segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pegasus, o meu cavalo alado…

 

… se todas as alternativas falhassem teria sempre o meu meio transporte preferido - Pegasus, o meu Cavalo Alado…

Convoquei-o com carácter de urgência, afinal de contas, vivemos variadíssimas aventuras em vidas passadas.

Os cancelamentos dos voos do pássaro de ferro da tap, nos exactos dois dias anteriores ao meu prometido, não estavam a inspirar-me confiança. À cautela mandei vir o meu amigo Pegasus…

Foi Pegasus que me ajudou, naqueles tempos, a regressar a casa. Tão heroica foi a sua ajuda que Zeus, reconhecendo-lhe o mérito, colocou-o, também a ele, numa constelação de nome PÉGASO.

Naquela altura fui para a guerra, um tanto contrariado. Desejava ficar em casa, junto à minha Mary Penélope e filhos, mas a princesa da Grécia solicitou a minha ajuda e, enfim, acabei por ir. Despedi-me de tudo o que mais estimava, mas parti nos meus navios para a guerra de troia.

Penélope era uma mulher muito linda, admirada e invejada até pela deusa Atena. A sua fama ultrapassava fronteiras e, um a um, fidalgos e príncipes das redondezas partiram para a minha casa, em Ítica, na esperança de conquistar o amor de Penélope. Eram todos arrogantes e e insolentes, deleitados com toda a sua riqueza. Foram para o meu palácio sem serem convidados e por lá ficaram; banqueteavam-se no meu salão e beberam os meus vinhos da adega. Foram hóspedes grosseiros e espalhafatosos.

 

 

Tudo isto foi-me relatado pelo meu amigo – Pegasus, o cavalo alado.

Tinham passado dez longos anos desde que sai de Ítica. Penélope, todos os dias, ao fim da tarde, sentava-se no cais e mirava longe o mar na esperança de me ver chegar.

A pressão dos príncipes era tremenda, exigiam que Penélope escolhesse um deles para marido. E tinha mesmo de ser assim naqueles tempos. Diziam-lhe que eu, Ulisses, estava morto, mas Penélope continuava, dia após dia, a visitar o cais de embarque…

A escolha do príncipe para marido tinha que ser feita. Era exigido que ela escolhesse um deles.

Disse-lhes então que escolheria um assim que terminasse de fiar o véu de linho que tinha no tear. Seria um véu para usar como mortalha para o pai, já idoso e doente. Concordaram.

Todos os dias Penélope sentava-se no tear e fiava com afinco a confecção do véu… e todas as noites desfazia o trançado dos fios que tinha fiado. Assim se passaram alguns meses, e um dos príncipes, desconfiado, observou Penélope quando esta desfazia o trabalho do dia anterior. Obrigaram-na a escolher um deles para marido logo no dia seguinte.

No dia seguinte, ao entardecer, o banquete foi servido, com muita comida, bebida, cantoria e festa. A certa altura os meus empregados começaram a retirar os meus escudos e espadas que estavam pendurados nas paredes… mas deixaram o meu velho Arco de flechas. Um arco construído de madeira especialmente rija, que Penélope fazia questão de o polir diariamente.

 

Foi nesta altura que Pegasus me trouxe. Vim vestido de mendigo, tinha os pés descalços e roupas esfarrapadas, mas o meu velho cão de caça, depois de todos aqueles anos, e já cego, ainda assim me reconheceu.

Entrei no salão e fui alvo de troça e zombaria. Os príncipes atiraram-me com pedaços de pão contra a cabeça exigindo que saísse. Naquele momento vi-a. A minha Penélope descia as escadas, imponente e bela, e deveria escolher um deles.

Ficaram em delírio. Penélope, por compaixão, mandou que me servissem uma refeição, um banho e que me propiciassem cuidados. Uma empregada que me lavava os pés reconheceu-me pela marca de uma cicatriz, com os olhos a brilhar manteve discrição.

Era tempo para a escolha. Penélope disse-lhes que colocaria a decisão nas mãos dos deuses. Apontou para o meu arco de flechas, dizendo que que só eu, Ulisses, era capaz de vergá-lo e que escolheria para marido aquele que demonstrasse maior habilidade no arremesso da flecha.

Todos tentaram. Eram 120 candidatos, entre fidalgos e príncipes. Nenhum conseguiu. Em tom de escárnio, um deles propôs que o mendigo (eu próprio, Ulisses) tentasse vergar o arco.

