quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Lenda de Braveheart…

Portugal, 01 de Abril

Braveheart, o bárbaro e lendário guerreiro, acabou de tomar de assalto o palácio de S.Bento. Após alguma luta, os argumentos de Braveheart convenceram de forma categórica os militares que defendiam aquele palácio a abdicarem de mais luta.
Em causa estava a abolição de uma ditadura. A ditadura da Incompetência.
Os Incompetentes tentaram fugir, mas alguns funcionários públicos, muitos idosos pensionistas e mais uns quantos desempregados em vigília permanente, tinham cercado o palácio no dia anterior.
Os criminosos Incompetentes foram detidos. Espera-se a qualquer momento declarações de Braveheart acerca do destino dos ditadores.

«depois de muito ponderar, resolvi condenar o réu José e todos os seus lacaios de vilipendiarem a cousa pública, na pena de um salário de pensionista para o resto da vida, a cada um. O salário, de 300€ por mês Ilíquidos, ficará congelado para sempre.
Condeno ainda os ditadores na pena de trabalho repartido em dois turnos diários; meio dia nas minas de Aljustrel e o restante dia na faxina das escolas públicas do distrito da área de residência. Terão direito a uma refeição completa por dia.» braveheart

Após o anuncio a revolta popular foi evidente. O salário era excessivo e a garantia do mesmo para toda a vida, inaceitável.
Prontamente, Braveheart elaborou um declaração rectificativa. O valor do salário deixou de ser garantido para José e seus Lacaios. Podiam pois experimentar o desemprego. Tanto podiam trabalhar e não receber como trabalhar e receber; nunca podiam ser considerados desempregados, porque eram sempre forçados a trabalhar, mesmo que não recebessem.
Ainda assim, o povo estava descontente.
Necessitava algo mais que pudesse ressarci-los de tantos anos de saque e vilipendiagem.
Depois de muito discutir chegou-se finalmente a um consenso; o réu José seria atado a um poste no meio da cidade um vez por dia, às 18 horas. Os Lacaios seriam deitados sob os pés, na horizontal, no chão e cobertos de sementes de milho.
Todos os dias aquela hora, a população divertia-se a atirar moedas de cinquenta cêntimos ao José. O primeiro que conseguisse enfiar uma moeda na orelha do José ganhava o 2º prémio… quem conseguisse arremessar a moeda e acertar no nariz ganhava o 1º prémio e recolhia as moedas todas. O jackpot era atribuído se no arremesso da moeda esta ficasse parada em cima do nariz do José; grande, por sinal.
Os Lacaios vinham a seguir. Os pombos da cidade, fechados todo dia e devidamente esfomeados, seriam soltos todos de uma vez.
Havia quem aproveitasse o milho que cobria os Lacaios para levar também as galinhas lá dos quintais e os patos e um ou outro leitão.
Era um festim. Eles esgravatavam, picavam sofregamente os pobres Lacaios e bicavam com furiosa vontade de comer. Alguns (grãos) enfiavam-se pelas narinas e tímpanos dos desgraçados que se contorciam na tentativa de afastar as aves, que os molestavam nos orifícios mais recônditos da anatomia humana…

Diz a lenda, que José e os seus Lacaios, viveram muitos e infelizes anos de amargura e já velhinho, muito velhinho, ele, o José, pediu desculpa…

.

Quando for grande…

Uma pessoa normal olha para aquela gente a explicar-nos, com um ar pesaroso, quanto é que vamos ter de pagar pelos erros que eles próprios cometeram e fica com inveja.
No mundo real, só podemos ter despesas se tivermos receitas e ter receitas dá um trabalho desgraçado.
No mundo real, quando as coisas correm mal, a castigo não vem dali a quatro anos. Vem no fim do mês quando é preciso pagar ordenados.
No mundo real, quando as coisas correm mal, os bancos ficam-nos com a casa e com o carro…
No mundo em que aquela gente vive, nada disto acontece. No mundo em que aquela gente vive, basta carregar num botão e “empresas privadas” oferecem-nos fundos de pensões.
Basta carregar num botão e “alguém’ paga a crise. Basta carregar num botão e já não é preciso fazer reformas. É tudo corrido a eito.
Quando for grande, quero que me deixem ser dono de um país...

.

