terça-feira, 4 de maio de 2010

O que se está a passar… dirigido a miúdos de dez anos…

Agora a ver se consigo, dar uma (vaga) ideia do que se está a passar em Portugal, num formato que toda a gente entenda… especialmente dirigido a miúdos com dez anos ou para quem não liga bola para essas cenas esquisitas da economia…
É que isto da Economia e das Finanças, a sério, não acreditem quando vos dizem que é complicadíssimo… só é complicadíssimo porque a malta que sabe mais da coisa gosta 1º de complicar e 2º que ninguém mais perceba para que 3º possa dizer uma data de asneiras sem ser apanhada pelo grande público.
E depois, não é uma ciência exacta, a Economia. Há correntes ideológicas, i.e., há gajos que pensam que se se puxar por aqui, rasga ali e outros que acham que, se se empurrar acoli, não rasga e fica mais firme… e o que a realidade nos tem dito é que, nuns casos funciona numas alturas, e noutros casos funciona noutras alturas e não funciona noutros casos e, basicamente é uma questão de, com grandes parangonas e palavras no mínimo esdrúxulas, se aplicar a teoria “agora a ver o que acontece se carregar neste botão”. Soa familiar? Pois claro que soa, a economia é igual ao resto.
Vamos lá por partes… e começar com o orçamento, as contas públicas e o défice, como se fosse a economia do lar… os pais dos meus caros leitores e leitoras trabalham e ganham, vamos supor, 1000 euros por mês. Entre contas da casa, dívidas com crédito à habitação e outros, colégios, roupa e mais aqueles sapatos e aquelas ferramentas (chinesas) ou jogos da playstation que temos mesmo que comprar, no final do mês gastam 1200 euros.
Uma chatice, hein? Temos aqui um buraco financeiro de 200 euros que, olha que giro, se chama défice. É a diferença negativa entre o que se ganha (a receita) e o que se gasta (a despesa). O Estado é igual, sendo que a receita vem por via de impostos e mais umas quantas merdas e gasta, quanto a mim, mais em pares de sapatos do que a pagar água e luz.
Bom, mas temos ali aqueles 200 euros para pagar e mesmo mudando de assunto e assobiando para o lado e deixando passar uns tempos a ver se alguém se esquece (que é o que o Estado mau pagador faz muitas vezes), a porcaria do défice continua lá.
Há que recorrer a alguém para nos emprestar aquele montante. Vamos supor então que recorremos ao CC (Cartão de Crédito) para pagar o tal buraco. A escolha é merdosa, claro, os juros do CC são bué de altos, mas é o que há… vai daí transformamos o défice em dívida externa. Porque ali no nosso caso é o CC, mas no caso do Estado, tem que ir buscar o cacau fora…
Pede emprestado a outros países para pagar a dívida presente e a maneira mais simples é emitir dívida pública, ou seja, emite uns papelinhos do Tesouro, chamados Títulos do Tesouro. A malta que vive na Aldeia Global compra aquilo, fica com os papelinhos e empresta o dinheiro. E o Estado lá equilibra as contas, mas fica com a dívida para pagar mais tarde.
No mês seguinte, o défice é de 300 euros, porque havia também um berbequim fantástico que o teu pai queria ou uma carteira giríssima para a tua mãe em saldos e quem diz uma carteira diz um CCB ou um TGV ou um Aeroporto ou um Hospital.
Lá emite o Estado mais dívida pública, mandando fazer mais papelinhos numa gráfica particular (a Imprensa Nacional)… e o défice agora é de 500 euros.
E no mês seguinte a coisa continua assim, no descalabro crescente… é como se vocês comprassem jogos na internet e para os pagar pudesses fazer uns papelinhos (sacando a assinatura dos teus pais) a quem os vende… pois, quando a conta chega aos teus pais, bem, o melhor é fugir de casa, não é? pois, quando se trata de um país passa-se o mesmo... os gajos do governo também basam…
Chega a uma certa altura e uma pessoa diz, porra, este saldo do CC, catano, fónix, nem que eu agora poupe em sapatos e ferramentas e na água e luz e mude de casa para uma mais pequena, não o vou conseguir pagar tão cedo… Ai meu Deus e agora? e enquanto se chora muito ou diz, ah e tal não quero saber, tá tudo bem, nem é nada comigo… nessa precisa altura o CC (cartão crédito) olha para aquela nossa continha do banco tão linda, tão alta e vê que aquela pessoa não só continua a ganhar 1000 euros e não faz grande coisa para poupar, como se calhar não vai pagar mesmo.
