domingo, 1 de agosto de 2010

O limite intocável de todas as coisas…

Imaginemos que nos era permitido viajar no tempo… Imaginemos que era possível alterar um qualquer momento… Imaginemos um momento específico especial da nossa vida, cujo desenvolvimento, bom ou mau, dependa inteiramente de uma decisão que então tomamos…
Que momento escolheríamos? O que é que alterávamos?

Bem sei… retroceder no tempo não é materialmente possível… mas o cérebro humano consegue fazê-lo… em sonhos.
Nessas alturas vivemos uma espécie de dualismo… quer dizer, durante o sonho, não raras vezes, temos consciência que estamos a sonhar e há uma interacção entre o ‘eu sonho’ e o ‘eu real’… digamos, um tem conhecimento do outro e cada um age sob influência e supervisão mutua…
De certa forma,  o ‘eu sonho’  torna-se protagonista sob a implacável assistência do ‘eu real’… está ali, a observar o desenrolar dos acontecimento e permite ao ‘eu sonho’ dar asas à sua imaginação…

O sonho de hoje, em boa verdade, foi uma resposta a uma pergunta que não fiz… percorri a noite toda à procura de um momento que pudesse modificar e observar no que dava…
O meu espírito, o ‘eu sonho’, vagueou pela vida do ‘eu real’ à procura de um momento…
Forcei o meu espírito a aceitar mudar um qualquer aspecto da vida… um qualquer incidente, uma aflição qualquer…
O ‘eu sonho’ e o ‘eu real’ são duas faces da mesma moeda, mas o primeiro tem a capacidade de viajar no tempo… voltar atrás e ver as consequências das escolhas, dos actos…
Confesso-me agradado pela viagem no tempo que o ‘eu sonho’ me proporcionou. É estranho, esta versão de mim tem uma memória muito melhor do que o ‘eu real’. Muito melhor. Que pormenores.
O mais engraçado disto é constatar que o meu espírito do sonho demonstrou aquilo que o ‘eu real’ já intuía. Cada simulação de alteração que se fazia, as consequências não tinham os resultados esperados…

Deste modo, solicitei ao meu ‘eu sonho’ diversas simulações de momentos susceptíveis de alteração… tu-cá-tu-lá com ele, numa franca simbiose de interesses, comecei pelos mais óbvios, aqueles que se afiguram ao ‘eu real’ como sendo fortes e determinantes causas de eventuais momentos menos bons da vida…
Nada. As consequências das alterações produzidas nunca eram melhores do que a realidade vivida, estranha e surpreendentemente.

Solicitei então simulação de alteração de coisas menos óbvias e mais comezinhas… mas que de alguma forma tenham tido em mim um impacto com significado…
Escolhi o momento de uma queda enorme que sofri há muitos anos cujas marcas ainda hoje são visíveis… um muro alto de acesso ‘ao curral’, assim conhecido.
Et voilá, alterada a queda, verifiquei as consequências da mesma.
Era desta, o ‘eu real’ estava certo que aquele momento podia ser evitado… e mais do que isso, aquela queda era absolutamente inútil e perfeitamente dispensável.
Pois era, mas não foi… no meu sonho, depois de me ‘safar’ da queda, teria caído novamente mais à frente, desta vez de uma arvore;  e pelo mesmíssimo motivo… excesso de confiança.
Na primeira queda, a real, fui socorrido de imediato pela familia e amigos, uma vez que o muro ficava em frente de casa. Mas a segunda queda, fruto da tal alteração,  foi bem mais complicada; não havia ninguém para ajudar…

Voltei então atrás e decidi que devia cair. Caneco. Decidi que EU devia CAIR.
Vi-me como carrasco de mim próprio , mas compreendi que há um momento certo para se aprender uma lição; nem sempre uma contrariedade é necessariamente uma coisa má. A perspectiva deve ser o mais alargada possível. Na verdade, se tomarmos boa nota as lições da vida, talvez não venhamos a cometer os mesmo erros. Talvez outros.

Ainda não inteiramente convencido, solicitei uma simulação adicional… tinha que ser uma cena que eu pudesse intervir e ao mesmo tempo que as consequências fossem menores do que aquelas que a história já registou…
Decidi colocar o meu ‘eu sonho’ numa situação embaraçosa… queria ver até que ponto o tipo, quer dizer o ‘eu sonho’, podia alterar uma coisa que ainda não tinha acontecido. Na prática pedia-lhe uma simulação para o futuro.
Bom, sendo o meu ‘eu sonho’ da mesma espécie, embora de substancia diversa, do meu ‘eu real’, não era difícil  de adivinhar que o tipo (eu próprio, o ‘eu sonho’) deveria aceitar o desafio… afinal de contas, ele tal como eu, não gostamos nada de achar que existe qualquer coisa impossível de se fazer… muito menos em sonhos. E cá para nós, queria mesmo vê-lo enrascado…

Dei asas à imaginação, pedi todo tipo de simulações… se no futuro fizesse isto ou aquilo, se me tornasse nisto ou naquilo…
Enfim, simulamos tudo... fui gangster, fui missionário, fui traficante de armas, de diamantes, padre na IURD, agente duplo… fui realmente tudo. E vi o resultado de todas aquelas ‘actividades’…
Alguns (resultados) nem foram maus sob o ponto de vista mais mundano… o problema era que, invariavelmente, todos eles chocavam com as Premissas Base

Sem me dar conta, havia afinal algo superior nestas simulações cuja interacção com o meu ‘eu real’ acabava por representar os Limites do Possível… uma espécie de dez mandamentos, similar às impossibilidades que aquelas leis representavam para Moisés, mas vertidas numa só… desta vez emanados por mim próprio e não por Jehovah. E ambos os ‘eu’ aceitavam esse Limite como algo superior e natural e intocável, do qual tudo depende…
Qualquer que fosse a interferência que a imaginação tivesse com esse limite superior, ainda que mínima, era lapidarmente rejeitado por ambos os ‘eu’ sem qualquer hesitação.
Esse Limite Superior, uma espécie de Força, designei-o simplesmente por AMOR.
O amor por alguém, era afinal o Limite Intocável de todas as coisas… das quais todas as simulações dependem e das quais todas as consequências são avaliadas, em sua subserviência e consideração.

… já lá vão DEZOITO anos, hoje realizados. Dezoito anos de amor e bem-querer de todos os meus ‘eu’… do espírito e da carne… do sonho e da realidade.
Anos que concorreram inversamente com a linha da vida. Enquanto esta diminui, aqueles aumentam… numa progressão geométrica de intensidade e de prazer...
Um dia longe, um dia mais perto… Amo-te Mary.

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