Horóscopo…

sábado, 11 de setembro de 2010

Um Dom…


… e enquanto caminhava-mos, ouvia-a quando dizia que gostava de poder sentir em época de trabalho a mesma sensação que tinha em época de férias… «viver o trabalho com a mesma vontade com que se desfruta um passeio no campo ou um bom mergulho no mar em época de férias».
Não se tendo apercebido, ela tocou num tema que me tem vindo a ocupar a mente de forma recorrente… um espécie de maré… ora penso no assunto, ora o esqueço… ora vai, ora vem. Estar longe tem estas vantagens, pensamos em cenas destas… podia ser pior.
Não raras vezes, divago sobre a possibilidade de, cada um de nós, ser portador de um Dom, uma característica, uma propensão… enfim, algo que, se fosse manifestado e exercido na sua plenitude, faria de nós seres imensamente felizes…
A suportar esta intuição, está a observação que faço na apreciação do comportamento de pessoas bem sucedidas (profissionalmente) por esse mundo fora…
Todos eles, os bem sucedidos, tem uma coisa em comum… uma intensa vontade e uma chocante naturalidade no trabalho que desenvolvem.
As contingências da vida nem sempre nos permitem chegar a conhecer os nossos próprios Dons. A sobrevivência, o enquadramento, a aculturação que a sociedade impõem, leva-nos sistematicamente por caminhos alternativos… todos nós pensamos, na nossa intimidade, que podíamos ter sido aquilo ou aqueloutro… «se tivesse continuado… »
Mas a vida impõe-nos decisões.
Essas decisões são quase sempre tomadas em respeito pelos padrões da sociedade e outros considerandos exteriores à nossa própria vontade. É bom de ver, um médico terá futuro… um qualquer canudo garante a sobrevivência, assim se incute a ideia...
A aculturação das pessoas garante unicamente a via mais rápida para a felicidade triste…
«rapaz deixa-te de sonhos, nunca chegarás a astronauta…»
Na verdade, por razões práticas, talvez POR Portugal nunca se chegue a ser um astronauta… mas o mundo não devia perder o melhor astronauta de sempre pelo facto deste ser português.
Na realidade qualquer pai ou mãe desencoraja um filho a estudar engenharia aeroespacial ou chief de cuisine. A vida te-los-á ensinado, aos pais, que mais vale prevenir do que remediar, e ser médico é uma garantia de estabilidade e prosperidade económica… mesmo sendo um médico fraquinho ou mediano ou a contragosto. Antigamente, as mulheres casavam por indicação e conveniência do pai de familia… a conveniência era a chave da sobrevivência.
O meu ponto, é que descubramos qual o Dom ou Dons que temos. Não deixemos que o tempo torne impossível o exercício dos nossos talentos… e há Dons cujo exercício depende do momentum…
As pessoas que exercem profissionalmente os seus Dons, nunca estão preocupadas com a remuneração que o talento lhes vai dar. A remuneração é uma simples consequência de se fazer um trabalho com verdadeiro prazer. Quem exerce os seus Dons não precisa que lhes diga o que fazer, nem como fazer, tampouco quando fazer… quem exerce profissionalmente o seu Dom já se interessou por tudo o que este diz respeito… e ultrapassa toda a concorrência sem se achar esforçado ou entediante o desígnio.
Ser padre católico, por escolha livre, é uma decisão interessante sob ponto de vista do exercício da Vocação ou do Dom. Abdica-se de tudo na vida para exercer um Dom.
Talvez quem não compreenda o que significa trabalhar no Dom que temos, considere a vida escolhida pelos padres um sacrifício; no entanto a opção, sendo livre, é claramente o exercício pleno da felicidade pessoal. Nada poderia substituir aquela opção e trazer a mesma alegria e plenitude do que o exercício do Dom pode aportar ao padre proponente.
Julgamos os padres não pelo que eles escolheram, mas antes pela marginalidade que aquela opção representa aos nossos olhos, no contexto da ‘normalidade’ ditadas pelos padrões da sociedade. Somos seres aculturados e poucos são os que conseguem libertar-se das amarras do ‘socialmente correcto’ e dirigir a sua própria vida de acordo com o que ela pede…
«O que queres ser quando fores grande?» pergunto inevitavelmente às crianças e adolescentes.
A medida da aculturação observa-se quando a resposta aquela pergunta resulta apenas na remuneração que advém ou das vagas que existem na universidade ou do mercado de trabalho...
Ora, o exercício do Dom é independente de tudo isso.
Exercer o Dom significa que aquele caminho será o único aonde podemos ter maior sucesso e felicidade…
Um Dom é em si mesmo uma dádiva dos ‘deuses’ ou se quiserem um presente da natureza… ou uma qualquer obra do acaso genético que nasce connosco… algo inato.
Distinto é o Talento. Há pessoas Talentosas que não exercem o seu Dom. Mas se dirigirem o Talento e o seu Dom num projecto profissional tornar-se-ão génios.
E essa é a maravilha do ser humano. O Talento tem a ver com a perseverança, com o suor. Einstein dizia “talento é 1% inspiração e 99% transpiração”.
Ao contrário do Dom, o Talento pode ser desenvolvido com treino, disciplina e obstinação.
Por outro lado há quem tenha Dom, mas não Talento. São os potenciais desperdiçados, gente que nos leva a dizer: “Ah, Deus dá asas a quem não quer voar”. Não adianta a inspiração sem a transpiração, o que significa a disciplina para desenvolver seu potencial.
Estas reflexões levaram-me, pois, a considerar a temática acerca da Honestidade… sim, a honestidade interior que nos impele a desenvolver as capacidades que a ‘natureza’ nos dotou.
Descobri, navegando na internet, um estudo fantástico que vem dar corpo a esta minha tese… uma pesquisa conduzida pelo especialista Mark Albion, feita com 1500 jovens que saíam de suas universidades e procuravam suas carreiras profissionais.
Albion percebeu que, do total de jovens, 83% buscavam realização financeira. «To make money» era o que eles queriam ou ambicionavam.
Os outros 17% relatavam que estavam interessados em atender à sua Vocação, que era definida por eles como “algo que me dê prazer, satisfação, que eu goste de fazer”.
A pesquisa acompanhou esses jovens por 20 anos e, após esse tempo, Albion constatou que, do total, 102 haviam alcançado imenso sucesso em suas carreiras, inclusive financeiramente.
Portanto em 1500 jovens, 102 foram extremamente bem sucedidos.
And guess what, o mais interessante do estudo foi constatar que daqueles 102 jovens bem sucedidos, 101 pertenciam ao grupo dos 17%… sim, aqueles que, ao alcançarem o sucesso, miraram no prazer e acertaram na vocação. Apenas UM jovem obteve sucesso não exercendo o seu Dom.
Pois é. Se, para a maioria das pessoas, é difícil identificar a Vocação, um Talento natural, uma excelente saída é procurar o prazer de fazer... se gostamos do que fazemos, tendemos a fazer naturalmente bem feito e temos melhores resultados. E isso só aumenta o nosso prazer em fazer o que fazemos, gerando um ciclo virtuoso de sucesso.

