quinta-feira, 17 de junho de 2010

…como quem vende uma vaca velha…

Nota Prévia:
Este post foi feito há sensivelmente um ano e nunca o consegui publicar, não sei bem porquê… enfim, faz parte dos imensos  ‘tesourinhos deprimentes’ que nunca publiquei.
Pareceu-me agora boa altura para o fazer… não sei bem porquê.

Não sei se se passa convosco o mesmo que comigo se passa… assisto os deputados da nação no hemiciclo e imagino ver outras coisas… palavra.
Dou então comigo a imaginar, que aquele sofrido teatro, podia muito bem ser um canil de cães sem dono, ou uma espécie de feira animal da Golegã… ouço um latir estridente que um ou outro mais incomodado vai brandindo… e em tom de fundo, um irritante mugir em tom ruminante da restante bicharada.
Quando esgrimem argumentos, como quem vende uma vaca velha… se por ventura ou fraca sorte a não conseguem abalar, insinuam com as mãos, bracejando no ar as patas, afirmando solenemente que a vaca, embora velha para parir, é ainda boa para matar.
Mas a feira só começa quando o leilão inicia… sentam-se à frente da manada uma dúzia de cabeças… alguns mais agastados, para mostrar valentia e arrojo, simulam com as patas os imerecidos chifres que não tem.
Na altura certa e apropriada, o sinal de recolher é dado, soa a sineta, arrebitam-se as orelhas e os que estavam no pasto retornam, ao hemiciclo; os que fome não tinham, por ali mesmo permaneceram… a gozar boa soneca do tão merecido descanso daquele dia mal dormido.
O propósito desta orgia é definir em sorte o destino da manada… em sorte e em género.
Uns, alvitram sobre a aparência que os escolhidos devem ter, outros discutem a forma de o fazer…
Define-se um tipo de carne… se é gorda, uns protestam pela saúde… se é magra, outros temem mal-nutridos ficar…  se é velha é porque é velha… se é nova é porque devia ser velha…
Ás vezes, no meio daquele mugimento alarve, consigo abstrair-me da imaginação insolente e aperceber-me da realidade… que de todos nós se trata.
Cortaremos nas rações das vacas públicas, ou nos bodes dos privados? na Saúde ou na Defesa? no Ensino ou na Justiça? E as cabras das Fundações?
Outros, sem ideias para melhor, decidem em nada mexer… asseguram, dessa forma, uns bons anos do mais verde pasto de prazer... e nós, irremediavelmente, por ali os continuaremos a ver… 
Nesta lógica animal, de decisões irracionais, surge sempre da cartola um coelho, a magia do aumento do preço das rações, claro está.
Mesmo que se consiga chegar a um qualquer entendimento quanto à aparência que o pobre animal deve ter para logo a seguir o matar, surgirá nova polémica… qual o modo para ser levado a cabo o fim trágico do animal.
Uns dizem que a morte deve ser a ferros… outros por electrocussão… os da esquerda reclamam pelo método do afogamento… os da direita pela congelação imediata.
Ao fim e ao cabo, uns e outros anseiam a mesma coisa e coisa nenhuma em simultâneo… vêm os animais a envelhecer, os pastos a secar, os mais novos a migrar e masturbam-se mutuamente num festim louco sobre quem irão matar…

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1 comentário:

BibaRita disse...

Oncle Richard:

Também eu faço essas analogias a ultima é que dou por mim a olhar para a Assembleia como se de uma arena Romana se tratasse mas o cristão vai variando de minuto para minuto! Querem vingança, sangue.
Esgoelam-se por uma coisa ou outra e quê? nada.

Mais um Bravo a Ti Ricardo!

PS: esta até que me saiu bem! ;)