Levantei-me e, com andar hesitante, cruzei o salão. Peguei no arco e examinei-o, observei o material bem polido, bem conservado, como eu o tinha deixado. Riam e gozavam e ridicularizavam-me. De repente, transformei-me naquilo que realmente era, Ulisses. Sem esforço verguei o arco e arremessei uma flecha.

Assumi uma postura correcta, levantei o rosto, demonstrando que, mesmo vestido de trapos, era um rei de cabeça aos pés.

Penélope reconheceu-me imediatamente. Os pretendentes entraram em pânico tresloucado e tentaram fugir do salão. As minha flechas forma mais rápidas e certeiras; nenhuma delas errou o alvo. E gritei dizendo «vingo-me assim daqueles que tentam destruir o meu lar».

Penélope trouxe de seus aposentos um rolo de pano branco e macio, muito delicado e de imensa beleza, e disse: «É esse o véu, Ulisses. Prometi que no dia em que estivesse concluído, eu escolheria um marido; e escolho você».

 

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Prometeu foi libertado…

 

…TRÊS anos, o equivalente a 26.280 horas depois disto (clicai) e continuo firmemente a acalentar a esperança, repetida quase três dezenas de milhar de vezes, tantas quantas as horas aqui passadas, de me pôr a andar…

… dizem que a Esperança foi o ultimo dos Dons ou Virtude que permaneceu na Caixa de Pandora. Quer dizer, anteriormente ao surgimento da estória da Caixa de Pandora, na Ilíada de Homero, é descrita a exibição de duas Jarras na mansão de Zeus, no Olimpo, uma com todos os males e outra com todos os bens, as virtude e defeito potenciais da humanidade. Parece que as duas Jarras se fundiram posteriormente numa Caixa especial, que não devia ser aberta, denominada de Pandora, que continha todos os males e todos os bens com que Zeus poderia ‘presentear’ a humanidade. Aberta a Caixa de Pandora, fugiram e disseminaram-se então os males e os bens, mas permaneceu a virtude Esperança. Imagine-se, até a Coragem fugiu… até a Persistência desistiu.

Enfim, eram outros tempos, naqueles tempos não existiam obstáculos à permanência da Esperança. Não haviam Agências de Rating, nem Credit Default Swaps (acrónimo cds para seguros contra o risco de incumprimento dos títulos soberanos), nem mercados susceptíveis…

… a Esperança de Pandora tinha, pois, naqueles tempos, bons motivos para lá ficar, ao contrario dos dias de hoje.

 

Hoje, após este tempo de desterro, senti-me uma figura homérica… senti-me uma espécie de Prometeu. Até sonhei com isso. A sério!

 

Prometeu era filho dos deuses Úrano e de Gaia. Estranhamente a mãe era simultaneamente a avó, coisas aonde Eça se terá inspirado lá na casa do Ramalhete.

Zeus, o chefe de todos os deuses, incumbiu Prometeu e o irmão de criar a humanidade e animais em geral.

Foi assim atribuído a cada animal os dons variados de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça protegendo um terceiro, etc.

Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o do barro - hold on your wild horses, então não foi Jeová ou El ou que fez Adão por esse método? bolas. 

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-BEM já reparam que é a mão que me conduz, eu limito-me a segui-la, como diz Lobo Antunes… isto era para ser um POST acerca dos 3 anos em Angola, mas enfim, adiante, pode ser que ainda chega lá…-

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E porque é que Prometeu formou o Homem a partir do barro?

É simples, acabaram os recursos com a feitura dos animais, e enfim, fabricou-nos com o que encontrou mais à mão, o barro, que até era matéria moldável ao gosto da imaginação do Autor… o boneco saiu tão bom que, Prometeu, quis dar-lhe algo que fizesse a humanidade superior aos comuns animais… não, não me refiro às mulheres.

Prometeu, que era rapaz despachado, roubou então o Fogo dos deuses e deu-o aos homens. Terá entrado à socapa no quarto do papá Úrano, que dormia agarradinho a Gaia e pimbas, fanou o Fogo sagrado da lareira.

Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. O Fogo.

Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Pois é. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte, onde todos os dias uma Águia (embora os portuenses jurem que era um Dragão) dilacerava seu fígado que, todos os dias, se regenerava… ever and ever. Esse castigo devia durar 30.000 anos.

Uma porra de vida, a de Prometeu.

