terça-feira, 5 de julho de 2011

Prometeu foi libertado…

 

…TRÊS anos, o equivalente a 26.280 horas depois disto (clicai) e continuo firmemente a acalentar a esperança, repetida quase três dezenas de milhar de vezes, tantas quantas as horas aqui passadas, de me pôr a andar…

… dizem que a Esperança foi o ultimo dos Dons ou Virtude que permaneceu na Caixa de Pandora. Quer dizer, anteriormente ao surgimento da estória da Caixa de Pandora, na Ilíada de Homero, é descrita a exibição de duas Jarras na mansão de Zeus, no Olimpo, uma com todos os males e outra com todos os bens, as virtude e defeito potenciais da humanidade. Parece que as duas Jarras se fundiram posteriormente numa Caixa especial, que não devia ser aberta, denominada de Pandora, que continha todos os males e todos os bens com que Zeus poderia ‘presentear’ a humanidade. Aberta a Caixa de Pandora, fugiram e disseminaram-se então os males e os bens, mas permaneceu a virtude Esperança. Imagine-se, até a Coragem fugiu… até a Persistência desistiu.

Enfim, eram outros tempos, naqueles tempos não existiam obstáculos à permanência da Esperança. Não haviam Agências de Rating, nem Credit Default Swaps (acrónimo cds para seguros contra o risco de incumprimento dos títulos soberanos), nem mercados susceptíveis…

… a Esperança de Pandora tinha, pois, naqueles tempos, bons motivos para lá ficar, ao contrario dos dias de hoje.

 

Hoje, após este tempo de desterro, senti-me uma figura homérica… senti-me uma espécie de Prometeu. Até sonhei com isso. A sério!

 

Prometeu era filho dos deuses Úrano e de Gaia. Estranhamente a mãe era simultaneamente a avó, coisas aonde Eça se terá inspirado lá na casa do Ramalhete.

Zeus, o chefe de todos os deuses, incumbiu Prometeu e o irmão de criar a humanidade e animais em geral.

Foi assim atribuído a cada animal os dons variados de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça protegendo um terceiro, etc.

Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o do barro - hold on your wild horses, então não foi Jeová ou El ou que fez Adão por esse método? bolas. 

#

-BEM já reparam que é a mão que me conduz, eu limito-me a segui-la, como diz Lobo Antunes… isto era para ser um POST acerca dos 3 anos em Angola, mas enfim, adiante, pode ser que ainda chega lá…-

#

E porque é que Prometeu formou o Homem a partir do barro?

É simples, acabaram os recursos com a feitura dos animais, e enfim, fabricou-nos com o que encontrou mais à mão, o barro, que até era matéria moldável ao gosto da imaginação do Autor… o boneco saiu tão bom que, Prometeu, quis dar-lhe algo que fizesse a humanidade superior aos comuns animais… não, não me refiro às mulheres.

Prometeu, que era rapaz despachado, roubou então o Fogo dos deuses e deu-o aos homens. Terá entrado à socapa no quarto do papá Úrano, que dormia agarradinho a Gaia e pimbas, fanou o Fogo sagrado da lareira.

Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. O Fogo.

Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Pois é. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte, onde todos os dias uma Águia (embora os portuenses jurem que era um Dragão) dilacerava seu fígado que, todos os dias, se regenerava… ever and ever. Esse castigo devia durar 30.000 anos.

Uma porra de vida, a de Prometeu.

É precisamente aqui que Prometeu se parecia comigo no dito sonho -não pensem que me esqueci da comparação-.

Ele ficaria trinta mil anos naquele estado… eu, estou nas vinte e seis mil oitocentas e cinquenta horas, coisa semelhante, ligeiramente a meu favor em desgraça, se atendermos ao facto de Prometeu ser imortal e eu também não.

Não tenho águias ou dragões a debicarem o meu fígado, mas asseguro que me tiram coisas bem piores… algumas regeneram-se, outras nem por isso… adiante…

… anyway, Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicou-se a aventuras deste estilo. Yá, vou salvar gajos, disse ele.

