domingo, 29 de novembro de 2009

fónix pá, isso é que eu quero…

Foi desta…
A ‘Ilha de Mussulo’ na realidade não é uma ilha… ou melhor, é uma ilha, mas não é… é uma espécie de ilha que, dependendo dos humores da lua e das marés, se transforma num península em certas e determinadas horas do dia.
Littlejohn and my self,  pelas 7:30h da manhã, traçamos um plano… atravessar a língua que liga à ilha que não é ilha de Mussulo. Uns trinta km depois de Luanda, rumo a sul, paramos para abastecer o nosso cavalo preto… aproveitamos para comprar barras de gelo num dos imensos barracos que por ali proliferam… disseram-nos que a casa pertencia a chineses; não estava lá ninguém…
‘ó xau xau lii… está alguém por aqui?’ eu berrei
Apareceu uma rapariga com aspecto oriental… que se dispôs a trazer umas barras grandes de gelo a troco de 250 kwanzas.
‘ és chinesa rapariga?’ eu perguntei enquanto metia-mos o gelo na geladeira.
‘não, sou vietnamita, do Vietname sabe?’ ela respondeu simpaticamente.
‘ o que é que faz aqui uma rapariga do Vietname?’ pensei
‘chefi chefi dá gasosa’ uns miúdos angolanos pediam
Na verdade, eles queriam era gasosa de verdade… tinham visto umas latas de refrigerantes na nossa geladeira; dê-mo-lhes uma coca-cola.
‘ahh os angolanos são assim mesmo’ a vietnamita dizia com ar de quem já os conhece bem e há muito tempo.
A rapariga era de baixa estatura, tinha as sobrancelhas pintadas de preto, magra e com feições exóticas… a julgar pelo sorriso constante na cara, pareceu contente de falar connosco, pareceu-me, ou melhor senti, que talvez ela não gostasse nada de estar ali… tomava conta de um barraco onde vendia gelo e ao mesmo tempo era um cyberponto, com muitos monitores de computadores… coisas de africa.
Uns cinco km mais à frente… a entrada para a língua que dá acesso à ilha de Mussulo; o caminho é todo em terra… e areia, muita areia…
 

Passamos por algumas aldeias e por inúmeros caminhos… do lado direito, mesmo ao lado do caminho podíamos ver o mar e mais ao fundo terra… do lado esquerdo areia, praias e mais mar… um oceano sem horizonte… no meio de um mar e outro, muitos coqueiros, palmeiras, e diversos tipos de arvores tropicais…
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Com alguma facilidade, subi até ao topo de um coqueiro da forma tradicional de o fazer… à macaco… o João apanhou-me já a descer…
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Sentia-mos que à medida que íamos avançando, o terreno ficava mais mole, com muito mais areia… o jipe já gania… aos saltos e afundanços, acabamos por ficar atolados no meio da areia… umas tentativas para a frente, outras para trás, uns paus, umas folhas nos rodados… e acabamos por sair.
Ao fim de cerca de 15 km pela ilha adentro, resolvemos não arriscar mais… a coisa começava a ser verdadeiramente imprópria para jipes modestos… apesar da mestria do condutor e das dicas do co-piloto, resolvemos voltar e rumar até outras paragens.
Mas gostei do ambiente e das praias e da vegetação…
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Cana de pesca na mala, resolvemos ir até uma praia enorme… as palmeirinhas, a uns 10 km depois de Mussulo; essa praia estende-se por dezenas de quilómetros, até ao miradouro da lua…
O dia estava escaldante…. e o mar  naquela praia estava bravo, demasiado arriscado para tomar banho…
Decidimos andar mais uns 40 km e ir até à baia de Sangano… e por lá ficamos a tarde a pescar e refrescar naquele mar lindo…
‘posso livá vocês ná mia chata… uichii… aí com a tua cána vai pescá muito’ disse um pescador e morador de sangano e continuou ‘tem muito peixe lá mais ao largu… raia, pargo, até moreia… tem pargo do meu tamanho’ ele afiançou.
‘ boa meu, dá-me o teu telefone… no próximo domingo estou cá… mas porra, pargos do teu tamanho’ eu perguntei
‘sim meu kamba, pargo grandji meismo… mais o teu fio parti, não dá… tem qui comprar fio di aço… eu ti levo na mia chata (barco de madeira) por umas três horas bem lá ao fundo no mar…50 dolar’ ele continuava
‘fónix pá, isso é que eu quero… mas isso é muito caro; ouve, pescamos os dois e depois vendemos e tu ficas com metade , descontas os 50 dolares e o resto é para mim… quer dizer, ganhas o dinheiro e ainda ficas com metade dos peixe’ eu negociava
‘certo chefi… com à tua cana vamus piscá muito…’ ele profetizou
‘eheheh… espectáculo pá… ás 8 horas estamos cá’
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domingo, 22 de novembro de 2009