E o que é que faz? AUMENTA A TAXA DE JURO. Porque aumentou o risco.
Ok, quando estamos a falar do CC, na realidade não é mesmo o CC que pensa isso.
Faz de conta que há uns gajos que ganham a vida a olhar para quem deve e vão analisando as contas daquela pessoa e o comportamento em relação a tudo… se produz mais, se vai ganhar mais, se tem emprego estável, ou se a coisa está a ficar preta e se aquela pessoa não tem lá muitas condições de pagar…
E diz ao Visa, cuidado com o Fulano Tal, olha que se fartou de gastar em sapatos, não poupou um tusto, continua a aumentar o que deve e qualquer dia não paga.
E abota umas letrinhas à frente daquele nome… se é cinco estrelas e vai pagar tudo a tempo e horas, mete, vamos supor, três AAA. Mas se talvez pague talvez não, se calhar vai ter dificuldades já mete, sei lá, uma coisa assim mais parecida com dois BB. E depois ainda avisa se a coisa está estável, se tem tendência a piorar ou a melhorar e mete um sinal mais ou um sinal menos, digamos AAA- ou BB+.
Coisa mesmo básica, esta notação, mas chama-se notação de risco (risk rating) e esses gajos (existem mesmo!) que ganham a vida a meter letrinhas à frente de nomes de países e empresas, chamam-se agências de rating…
E, quanto maior estes gajos dizem que é o risco, maior é a taxa de juro.
Isto é simples, mas eu explico: vocês emprestam dinheiro a alguém que sabem que vai pagar. Há um risco baixinho, os juros são baixinhos.
Se vão emprestar a alguém que pode ter dificuldades em pagar, o risco é maior e os juros também são mais altos.
Ok, eu sei que isto em termos lógicos não faz sentido nenhum, porque se alguém já tem dificuldade em pagar, se tiver que pagar juros altos ainda vai ser mais difícil, mas isto não é um jogo de lógica… isto é a lei básica da economia, de procura e oferta. Se uma pessoa é bom pagador, toda a gente lhe empresta.
Os “emprestadores” são muitos, concorrem entre si e baixam o preço do empréstimo (a taxa de juro é isso mesmo, grosso modo, o preço do empréstimo).
Quando o tipo que pede emprestado não é de grande confiança, menos gente está disposta a emprestar e o preço sobe…  
O que é que me falta? Ah a Bolsa.
O que aconteceu agora é que há uns tempos as agências de rating desceram o rating de Portugal, da tal dívida pública, cujos juros subiram.
Por cá acenou-se com o PEC, que é uma espécie de desenho para um gajo ver se monta aquelas mobílias do IKEA, e pronto, assobiou-se um nadinha, discutiu-se muito e ninguém levou a sério o Ministro das Finanças…
Toda a gente fala muito sobre apertar o cinto mas ninguém se entende sobre o como… se um buraco, se dois… entretanto o PM também não consegue ter sol na eira e chuva no nabal e não foi exactamente firme e hirto a mostrar aos mercados internacionais (os tais que compram os papelinhos ou títulos de dívida pública – e outros privados, como acções de empresas portuguesas) que nós somos sérios e pagamos o que devemos, os investidores enervaram-se, tiveram um ataque de pânico e de estupidez e vá de vender acções à força toda, a Bolsa desceu (o que desce é o índice, a Bolsa fica na mesma rua) e as agências de rating pensaram, pronto estes macacos são piores que os gregos (esses já estão na fase pedir a toda a gente que lhes pague a dívida, que eles não conseguem sozinhos) e vamos mas é baixar mais o rating.
E pimbas, foi o que aconteceu.
Mas então e agora o que é que podemos fazer?
Pois, nada. Amealhar uns cobres, pensar numa horta, manter o emprego…
Principalmente manter o emprego. E reflectir sobre quem vai realmente pagar tudo isto que o Estado (que somos nós todos) deve a toda a gente, mercê da acumulação de défices seguidos, patrocinados por mais dívida pública.
Nós? Sim, nós, os nossos filhos, os nossos netos. Esta porra está à beira de ir dormir para debaixo de uma ponte. É que vender aos estrangeiros já nem vale a pena, porque, na realidade, já nos compraram.


.
100nada

2 comentários:

BibaRita disse...

Tio tu ja pensaste bem em candidatar-te a comentador da sociedade e estado da nação?
Bem és um ÁS!

Anónimo disse...

Vem substituir o Teixeira dos Santos!... por favor, vê se lhe dás umas explicaçõezitas, ao menos... estamos a mergulhar no lodo da escumalha.