planícies onde se adivinham leitos de rios, arbustos de onde em onde e pedras espalhadas segundo um padrão intrincado.
Apesar de não ser todo igual, é de tal maneira grande que somos incapazes de recordar muitos pormenores e tudo se confunde. Não encontramos grande diferença entre a areia fina e amarela do Senegal e o cascalho cinzento de certas partes dos Atlas. São diferentes, mas acabam por ser iguais por não os conseguirmos abarcar.
Talvez por isso, é estranho encontrar uma fronteira desenhada no deserto. Procuramos, debalde, razões que expliquem o traçado das fronteiras. Procuramos descortinar o que há de diferente entre um e outro lado da fronteira e, sinceramente, parece-nos que é tudo igual.
Lá em cima vemos claramente pequenas aldeias separadas por barreiras montanhosas… lá de cima desci mentalmente e visualizei aquelas gentes vestidas de túnicas pretas, com turbantes a proteger a cabeça dos malefícios do sol… ‘vi’ crianças com paus acajadados a dirigir pequenos rebanhos e mulheres com cântaros na cabeça e homens sentados em circulo a fumar nos cachimbos de água e a jogar damas.
No meio daquele deserto e entre varias formações montanhosas podemos observar planícies em tom acastanhado e seco a envolverem alguns pedaços gritantemente verdes.
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A chegada a Luanda já é coisa sem novidade… desta vez a novidade era o novo cais de chegada aonde cerca de 7 filas de pessoas enchem rapidamente a sala, mal abrem as portas do autocarro da gare.
Muitas caras cansadas fizeram fila para o controlo de passaportes. As filas, mais ou menos ordeiras, avançavam lentamente. De vez em quando alguém tentava furar o esquema e apresentar-se no controlo de passaportes diplomáticos ou de tripulações. Nem sempre eram recusados, apesar de terem de conversar um pouco a justificar a pressa.
Normalmente sou ‘comido’, mas desta vez fui o primeiro a chegar :), corri a todo gás e coloquei-me em frente a um dos guichés da alfandega, suspiro sempre de ansiedade… nunca se sabe o que nos poderão perguntar; desta vez era um fiscal porreiraço… mas a Web CAM não estava a reconhecer a minha cara… pousei para a fotografia vezes sem conta, e de cada vez esboçava o sorriso semelhante ao da foto do passaporte. É, isto também me acontece em Lisboa… quando entrava para aquelas maquinas electrónicas, fecham-se as portas e um tipo deve ficar imóvel esperar reconhecimento facial… pois bem, ficava sempre retido a gritar para me tirarem dali. Agora aprendi a táctica… sorrir… sim, sorrir para a camera dá resultado.
De volta a Luanda e imediatamente a seguir ao carimbo aplicado pelo funcionário vem o controlo à esquina. Por alguma razão, os serviços de estrangeiros acham que o controlo da validade dos vistos feito no computador é de qualidade inferior ao olhar de esguelha que lhe deitam ainda antes da tinta do carimbo secar.
Uma novidade a que já não estava habituado no novo terminal de chegadas é o controlo sanitário. O formulário destacável que era carimbado à entrada foi substituído pelo questionário universal da gripe suína entregue ainda no avião e pela apresentação do boletim de vacinas antes da recolha das malas. Como sempre as minhas malas são as últimas… uma hora e meia depois lá apareceu a porra da cana de pesca (de carbono), não sem antes dizer ao funcionário que lhe pagava um ‘café’ se o gajo me encontrasse a porra da cana de pesca rapidinho… remédio santo.
Ao cruzar a porta, fui brindado com um daqueles dias abafados que promete chuva mas sabemos que não vai cumprir. Luanda não é quente, mas tem dias em que nos sentimos cozer. Contra o corrimão acotovelavam-se centenas de pessoas a esticar o pescoço para a porta… mas antes temos que passar as malas, outra vez, pelo crivo de mais uns agentes da alfandega.
A grande novidade do novo terminal de chegadas é que a polícia conseguiu correr com os moços das bagagens que se agarram às malas dos incautos e as transportam em passo acelerado até ao carro sabendo perfeitamente que só as voltam a largar a troco de alguns kwanzas. Dentro do parque de estacionamento não se vêem, mas, perto das saídas, assim que o polícia vira costas entram logo a correr dois ou três para «servir» quem sai. Com sorte arranjam cliente, com azar, uma traulitada com o cassetete.
Na verdade, agora, é pacifico sair do aeroporto, não obstante insisti para que o motorista fosse ter comigo à portinha do aeroporto…
1 comentário:
Chegaste bem e brindaste-nos logo com um texto magnífico.
Agora já estás em contagem decrescente até ao Natal!!! Até lá!
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