um monstro marinho…



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(Peixe LUA… uns 7 kg… ou mais)

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

prendji o carro máteus…

«doutô doutô vem rápidu tão rébócando teu carro» ofegava o estafeta da empresa.
«fónix pá outra vez!!! $uta que par#u os gajos… quer dizer, dass lá prós merdas… tá bem já vou» eu disse com acentuada e relaxante pronuncia, enquanto sprintava até à rua.
«rápido doutô» diziam uns e outros, incentivando um sprint ainda mais veloz.
O Jipe lá estava em cima do reboque…
«bom dia sr. agente, o carro é meu… e estava só à espera que saísse um destes carros» eu disse
«tinha qui pô quatro pisca» ele esclareceu
«uiii e não pus?? épa ponho sempre, desta vez esqueci-me certamente» eu afiancei e continuei «olhe queria pagar a multa e evitar o reboque… pode ser?»
«podji… são 32.000 kwanzas (270€uros)» ele disse friamente.
«eiii sr. agente é muito… só tenho 5.000 kwanzas (40€) e depois…sabe… quer dizer…» eu ia argumentando.
«prendji o carro máteus, este veículo vai para a policia…» dizia um dos policias para outro, enquanto o outro me dizia baixinho «mitadi… 17.000 kwanzas»
«mítade? são portanto 8.500 kwanzas» eu dizia a fazer-me e de tótó.
«tchuu… não, mitadi de 32 mil são dizasseti… vá pidi lá na empresa» ele aconselhou.
«ahh, pronto amigo… tire lá o jipe, que eu vou ver se arranjo essa massa toda» eu rematei.
Pelo caminho chamei um funcionário da empresa angolano «pá vai lá baixo e negoceia melhor com os bófias… eles querem 17 mil, tenta baixar…» que eles a tugas inflacionam a coisa.
Bom, recolhido o dinheiro do caixa da empresa, separei em dois lotes, um de 10 mil e outro de 7 mil em cada bolso distinto.
Lá chegado novamente o funcionário fez-me sinal de aprovação… e eu tirei o maço de notas do bolso esquerdo e entreguei ao gajo… muito subtilmente.
ET VOILÁ… a viatura voltou ao sitio da qual nunca devia ter saído… da segunda fila de imensos veículos estacionados… sem que haja um parque de estacionamento sequer, para podermos ter alternativas.
O pior é que tem sido muito usual… na duas ultimas semanas já tive que inchar três vezes…
Agora também compreendo que ter um parque de estacionamento aqui não deve ser lá muito bom negócio, pelo menos os subterrâneos… é que o transito é tanto, as filas tão medonhas… que seria impossível sair do parque em menos de uma hora ou duas… não dava; e depois, pior do que isso, quando chove ficariam como a aldeia da luz.
Começa a ser um dia normal de trabalho em Luanda…

