segunda-feira, 23 de maio de 2011

Kalandula… erro meu, má fortuna, curiosidade ardente

 

… e de novo voltei a Kalandula. As cascatas que lhe dão o nome, são as segundas maiores de Africa. As primeiras são as Victoria Falls, na Zambia, aonde estive há cerca de um ano, dessa vez acompanhado pela minha mary.

 Ricardo Fotografo

 

Podeis ver a reportagem da primeira visita nestes posts - Jardim do Éden, Jardim do Éden…II, Jardim do Éden… III e Jardim do Éden… IV (clicai e ide lá ver).

Embora a dimensão entre uma e outra seja abissal, as de Kalandula são lindíssimas…

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O único miradouro que existe é de construção antiga; do tempo em que aquele lugar se chamava ‘Quedas do Duque de Bragança’. Não é, por isso, estranho, que ao afirmarmos em voz alta que ‘aquilo’ era antigo, um angolano tenha respondido que as cascatas eram do tempo dos Reis... O angolano referia-se às próprias cascatas, whatelse? Aquela obra da natureza terá começado na altura dos reis, registei e concordei, afinal de contas terá sido um Soberano, celestial, que as terá projetado… ou não?

Ricardo fotografo (2) Ricardo Fotografo (3)

 

Na verdade, aquele lugar, inspira a nossa religiosidade, ainda que latente. A grandiosidade da natureza excita o nosso gene das cousas transcendentais e sobreleva o nosso espírito. O analfabeto e o erudito, naquele local, parecem fundir-se na mesma pessoa, ainda que, percorram caminhos distintos.

Esta é a razão prática, e bem humana, por trás da intuição de grandes cientistas e pensadores acerca da existência do Divino. Einstein acreditava que a complexidade das coisas da natureza, indiciavam uma intencionalidade que só poderia advir de uma Inteligência criadora.

Observei várias pessoas com um espírito semelhante àquele. Estas, não precisam de compreender os mistérios do átomo para chegar à mesma (cosmo) conclusão…

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Queria conhecer as profundezas. Uma mania minha. Ir lá baixo aonde a água castiga violentamente a rocha dura. Queria passar por trás da cortina de água, meter a mão e sentir a potencia da queda livre… fetiches.

 

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Pela segunda vez, repito, segunda vez, tentei e não consegui. Mas tentei. Contratei dois guias fantásticos. Ágeis de mais para o meu gosto e resistência física… Ainda assim, o Malaquias e o Joaquim foram fantásticos…

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O percurso até lá baixo era, digamos, uma espécie de caminho de cabras montanhesas. A cerca de metade da distancia, a sô tora, minhota dos sete costados, e o já nosso conhecido Padre Quiûra, açoriano com o mesmo numero de costados, decidiram regressar… ela tinha receio de não conseguir subir se descesse…

… eu, queria continuar e dizia aos nossos guias para lhes dizer que a base das cascatas era já ali.

Nem assim, o bom senso dos dois foi superior à minha incauta e natural curiosidade que me impele a ir mais longe. Regressaram e fizeram muito bem…

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Valha-me Deus, o caminho restante foi tenebroso. Os guias esperavam que eu me desembaraçasse daquelas coisas que sistematicamente me atrasavam…

 

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… e eu lá ia, feliz da vida, apesar das dificuldades. Pântanos, ameaça de Jacarés, bicheza esquisita, cobras e ramos e lianas e insectos nunca vistos , metem um certo temor. Andei aninhado, literalmente, por entre a selva densa. Cansa muito deslocar-mo-nos dessa forma. Para os rapazes aquilo era brincadeira de crianças…

Na verdade, a ideia de ir à base das cascatas, the boiling point, superava qualquer adversidade.

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Fui de Chinelos. Ó deus, de chinelos!  Erro meu, má fortuna, curiosidade ardente. O erro e a (má) fortuna sobejaram, que para mim bastava a curiosidade somente. Zarolho?

De chinelos? Isso foi para descer. Para subir foi mesmo sem eles.

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A ideia era chegar ali em baixo e sentir a força da água, debalde.

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O rio estava com um caudal maior do que o previsto e não cedia passagem. Fiquei-me a uns cem metros da base das cascatas… uma boa porra, da próxima vou conseguir, à terceira é de vez…

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A subida foi extenuante e demorada. Os chinelos escorregavam e a minha resistência diminuía drasticamente; tirei-os e, como os guias, subi descalço por entre pedras e paus... que se lixem as cobras e os insectos, quero chegar lá cima, pensava. Estava capaz de esticar e torcer uma surucucu ou uma jiboia para as beber. Estou convencido que elas, escondidas, se aperceberam desse meu estado de necessidade…

O corpinho já não reage à vontade. De forma que, começa a ser a vontade condicionada pelo corpinho que nos determina o ritmo e faz mover. É pena, mas é assim a vida. Haja esperança. Tive de descansar inúmeras vezes. Completamente exausto. Alturas houve em que ponderei, sinceramente, enviar um dos guias para trazer um bacano qualquer, forte o suficiente, para me levar às cavalitas trilhos acima…

A ultima paragem para descansar fi-la com mais tempo. Descansei o suficiente para retomar a subida. O ritmo cardíaco abrandou, os músculos recuperaram um bocadito e, curiosamente, o ultimo troço do trilho custou-me menos. Estava capaz de beber as cascatas de um só gole…

 

Enfim, regressei ao hotel. Uma espécie de hotel. Já tinha pernoitado lá há uns anos e, curiosamente, atribuíram-me o mesmo ‘quarto’. O contentor 30. É verdade, um contentor era a minha suite. Uma suite com televisão, ar-condicionado e casa de banho. Um luxo profundo…

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De manhã, bem cedo, resolvi visitar a metrópole. Kalandula é um local evoluído… tem avenidas e um  hospital público…

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… e farmácia e um posto de correios…

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(continua)

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