No lugar de Prometeu, o centauro Quíron, o único rapaz bondoso da sua centáurea classe, deixou-se acorrentar no tal monte de nome Cáucaso, pois a substituição de Prometeu por alguém igualmente imortal era uma exigência para assegurar a sua libertação. Zeus exigia isso e não brincava em serviço.

Confesso que esta parte suou-me bem ao ouvido. Quem é que quer fazer de centauro Quíron para este vosso Prometeu?

Ok, eu sei, é chato ficar ali à espera, ser debicado na alma, mas, talvez sabendo do destino glorioso que vos espera, como Quíron afinal acabou por ter, alguém se ofereça voluntariamente, rogo.

… pois então, vejam, Quíron era imortal, mas foi atingido por uma seta especial de corrida que lhe estava a causar dores terríveis pela eternidade afora. Um martírio eterno. Não morria mas não suportava as dores.

Zeus prometeu a Prometeu (passo a redundância) que só podia ser salvo se algum imortal abdicasse da sua imortalidade de livre vontade.

Ora Quíron, estava em agonia com as dores das setas envenenadas e, aceitou prescindir da sua imortalidade em troca de paz na alma e no corpo. A ideia era acabar com as dores, mas tinha ao mesmo tempo que substituir Prometeu.

Caneco, ia ser debicado nos fígados pela Águia. Sem fígado, que o órgão já não se regenerava como suíra, não resistiu… paz à sua alma.

Não sei se sabiam, mas Aquiles foi discípulo de Quíron. Aquiles, o do calcanhar. Quando nasceu, a mãe de Aquiles seguro-o pelos calcanhares e mergulho-o nas águas do rio sagrado. Com esse banho ficaria imune às mazelas e ferimentos. E ficou, o rapaz era um colete de balas caminhante. O seu único ponto fraco eram os calcanhares, aonde a mãezinha  o segurou enquanto mergulhava nas águas sagradas. E foi nesse preciso local do corpinho que ele, Aquiles, sofreu um ataque. A coisa é engraçada. É que Prometeu tinha dito a Zeus, quando ainda não tinha roubado o fogo do deuses, que uma profecia rezava que o filho de Tétis seria maior do que o pai. Vai daí, Zeus e Posídon que gostavam da rapariga Tétis e andavam a corteja-la, ao serem lembrados da profecia desistiram de Tétis. Não fosse rebentar o preservativo e nascer uma criança com poderes superiores ao progenitor.

Como os potenciais pais se puseram ao fresco (Zeus e Posídon), Tétis arranjou uma alternativa para fecundar, de nome Peleu. E pronto nasceu Aquiles. Ora Tétis, que era mulher fina como um alho, e queria que Aquiles tivesse sido imortal, mergulhou o filho no rio para contornar a coisa.

Peleu, o pai de Aquiles, confiou então o filho a Quíron, o centauro, no monte Pélion, para lá ser criado.

O centauro encarregou-se da educação do jovem, alimentou-o com mel de abelhas, medula de ursos e de javalis e vísceras de leões. Ao mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contacto com a natureza; exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude.

Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, loiro, de olhos verdes, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência, parecido em tudo comigo próprio, mas não tanto.

Bom, mas Aquiles dá outra estória… back to my story, quem quiser ver Quíron pode fazê-lo facilmente… a sério! eu explico…

… Zeus apreciou o gesto de Quíron, vá-se lá saber porquê, e homenageou-o… colocando-o no céu…

… é verdade, colocou-o no céu como uma constelação que chamamos de Sagitário.  

Portanto, olhem para as estrelas sff e identifiquem o homem que se imortalizou na constelação… e aprendam com ele.

Eu aprendi. Aprendi que é preferível morrer de pé do que viver deitado.

 

.

1 comentário:

Xinha disse...

Magnífico!!!!Obrigada por compartilhares o teu 'engenho e arte'!!