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

… prostituta madeirense…


A meio da década de 1960 surgiu a mini-saia no Reino Unido. Tal como o bikini vinte anos antes, foi uma revolução.
Em Luanda, apesar de se viver numa atmosfera menos conservadora que em Portugal, semelhante inovação também causou comoção.
Ouvi esta estória… que no Bairro Operário (BO), vivia uma prostituta madeirense que se tornou conhecida graças às suas mini-saias.
Certo dia, envergando a mais curta de todas, tão curta que pouco deixava para imaginar, desceu a avenida dos combatentes desde o BO até à mutamba, a cada passo mostrando as cuecas, cuja cor já se perdeu na memória… lamentei e indignei-me profundamente a este respeito… não saber a cor é como acender as luzes a meio do filme… mas enfim.
Chegada à mutamba, o polícia sinaleiro de serviço parou de apitar e desceu da peanha… dirigiu-se à senhora e prendeu-a, por causar embaraço ao trânsito. As centenas de basbaques que a tinham seguido estavam a entupir a rua…
Algumas semanas depois, as romarias ao BO para ir ver a mini-saia eram vulgares.
Mas depois a novidade deve ter passado, ou a concorrência aumentou e terminou com a fama da madeirense de mini-saia.
A história ainda foi colorida com uma eventual troca de galhardetes com o juiz, acerca da ‘facilidade da vida fácil’ com que foi descrita a profissão da senhora, mas por vezes torna-se difícil distinguir entre a pesca de jacarés com palitos e a realidade.

PS. Cá para mim, aposto que eram brancas às bolinhas pretas…

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… prostituta de jornal…


Eu já fui um daqueles optimistas que pensavam que pior que o guterres ou santana ou mesmo sampaio não era possível. Pois não só era como foi. E logo ao virar da esquina…
Agora não me apanham noutra. Sei que a seguir ao sócrates, poderá perfeitamente irromper um desqualificado ainda pior, um troca-tintas ainda mais descarado.
Por isso, e é mais que suficiente, não me surpreenderá nada que o passos coelho seja de novo o próximo PM.
Se se tratasse de escolher um cidadão competente, um tipo sério, honrado, bem mais interessado em servir o país do que servir-se dele, isso, acredito, seria difícil.
Requereria, no mínimo, mérito, inteligência, responsabilidade, cultura. E, sobretudo, empatia entre governantes e governados.
Mas como é o contrário disso, como a lógica vai de patas pró ar, nada mais simples… peguem na ferreira leite, no portas, no chico… peguem na pandilha partidária toda, esquerdas e direitas (a merda só varia na cor e teor gasoso), peguem até nos passos coelhos, aguiares brancos, dragos e joanas, ou outros rotos e ratos, ou qualquer outra prostituta de jornal, enfiem essa tralha invertebrada e viscosa toda num balde, um grande balde, um penico bem espaçoso (não se esqueçam que a porcaria é muita), agitem com energia, misturem bem a mixórdia… e tirem à sorte.
Convoquem uma peixeira ou um trolha para extrair o feliz contemplado, sempre dá colorido à coisa, confere, senão solenidade, pelo menos pitoresco ao acto, et voilá, aí tendes.
Seja quem for, é irrelevante e ficareis bem servidos.
Cagar-se-à para vós, tanto quanto vós vos estareis cagando para ele. Incomoda-vos o vocabulário? Mas a substância não... devia ser o contrário.
De não ser governado, o país viciou-se no desgoverno… vai à deriva. Entregue ao salve-se quem puder. A clamar por rebocadores, por barcos salva-vidas. A enviar SOS desesperados e apitos ao nevoeiro… a invocar d. sebastião, nossa senhora dos aflitos e a Providência Divina… e, o que é pior que o resto, a tomar por faróis meros fogaréus de afundadores.
O povo sempre estimou cadafalsos, muito mais do que arenas. Assim, anda quatro anos a reunir provas, a recolher denúncias, a compilar testemunhos, para no fim ter o prazer de vê-los rastejar… aos bandalhos.
Os eleitos, por seu turno, traumatizados por este martírio cíclico, garantido, nos intervalos dos sufrágios, nos intervalos dos calvários, vingam-se e fazem pagar com juros a prerrogativa dos carrascos.
E com isso, lá vão juntando lenha para a sua própria imolação. Mais que um projecto comum, é, pois, um jogo, uma joint-desventure… tudo está bem quando acaba mal.
E para que o gáudio se maximize convém que o mal seja cada vez maior.
Desta lógica retorcida, resulta um paradoxo mirabolante… um governo é tão mais divertido, entertainer, quanto pior for… um governo péssimo, como o actual, na hora do acerto, é garante dum gozo semelhante aos bobos da realeza… não é por acaso que a multidão escolhe governos cada vez piores.
Portanto, meus amigos, vai ser outro santana ou sócrates ou outro qualquer, no mínimo, tão recreativo quanto eles. Isto, pelo menos, eu sei.
Fartai-vos nele e fartai-vos dele, tendes ainda quatro anos de gozo. É o costume. Bom apetite! E bom proveito!...