É precisamente aqui que Prometeu se parecia comigo no dito sonho -não pensem que me esqueci da comparação-.

Ele ficaria trinta mil anos naquele estado… eu, estou nas vinte e seis mil oitocentas e cinquenta horas, coisa semelhante, ligeiramente a meu favor em desgraça, se atendermos ao facto de Prometeu ser imortal e eu também não.

Não tenho águias ou dragões a debicarem o meu fígado, mas asseguro que me tiram coisas bem piores… algumas regeneram-se, outras nem por isso… adiante…

… anyway, Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicou-se a aventuras deste estilo. Yá, vou salvar gajos, disse ele.

No lugar de Prometeu, o centauro Quíron, o único rapaz bondoso da sua centáurea classe, deixou-se acorrentar no tal monte de nome Cáucaso, pois a substituição de Prometeu por alguém igualmente imortal era uma exigência para assegurar a sua libertação. Zeus exigia isso e não brincava em serviço.

Confesso que esta parte suou-me bem ao ouvido. Quem é que quer fazer de centauro Quíron para este vosso Prometeu?

Ok, eu sei, é chato ficar ali à espera, ser debicado na alma, mas, talvez sabendo do destino glorioso que vos espera, como Quíron afinal acabou por ter, alguém se ofereça voluntariamente, rogo.

… pois então, vejam, Quíron era imortal, mas foi atingido por uma seta especial de corrida que lhe estava a causar dores terríveis pela eternidade afora. Um martírio eterno. Não morria mas não suportava as dores.

Zeus prometeu a Prometeu (passo a redundância) que só podia ser salvo se algum imortal abdicasse da sua imortalidade de livre vontade.

Ora Quíron, estava em agonia com as dores das setas envenenadas e, aceitou prescindir da sua imortalidade em troca de paz na alma e no corpo. A ideia era acabar com as dores, mas tinha ao mesmo tempo que substituir Prometeu.

Caneco, ia ser debicado nos fígados pela Águia. Sem fígado, que o órgão já não se regenerava como suíra, não resistiu… paz à sua alma.

Não sei se sabiam, mas Aquiles foi discípulo de Quíron. Aquiles, o do calcanhar. Quando nasceu, a mãe de Aquiles seguro-o pelos calcanhares e mergulho-o nas águas do rio sagrado. Com esse banho ficaria imune às mazelas e ferimentos. E ficou, o rapaz era um colete de balas caminhante. O seu único ponto fraco eram os calcanhares, aonde a mãezinha  o segurou enquanto mergulhava nas águas sagradas. E foi nesse preciso local do corpinho que ele, Aquiles, sofreu um ataque. A coisa é engraçada. É que Prometeu tinha dito a Zeus, quando ainda não tinha roubado o fogo do deuses, que uma profecia rezava que o filho de Tétis seria maior do que o pai. Vai daí, Zeus e Posídon que gostavam da rapariga Tétis e andavam a corteja-la, ao serem lembrados da profecia desistiram de Tétis. Não fosse rebentar o preservativo e nascer uma criança com poderes superiores ao progenitor.

Como os potenciais pais se puseram ao fresco (Zeus e Posídon), Tétis arranjou uma alternativa para fecundar, de nome Peleu. E pronto nasceu Aquiles. Ora Tétis, que era mulher fina como um alho, e queria que Aquiles tivesse sido imortal, mergulhou o filho no rio para contornar a coisa.

Peleu, o pai de Aquiles, confiou então o filho a Quíron, o centauro, no monte Pélion, para lá ser criado.

O centauro encarregou-se da educação do jovem, alimentou-o com mel de abelhas, medula de ursos e de javalis e vísceras de leões. Ao mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contacto com a natureza; exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude.

Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, loiro, de olhos verdes, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência, parecido em tudo comigo próprio, mas não tanto.

Bom, mas Aquiles dá outra estória… back to my story, quem quiser ver Quíron pode fazê-lo facilmente… a sério! eu explico…

… Zeus apreciou o gesto de Quíron, vá-se lá saber porquê, e homenageou-o… colocando-o no céu…

… é verdade, colocou-o no céu como uma constelação que chamamos de Sagitário.  

Portanto, olhem para as estrelas sff e identifiquem o homem que se imortalizou na constelação… e aprendam com ele.

Eu aprendi. Aprendi que é preferível morrer de pé do que viver deitado.

 

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