Logo à saída do aeroporto de Maputo, deparei-me com uma situação invulgar. Olhei instintivamente para o lado esquerdo da estrada e avancei… não vinha qualquer carro. Dois passos em frente e ouço o chiar dos pneus de um carro que parou a uns escassos dois metros de mim…
‘atão pá que merda é essa?’ eu gritei indignado.
… avancei dois passos, com ar importante, avançando para a faixa contrária da mesma, e olhei, já a meio da estrada, naturalmente, para o lado direito. Outro maluco em contramão a pisar, com despudorada e sonora travagem, o freio do carro… um metro separou-me do choque com o referido animal.
‘dass lá pró ca$alh%, que é isso pá, ahh? tá tudo maluco?’ continuava.
‘sinhô, us veículo em Moçambique circulam pela isquerda…’ disse-me o motorista do hotel.
Levantei os braços e juntei as mãos, uma contra a outra, junto ao peito, e pedi desculpa aos ex-animais que afinal de contas não circulavam em contramão… e dirigi-me, rapidamente, para o transfer do hotel… uma carrinha branca que ostentava a marca ‘Polana Hotel’. Circundei a carrinha, abri a porta dianteira do lado direito e deparo-me com o lugar do condutor… voltei a fecha-la e recircundei a carrinha novamente abrindo a porta devida… a do lado esquerdo.
O caminho todo até ao hotel foi feito no lugar em que eu costumo conduzir e fiquei extremamente confuso com a forma de conduzir naquele país, principalmente nos cruzamentos. De tal forma que ainda hoje, volvidos já meia dúzia de dias, tenho que pensar muito, mas mesmo muito, para saber de que lado é que vem normalmente os carros. Não sei se olhe para a esquerda ou para a direita. Whatever, em Luanda isso, afinal de contas, é absolutamente irrelevante…
Bom, a chegada a Maputo revelou-se diferente de uma habitual chegada a Luanda. É fácil entrar em Maputo… não é preciso visto, nem aquele papel aonde eu juro solenemente que não sofro de doenças infecto-contagiosas, e aquele outro aonde timidamente afirmo não pertencer a nenhuma organização terrorista… não, nada disso, apenas temos que estar cerca de uma hora a olhar para uma web camera imóveis, sem olhar para o lado e quase sem respirar, ligeiramente agachados para enquadrar a foto no range do monitor e esperar que operador de tão avançados sistemas de controlo fronteiriço atinem com o novíssimo software do aeroporto, sem que tivessem de chamar, novamente, o técnico de computa do aeroporto de Maputa.
Como tenho a mania que sou esperto, saí disparado do avião no intuito de ser o primeiro a ser atendido. Chegada a minha vez foi-me dito que tinha, afinal, de me dirigir aos tipos da web camera para ser fotografado, catalogado e inserido no sistema, como uma vaca.
Vendo a manada, enfim a fila de gajos, bem mais lentos do que eu a sair do avião, mas com conhecimento superior dos procedimentos alfandegários moçambicanos, vi-me forçado a integrar o honroso último lugar da fila. Coloquei a minha mala a marcar posição e procurei o isqueiro em todos os bolsos e sacos que trazia… nada, não tinha fogo para acender um cigarro… os tipos de Luanda da alfandega conseguem descobrir sempre o isqueiro que eu escondo… nem enroladinho dentro das meias.
… esperei, esperei que toda aquela gente fosse fotografada… o sistema é digital, mas eu ia jurar que os tipos tinham cameras fotográficas analógicas e que iam ao centro de Maputo revelar o rolo de cada fotografia que tiravam…
… vi o técnico do sistema a ser chamado vez sem conta… e eu circulava por aquele aeroporto com as mãos atrás das costas, de um lado para o outro. Quando toda a gente foi despachada chegou a minha vez… o aeroporto estava deserto… o policia da alfandega disse-me que tinha curiosidade em conhecer-me… tinha estado a reparar em mim e na quantidade de voltas circulares que fiz enquanto esperava a fotografia.
‘Quê, pensavas que estava nervoso que vocês descobrissem que eu pertencia à al-caida, era isso?’ eu disse.
‘Nã estava curioso só… estava a ver si o sinhô iria atacar o colega da web camera’ ele respondeu.
‘Fogo amigo, sabe, tenho um problema com manadas… não consigo estar em filas… fico nervoso… e andar compulsivamente em círculos faz-me bem, percebe?’ respondi a pensar que todos os loucos tem as suas próprias razões.
Era já noite quando cheguei ao hotel… um edifício histórico remodelado e reaberto em Setembro deste ano, depois de 30 anos em ruinas… outrora um dos melhores hotéis do mundo… O mítico Hotel Polana.
Ficaria uma noite, sozinho, naquele majestoso hotel… a minha mary só chegava na noite do dia seguinte…
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