(via dragão adaptado)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ultramar… 2009



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(little john, braveheart, padre-quiûra, john rambo)

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… e a minha crista lateralizada…

Há um qualquer chavão que se foi pirogravando ao longo do tempo que diz que, para se ter a vida preenchida um homem terá que escrever um livro, ter um filho e subir a uma montanha – ou algo do género independentemente da prioridade que o próprio assuma.
E sim, estejam à vontade para me relembrar quem foi a celebre criatura que o proferiu, a memoria não é o meu forte, embora tal não faça parte da lista das minhas prioridades, dado que a esta hora as ovelhas já saltaram a cerca há horas e no prado já não cabe mais nenhuma…
Mas enfim… assim a seco não lhe acho grande lógica ou satisfação absoluta. Afinal, tem aparecido gente muito contentinha e realizada na sua vida, sem ter filhos ou apetrechos de escalada e onde todos os seus escritos se resumem a assinaturas em cheques, ou por cima de carimbos nos rodapés de folhas A4.
Eu até já tive dois, filhos, claro... bom na verdade já tive mais. Já subi a várias montanhas e serras, algumas a pé e outras de mota, sem arnês anti-queda, chaves estrelas bloqueadores, cordas e grampos de escalada, e embora os Sherpa dos Himalaias ainda coabitem no meu imaginário, é melhor deixar-me de idiotices que nuvens a mais tenho eu… a 1,82mt, e a vida não me subsidia fantasias heróicas… mas temos pena, confesso.
Quanto ao livro, isso já é outra história…a minha falta de sei lá quê não me tem dado a mestria para escrever nem que seja um livro de bolso, embora nos últimos tempos tenha rabiscado umas balelas por aqui.
A verdade absoluta é que ando sem opiniões, a verdade é que não me tem apetecido opinar... e eu que era tão opinioso.
O cérebro ultimamente colapsou e filtra as opiniões como spams, palavras insidiosas que nos tolhem o silêncio. Eu limito-me a ouvir, quando oiço.
Ás vezes faço de conta que oiço e fixo o que me dizem para lá de lá do que está por detrás da boca que se move em esgares.
É estranho deixar de ouvir de repente e só ver as bochechas os olhos a ruga do nariz e da testa para cima e para baixo, e a boca a torcer-se à toa… e a minha crista lateralizada e a pena do rabo em riste projectada para o espaço carregado de iões de saudades dos meus…
Noite quente a de hoje… a carneirada esfomeada persiste em ficar do lado de lá da cerca… sinto-me um daqueles poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a noite estava fria… sinto uma saudade muito grande, uma saudade de PAI, e penso nela devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom… que me desculpem todas as outras pessoas da minha vida… a cor da crista já me permite ter estas lamechices sem preconceitos ou receios do ridículo e com o mesmo prazer com que o fiz no dia em que a vi e embalei pela primeira vez…
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

… sexta-feira 13…

 

Existem várias alternativas para a origem da ‘maldição’ atribuída ao dia 13 de uma qualquer sexta-feira do ano.

Maldição 1

A maldição da sexta-feira 13 tem a ver com o processo de cristianização dos povos bárbaros que invadiram a Europa no início do período medieval. Antes de se converterem à fé cristã, os escandinavos eram politeístas e tinham grande estima por Friga, deusa do amor e da beleza. Com o processo de conversão, passaram a amaldiçoa-la como uma bruxa que, toda sexta-feira, se reunia com onze feiticeiras e o demónio para rogar pragas contra a humanidade.

Maldição 2

Reforçando essa mesma crendice, outra história de origem nórdica fala sobre um grande banquete onde o deus Odin realizou a reunião de outras doze importantes divindades. Ofendido por não ter sido convidado para o evento, Loki, o deus da discórdia e do fogo, foi à reunião e promoveu uma enorme confusão que resultou na morte de Balder, uma das mais belas divindades conhecidas. Com isso, criou-se o mito de que um encontro com treze pessoas sempre termina mal.

Maldição 3

Outra possibilidade para esta crença está no fato de que Jesus Cristo provavelmente foi morto numa sexta-feira 13, uma vez que a Páscoa judaica é celebrada no dia 14 do mês de Nissan, no calendário hebraico.

Recorde-se ainda que na Santa Ceia sentaram-se à mesa treze pessoas, sendo que duas delas, Jesus e Judas Iscariotes, morreram em seguida, por mortes trágicas, Jesus por crucificação e Judas provavelmente por suicídio.

Maldição 4

Era Sexta-feira, 13 de Outubro de 1307. Um dia fatal para os Templários, e lembrado supersticiosamente ainda nos nossos dias como a azarenta ‘Sexta-feira 13’.

Ao fim da tarde desse dia, agentes do rei Filipe IV atacaram, e num assalto fulminante, acusaram e prenderam Templários por toda a França. A data tinha sido escolhida pela coincidência da visita à França de vários líderes Templários, incluindo o próprio Grande Mestre Jacques DeMolay.

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A estória de Jacques DeMolay e da maldição (concretizada) que ele proferiu ao Papa e ao Rei que o mandaram queimar é surpreendente e fantástica… mas isso fica para um próximo post… já a seguir.

A fabula… da tríade

Caros leitores,
Informo que quem quiser corromper o senhor primeiro ministro, o pode fazer tranquilamente, sem que possam ser usadas eventuais escutas; mais acrescento, que tal procedimento pode também ser usado para o senhor presidente da republica e presidente da assembleia da mesma infeliz republica.
Informo ainda que no decurso da chamada telefónica eventual que façam, para as pessoas titulares daqueles cargos, podem v.exas. ameaçar a vida dos mesmos, e até confessar outros crimes que tenham praticado ou pretendam praticar… nada disso será válido em tribunal.
Por outro lado, e a titulo de conselho (gratuito), apenas diria que, se eventualmente quiserem corromper e falar tranquilamente ao telefone com alguém que não seja uma daquelas três figuras, façam-no na mesma, não há qualquer problema… mas combinem usar os nomes das três figurinhas do estado; vejamos uma hipotética conversa entre ladrões:
« ó josé socrates então, quanto rendeu o assalto que fizemos ontem?»
«olha quem ele é… então jaime gama já acordas-te?  olha pá rendeu um milhão meu, mas temos que repartir também com o cavaco silva, yá?… encontra-mo-nos em Belém»
Para quê, portanto, corromper ou ameaçar as hierarquias intermédias do funcionalismo público, se podemos impunemente e com muito mais eficácia fazê-lo directamente com os Deuses padrinhos responsáveis máximos, ou mesmo simular que somos os próprios Deuses.

PS. (este texto é uma ficção… uma fábula da tríade… e os nomes dos Deuses das três figuras de estado são meramente indicativas e acessórias à construção da fábula… aliás, a insignificância do valor roubado é disso uma prova cabal… )

idade, idoneidade e honestidade… toma lá.

