terça-feira, 10 de maio de 2011

…vão-nos passevitar sem dó nem piedade…

 

Nota: «Mammon representa o terceiro pecado, a Ganância ou Avareza, também é um dos sete príncipes do Inferno. Sua aparência é normalmente relacionada a um nobre de aparência deformada, que carrega um grande saco de moedas de ouro, e "suborna" os humanos para obter suas almas. Em outros casos é visto com uma espécie de pássaro negro (semelhante ao Abutre), porém com dentes capazes de estraçalhar as almas humanas que comprara» wikipédia

 

Mamon é um deus impiedoso e cruel, que exige sacrifícios sanguinários e ininterruptos.

Em face do que se está a passar no país, nem sequer podemos argumentar ingenuidade ou ignorância. Fomos fartamente avisados. Mammon, esse, não anda distraído.

Os milhões que agora nos despejam em cima, servem essencialmente para pagar aos bancos alemães que compraram a nossa divida, para remendar os nossos e pagar as devidas comissões (as migalhas do costume) aos intermediários, alcaiotes e parasitas que nos desgovernam e apascentam ao Mercado.

Daqui a três anos, ou eu me engano muito (oxalá!), ou estaremos bem piores.

Enterrar o ‘ouro’, produto do nosso suor, fazer uma mapa com um ‘X’, é uma excelente ideia, acreditem. Quem diz o ouro diz outra coisa qualquer; mais valia converter antecipadamente tudo em batatas e enterra-las, se mais não for, sempre alimentarão melhor do que a ingestão de papel tipografado…

De caídos na merda, corremos o sério risco de acabarmos diluídos nela. Mas não será precisamente esse o corolário fatal e lógico de toda esta civilização do cuspo?...

No fundo, bem no fundo, estão a imolar-se países para que alguns se salvem, a bem da liberdade de mercado. Pune-se o consumidor, o junkie mais que inveterado, mas poupa-se o dealer, a bem do negócio. Só a corrupção passiva merece, assim, repreensão e castigo. A activa passa por virtude empresarial e mais valia económica.

Da china vem o paraíso, produtos derivados do sangue, das pessoas e da terra, but hei, são imensamente mais baratos, e isso, no reinado de Mammon, é que importa.

Do outro lado do atlântico a democracia volta a iludir a populaça. É a chamada vaselina para as massas. Lubrifica-as e reconforta-as. Tal qual nós gememos, com típica resignação, " estamos falidos e vamos ser esmifrados até à medula, mas temos a democracia; eles, os gringos, chilreiam, com patega euforia: hurra, estamos mais que falidos, vão-nos passevitar sem dó nem piedade, mas matámos o Bin Laden!... Mammon reinará.

 

Compreende-se que perante um tal regime, certos comprovativos  básicos se tornem desnecessários. A maralha está de tal modo aturdida e adestrada a emborcar todo o tipo de mistelas, que engole quanto lhe despejem pelo tele-funil.

Aliás, é até nestas alturas bestialmente místicas, que dá gosto ver os nossos adoradores frenéticos de Locke e lambuzadores feéricos de Hume, todos à uma, sem excepção, num verdadeiro coro angélico, a aderirem subitamente à crendice e à superstição (se é que alguma vez de lá saíram).


Já o caso dos actuais chupa-cus da américa em pouco ou nada se distinguirem dos seus predecessores de volta do esfíncter soviético, até o lema com que encerram os palanfrórios de ocasião o atesta: "A luta continua", assim disseram.

Pois continua. A luta e a puta que nunca mais os pára de parir a todos.

Pois. Podem violar o país, podem violar o povo, podem até violar a independência nacional. Mas na Constituição, nessa pequerrucha, é que nem tocar! Pode o país estar na penúria económica, na miséria moral, na mendicidade soberana, mas, que diabo, tem uma constituição!... Uma puta duma constituição que, como diria o Braveheart, não fode nem sai de cima. Só empata. Só esteriliza. Só decora. Ninguém liga patavina à merda da Constituição, toda uma classe política não tem feito outra coisa, nos últimos trinta anos, senão marimbar-se e defecar de muito alto para os princípios angélicos, amorosos e delicados da dita. Folha de couve mais ratada e babada por toda a espécie de larva partidária não se conhece. Bandeira assim, pior que trapo, feita esfregão e escovilhão de retrete nunca se viu.

Mas a Troika é que nem sonhe - nem com uma pluma ouse tocar-lhe!...

Violá-la? De tão devassada e esburacada, já não é possível. Além do mais, alguém se excita com um monte de lixo, ao ponto de com ele cismar de ter congresso? Quando muito, varrem-na, que é o que a simples higiene pública reclama e recomenda.


É tal a porcaria de governantes que temos tido, que até os estrangeiros nos parecem menos hostis, vorazes e malfazejos. Com os da estranja, ao menos, ainda nos anima uma vaga esperança: que embora não pertencendo à mesma nacionalidade, pertençam, ainda assim, à mesma espécie. É uma esperança cega e estúpida, como a generalidade das esperanças, eu sei, mas sem esperança é que não se consegue viver…

 

Ah, mas tranquilizemo-nos. Porque para resolver o caos e a bancarrota que uma diarreia parola e ininterrupta de não sei quantos actos eleitorais forjou e despejou no mundo, vamos fazer o quê?

Vamos pagar, atamancar e penar mais eleições.

Medido, alfaiatado e acamado no caixão, o país vai onde?

Vai às urnas.

Os envenenadores, travestidos de carpideiras e coveiros, vão a que sítio? À barra do tribunal, como lhes competia?

Não, vão a votos.

Depois de tratarem do funeral, candidatam-se a quê - à exumação do cadáver? Aos direitos exclusivos na venda do esqueleto para faculdades de medicina internacionais?


Valha-nos ao menos a utilidade das eleições e respectivas coisas suas amigas, pois, conforme se garante e apregoa, mostrarão o que valem e até onde vai a sua aprendizagem e discernimento. Se bem que me parece o dispêndio de um balúrdio, ainda por cima de dinheiros públicos inexistentes, para descobrirem uma coisa tão óbvia e simples que até eu, mesmo sem os dotes divinatórios do professor Marcelo ou de mestre Bambo, lhes posso revelar de graça: não valem grande merda, todos eles.

E quanto à aprendizagem e ao discernimento, pior um pouco, já que vulgarmente oscilam e ricocheteiam entre o deslumbramento e a vertigem. Não, em bom rigor é mais "entre o umbigo e o olho do cu".

Ou não fosse esse campo a pastagem predilecta de todo o bom ruminante púbico, retirando o discernimento do orifício de cima e a aprendizagem do buraco de baixo. Ou o inverso. Ninguém distingue.


Mas torno ao essencial: o preço duma fortuna para coisa tão pouca, tão rasca... Digam lá que isto não se tornou um antro de patos bravos e dissipadores compulsivos!... Um antro? Um paraíso, melhor dizendo.

 

De Twain, um escritor muito cá das minhas simpatias, deixo quatro pensamentos que me parecem ajustados ao nosso momento actual, mai-la sua corte de circunstâncias quase sempre a raiar o anedótico:


I. Nada precisa tanto de reforma como os hábitos dos outros.

II. Tudo o que é preciso na vida é ignorância e confiança; depois, o sucesso está garantido.

III. (Nunca esqueças) um banqueiro é um homem que te empresta o chapéu de chuva quando faz sol e que to tira quando começa a chover.

IV. A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau.

V. Há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas.

 

E mais um, de bónus:

- «Algumas pessoas nunca cometem os mesmos erros duas vezes. Descobrem sempre novos erros para cometer.»

 

.

Sem comentários: