quinta-feira, 11 de março de 2010

Rumo a Sul… IV


Depois das banhocas revigorantes no Lobito, entramos na cidade de Benguela… aonde iríamos permanecer no hotel mil cidades, por duas noites.
Littlejohn, promovido recentemente a Higherjohn devido aos excelentes dotes no campo artístico, tinha um primo a trabalhar em Benguela e que já não via há cerca de 25 anos… enfim, combinou um encontro, um jantar num restaurante uns dois ou três quarteirões abaixo do hotel.
E pasme-se, saímos do hotel a pé e de noite…
‘Sensação esquisita’ - comentei com o padre qui-û-ra, achamos estranho estarmos a circular em plena noite com o mesmo à vontade com que o fazemos naturalmente em portugal. E gostamos muito… passear à noite é actividade que na cidade de Luanda é manifestamente impossível…
Mas em Benguela não… respira-se segurança e as pessoas, além de simpáticas, olham-nos com olhos normais.
Pelo caminho fui reparando que a cidade tem um estilo de vida diametralmente oposto ao de Luanda… o facto de haver segurança contribui decisivamente para que tudo exista naturalmente… esplanadas, crianças a brincar nos muitos jardins, casas mais expostas e menos muradas.
Anyway, o restaurante estava repleto de Portugueses e não havia lugares disponíveis… coisas a que o destino já me habituou… mas é precisamente nessas alturas que Don Vito Corleone intervém… conversa particular com o staff, tu-cá-tu-lá com as empregadas e depois com o chefe e depois com todos, sente-lhes o pulso e avança, não sem antes sugerir uma organização mais eficiente do espaço… tira aquele cliente dali e coloca-o acolá… estava afinal resolvido, sem surpresa… o LEITÃO DA BAIRRADA estava no papo. O restaurante estava repleto de tugas…

Dia seguinte, acordei cedíssimo… às seis da manha.
O dia em África começa cedo… e a claridade matinal anunciava um dia esplendoroso. 
Eu e o açoriano (e portista) Cláudio, mais conhecido por padre qui-û-ra, fomos os primeiros a tomar o pequeno almoço… e saímos para conhecer a cidade. Littlejohn, não dava sinais de vida… enfim, não quisemos acordar sua alteza.
Aquela hora, umas oito da manha, o sol já queimava e visitamos a pé tudo o que eram ruas, monumentos, jardins, praias daquela cidade, andamos quilómetros… and guess what… gostei mesmo muito.
Benguela está organizada de forma moderna e eficiente… ruas largas e perpendiculares umas  em relação ás outras, formando blocos habitacionais geometricamente perfeitos.
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O mercado recuperado… e o tipo de casas
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O jardim com um ambiente fantástico, calçada portuguesa e rodeado de palácios do tempo colonial… uma obra alusiva à evangelização dos nativos…
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Um palácio, agora utilizado para fins governamentais…
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Muitas alusões a portugal…
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e mais jardins e pátios de casas particulares…
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e muitas casas de portugueses do tempo colonial…
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muitas outras…
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e ruas com nomes lusos… bem na marginal de Benguela.
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O ambiente geral é bom, calmo, bonito e bem português… chegamos à marginal com bastante calor… resolvemos tomar banho no mar… deveriam ser umas 9 h…
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… e soube muito muito bem…
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De regresso ao hotel, deparamo-nos com um edifício fabuloso… tinha que entrar e convencemos o guarda a fazer uma visita guiada… este edifício era o antigo cinema ao ar livre e está perfeitamente recuperado.
«meu amigo, então o senhor trabalha aqui há muito tempo?» eu perguntei ao guarda.
«trabalha sim, sinhô… trabalho aqui deisdi o nosso tempo… quê dizé desdi o tempo dos branco» ele respondeu identificando-se com aqueles tempos.
Bem se via pelo aspecto do complexo que ali seria um local de excelência para conviver… tudo era perfeitamente bonito e bem arquitectado… e tinha salas de dança ao ar livre e zona de churrascos… e um ecrã enooorme…
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«ai sim, que fixe, e como era isto? o ambiente, as pessoas… havia festas?» eu continuava
«uichh sim, muitas feista mêmo… damas e homis e musica» ele recordava e continuava «ágóra tambeim tem feista… muita música, mais fauta uma péça ná máquina de filmi, não dá filmi» ele concluiu.
«ohh que pena senhor… meu amigo como é que se chama?» eu perguntei
«eu? chamo Cipriano Prófecta… e o sinhô?» ele respondeu perguntando.
«eu? chamo-me Ricardo Messias… ahahah» eu disse e continuei « nãa, estou a brincar, está a ver – profecta, messias – era uma chalaça… pois, pronto é só mesmo Ricardo» finalizei, constatando que os únicos que se riram fui eu próprio e o Cláudio, embora o ‘sinhô’ tenha esboçado um sorriso… alguns segundos depois do processador ter entrado em funcionamento.
Continuamos a visita pelo complexo, que era enorme…
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… e senti que ali, naquele tempo, devia passar-se uma excelente noite…

(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

A vossa viagem foi espectacular.
Aí está mais uma cidade onde não me importava de trabalhar.
Isabel

Anónimo disse...

Grande passeio!
Fabulosas as paisagens!

O sr.Profeta...qual humor inglês!Good joke!!!!!

Excelentes notas da etnográficas!X

Anónimo disse...

és o maior! Ricardo Messias....