Nove da manhã… o dia adivinhava-se quente; dirigia-mo-nos para sul… o rendez-vous era no cais  de embarque, aonde estava o Rori já à espera no seu jimmy. A ideia era passarmos o dia na ilha de Mussulo e comer uma mariscada…
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A uns 500 metros do cais… Operação Stop…
«nã pá, os gajos desta vez não me vão mandar parar, sinto-me com a estrelinha da sorte...» eu afirmei confiante, dirigindo-me ao cláudio e ao joão.
«bom dia, seus dócumentus…» solicitou sua reverência, o sr. policia com uns 23 anitos.
Escrupulosamente analisados os papeis, chegou-se à conclusão que faltava o titulo de propriedade ou estava caducado.
«sinhô, vamos tê qui apreender à viátura… tem alguém para os virem ápanhá?» informou e perguntou sua reverência e continuou «à multa é dji vinte mil kwanza… si pagá agóra» ele disse.
«ei tanto dinheiro… não tenho esse dinheiro sr. agente; mas sim tenho alguém para nos vir buscar… o motorista da empresa» eu disse e continuei «aliás ele é que vai ter que pagar esta multa, uma vez que foi ele que se esqueceu de colocar os documentos na viatura…» eu cantei.
e continuei «agora, deixe cá ver, só tenho mesmo dois mil kwanzas… acha que podemos resolver a multa assim, sabe não tenho mais»
«ricardo, eu tenho aqui mais mil» ofereceu o cláudio, gentilmente.
«sr. agente aceite lá esta verba…que é tudo que temos» eu disse cordialmente e de forma extremamente respeitosa.
« é muito pouco… mas atendendo à… sua idade, idoneidade e honestidade eu vou fáciltá» ele disse metendo a mão, vestida com luva branca, bem dentro do jipe e amarrotando as notas lentamente na sua mão.
«tenha uma boa viagem» ele disse batendo a continência.
« sempre ao dispor sr. agente… é para isso mesmo que cá estamos» eu disse e pensei.
Na verdade, o que mais me intrigou o dia todo, foi ter sido salvo pela trindade ‘idade, idoneidade e honestidade’… por esta exacta ordem… eu, que me sinto uma criança plena de idoneidade e honestidade!
Bom, é certo que todos gostamos de um elogio bom e sincero, mas caramba… há dias em em que preferia que desconfiassem da minha honestidade… naquele dia, preferia ser um garoto, irresponsável e completamente desonesto.


Será que funciona?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Deserto do Saara…


Os jactos modernos, para poupar combustível, voam muito alto. A paisagem costuma ser monótona, vendo-se quase sempre apenas a parte de cima das várias camadas de nuvens. Com um pouco de sorte encontramos algumas abertas que nos permitem espreitar o chão.
Na mudança de estação, há dias excepcionais, em que não se avista uma única nuvem assim que se cruza o Trópico. Tive a felicidade de, num destes dias sem nuvens, ver o deserto do Saara surgir da savana cada vez mais rala.
A primeira ideia que temos do deserto é a de paisagem monótona, como geralmente são retratados nos filmes. O Saara é tudo menos um mar de areia monótono. A cada centena de metros a cor do chão muda… muitas montanhas e ravinas seguidas de extensas planícies onde se adivinham leitos de rios, arbustos de onde em onde e pedras espalhadas segundo um padrão intrincado.