Coisa bem distinta é o sonho… imitar os Dons ou Talentos alheios. Observo muitos jovens ‘perdidos’ no sonho de virem a ser aquilo para o qual não tem Talento e Dom, por simples imitação de quem os tem, uma espécie de mundo fantástico que não é o seu.
Os programas de televisão são disso bom exemplo. As filas de candidatos aos ‘ídolos’; entre milhares de concorrentes haverá alguns poucos que estarão a dar uso ao seu Dom… e se usarem esforço e aperfeiçoarem o seu Talento poderão obter sucesso e genialidade…
Mas a maioria abdicou de procurar as suas próprias qualidades e submete a sua vida na perseguição de uma miragem… e não percebem que eles próprios tem outras qualidades importantes, noutras áreas.
Familiar como a voz da mente é para cada um, o mérito supremo que atribuímos a Moisés, Platão, Mozart, Einstein, Spinoza, Leonardo Davinci… mas também CR7, Gilberto Gil, Roger Waters, Picasso e Camões e Eça e Jesus Cristo e Curie,  deve-se ao facto de eles terem desprezado ser manietados por tradições e terem expressado não o que os homens , mas o que eles próprios pensavam.
Homens que aprenderam a detectar e espreitar o raio de luz que lampeja de dentro, através da sua mente, mais que o esplendor do firmamento dos bardos e sábios.
No entanto repudiamos inadvertidamente os nossos pensamentos, apenas porque são nossos; Em toda a obra de génio, reconhecemos os nossos próprios pensamentos rejeitados que retornam a nós com uma certa majestade perdida.
As grandes obras de arte não nos oferecem lição mais tocante do que esta. Elas nos ensinam a ser fiéis às nossas impressões espontâneas. A não ser assim, um estranho dir-nos-à amanhã, com bom senso magistral precisamente o que temos pensado e sentido o tempo todo… e seremos forçados a aceitar de outrem, com vergonha, a nossa própria opinião reprimida.
Não nos expressamos senão pela metade, e envergonhamo-nos da ideia ‘divina’ que cada um de nós representa. Um homem estará satisfeito e alegre quando tiver empenhado toda a sua alma no seu Dom e feito o melhor possível… e aquilo que tiver dito e feito de outro modo não lhe dará paz. «É uma livramento em que nada se livra».
Na tentativa, o nosso Dom, o nosso génio abandona-nos; musa alguma nos favorecerá; nem astúcia, nem esperança.
Procuremos, pois, o lugar que a natureza nos designou… grande homens sempre agiram assim e fiaram-se,  à maneira das crianças, no génio da sua época, revelando as suas percepções  de que o absolutamente digno de confiança encontrava-se assente exclusivamente nos seus corações e no trabalho das suas mãos… nos seus Dons e nos seus Talentos.

.