segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Vi o que foi a origem da Mamã Muxima... mais nada

… quando entrei nas imediações da capela e subi o ultimo lanço de escadas, deparei-me com dezenas de chinelos e sapatos que os fiéis, respeitosamente, deixavam à entrada… fiz o mesmo para entrar e logo a seguir vi bebés deitados no chão sobre pequenos lençóis ao longo do acesso central ao altar… estavam aparentemente sozinhos.
… dirigi-me lá para frente e coloquei-me, silenciosamente, mesmo na segunda fila, bem por detrás de umas três ou quatro mulheres que, debruçadas sobre um varandim, clamavam as atenções de Nossa Senhora da Muxima.
Via que levantavam os braços e gesticulavam… na realidade estavam a rezar, mas faziam-no de uma forma interessante. Aproximei-me mais delas, e arrebitei as orelhas, uma tentativa de curiosamente indagar sobre o conteúdo do que diziam… e era magistral a forma como se dirigiam à Mamã Muxima…
… estabeleciam um dialogo verdadeiro, falavam com Ela argumentando e contra-argumentando de forma simples mas com veemência e espante-se, Ela respondia… claramente, a Mamã Muxima respondia… podia perceber que as mulheres ouviam mentalmente a resposta da Mamã Muxima e devolviam a resposta verbalmente, fazendo gestos com as mãos e expressões indicativas de insatisfação ou conformação pela resposta dada pela Santa, encolhendo os ombros ou fazendo cara de arrependimento e súplica.
… achei muito interessante esta forma de rezar, no fundo um diálogo franco com a santidade… e não podia de deixar registada a sensação única que vivi…
… da mesma forma, que me dirigi a uma das mulheres que segurava um bebé ao colo e que se sentou ao meu lado… vendo a cara dela, cansada de tanto falar com a Mamã Muxima, reparei que tirava com dificuldade algumas notas de cinco kwanzas (5 cêntimos de euro)… fiquei intrigado, afinal de contas aquele dinheiro não dá para rigorosamente nada… perguntei-lhe se estava tudo bem com o bebé, uma rapariga linda com carapinha… e apertei-lhe as bochechas…
… felizmente estava tudo bem com a menina e talvez, vendo bem, a Mamã Muxima tenha feito com que se encontrassem duas pessoas que se precisavam mutuamente… eu de falar com ela e ter a certeza que a menina não estava doente e ela de sentir que alguém quer saber das dificuldades daquela gente…
Anyway, o grande motivo para visitar este local sagrado prende-se com o facto de ter tido conhecimento que, aquando da visita do Papa Bento XVI a Angola, este ter aprovado, juntamente com  José Eduardo dos Santos o novo projecto arquitectónico para a Muxima… na verdade, antes que aquilo se transforme radicalmente num local de vendilhões, quis ver e registar aquele local como sempre foi… sem modernices vanguardistas.
Aprecio as coisas como elas são e gosto que se respeite a história e as culturas locais. 




Não obstante, em boa verdade, o projecto parece bonito e bem concebido, elaborado por arquitecto português de nome Júlio Quaresma… um dia será um local como Lourdes, Santiago Compostela ou Fátima, senão em fama, pelo menos em condições logísticas… mas eu vi o que foi a origem da Mamã Muxima... mais nada.

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