Apesar de não ser todo igual, é de tal maneira grande que somos incapazes de recordar muitos pormenores e tudo se confunde. Não encontramos grande diferença entre a areia fina e amarela do Senegal e o cascalho cinzento de certas partes dos Atlas. São diferentes, mas acabam por ser iguais por não os conseguirmos abarcar.
Talvez por isso, é estranho encontrar uma fronteira desenhada no deserto. Procuramos, debalde, razões que expliquem o traçado das fronteiras. Procuramos descortinar o que há de diferente entre um e outro lado da fronteira e, sinceramente, parece-nos que é tudo igual.
Lá em cima vemos claramente pequenas aldeias separadas por barreiras montanhosas… lá de cima desci mentalmente e visualizei aquelas gentes vestidas de túnicas pretas, com turbantes a proteger a cabeça dos malefícios do sol… ‘vi’ crianças com paus acajadados a dirigir pequenos rebanhos e mulheres com cântaros na cabeça e homens sentados em circulo a fumar nos cachimbos de água e a jogar damas.
No meio daquele deserto e entre varias formações montanhosas podemos observar planícies em tom acastanhado e seco a envolverem alguns pedaços gritantemente verdes. 
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A chegada a Luanda já é coisa sem novidade… desta vez a novidade era o novo cais de chegada aonde cerca de 7  filas de pessoas enchem rapidamente a sala, mal abrem as portas do autocarro da gare.
Muitas caras cansadas fizeram fila para o controlo de passaportes. As filas, mais ou menos ordeiras, avançavam lentamente. De vez em quando alguém tentava furar o esquema e apresentar-se no controlo de passaportes diplomáticos ou de tripulações. Nem sempre eram recusados, apesar de terem de conversar um pouco a justificar a pressa.
Normalmente sou ‘comido’, mas desta vez fui o primeiro a chegar :), corri a todo gás e coloquei-me em frente a um dos guichés da alfandega, suspiro sempre de ansiedade… nunca se sabe o que nos poderão perguntar; desta vez era um fiscal porreiraço… mas a Web CAM não estava a reconhecer a minha cara… pousei para a fotografia vezes sem conta, e de cada vez esboçava o sorriso semelhante ao da foto do passaporte. É, isto também me acontece em Lisboa… quando entrava para aquelas maquinas electrónicas, fecham-se as portas e um tipo deve ficar imóvel esperar reconhecimento facial… pois bem, ficava sempre retido a gritar para me tirarem dali. Agora aprendi a táctica… sorrir… sim, sorrir para a camera dá resultado.
De volta a Luanda e imediatamente a seguir ao carimbo aplicado pelo funcionário vem o controlo à esquina. Por alguma razão, os serviços de estrangeiros acham que o controlo da validade dos vistos feito no computador é de qualidade inferior ao olhar de esguelha que lhe deitam ainda antes da tinta do carimbo secar.
Uma novidade a que já não estava habituado no novo terminal de chegadas é o controlo sanitário. O formulário destacável que era carimbado à entrada foi substituído pelo questionário universal da gripe suína entregue ainda no avião e pela apresentação do boletim de vacinas antes da recolha das malas. Como sempre as minhas malas são as últimas… uma hora e meia depois lá apareceu a porra da cana de pesca (de carbono), não sem antes dizer ao funcionário que lhe pagava um ‘café’ se o gajo me encontrasse a porra da cana de pesca rapidinho… remédio santo.
Ao cruzar a porta, fui brindado com um daqueles dias abafados que promete chuva mas sabemos que não vai cumprir. Luanda não é quente, mas tem dias em que nos sentimos cozer. Contra o corrimão acotovelavam-se centenas de pessoas a esticar o pescoço para a porta… mas antes temos que passar as malas, outra vez, pelo crivo de mais uns agentes da alfandega.
A grande novidade do novo terminal de chegadas é que a polícia conseguiu correr com os moços das bagagens que se agarram às malas dos incautos e as transportam em passo acelerado até ao carro sabendo perfeitamente que só as voltam a largar a troco de alguns kwanzas. Dentro do parque de estacionamento não se vêem, mas, perto das saídas, assim que o polícia vira costas entram logo a correr dois ou três para «servir» quem sai. Com sorte arranjam cliente, com azar, uma traulitada com o cassetete.
Na verdade, agora, é pacifico sair do aeroporto, não obstante insisti para que o motorista fosse ter comigo à portinha do aeroporto…