sexta-feira, 24 de junho de 2011

… a visão de Deus…

 

 

Imagine-mo-nos na perspectiva de Deus. Aquele Deus que resulta da opinião que as diversas religiões Dele fizeram… e não Outro.

Imaginemos a visão que Deus terá sobre a humanidade e sobre todas as coisas que criou. Imaginemos um Observador atento, Interventivo também, com uma espécie de visão aérea, estratosférica, sobre a criação… e que se interessa com o que pelo planeta se vai passando; que se interessa, em suma, pela coisa criada.

Imaginemos Alguém cujo interesse na observação resultaria de, digamos, ao que as religiões garantem, assegurar justeza (fairness, em inglês traduz melhor a ideia) no Julgamento e na resposta aos pedidos de auxilio de uns, dentro da Sua imperscrutabilidade e discricionariedade, mas também, para verificar o cumprimento da mensagem da ética e da moral vertida nas Leis e inscritas nos Livros Sagrados, tendo como objectivo a seleção das almas que alcançariam o Reino dos Céus, em virtude do cumprimento da observação daquelas leis.

 

Imagine-se, pois, um Deus dotado de certas características morais, como asseguram as religiões, e que punirá quem as transpõe, condenando a alma às profundezas do inferno, por um lado, e que premiará, por outro lado, quem as seguir fielmente.

Alguns afirmam ainda que, aprofundemos a nossa imaginação, no meio dos dois estados, entre as profundezas e os céus, existirá um terceiro local, que nem é carne nem é peixe; uma espécie de réptil lugar… um purgatório, aonde se expiam os pecados daqueles que, enfim, terão transposto algumas Leis, mas somente as menos gravosas, e que esperam a boa vontade e avaliação do Criador…

Asseguram que essa boa-vontade do Senhor advém, inevitavelmente, após um determinado tempo que por lá se passe. Espiar os pecados nesse local será, pois, uma espécie de prisão preventiva a ver se o Juiz do Supremíssimo valida a informação das primeiras instancias.

 

Toda esta construção está bem descrita e argumentada pelos estudiosos das diversas religiões do Livro e, finalmente, sustentada numa prosa articulada em forma de lei canónica.

Os estudiosos que o fizeram, gente inequivocamente inteligente, de cultura superior e supremíssima educação, acharam por bem redefinir a hierarquia do exército de Deus e, quase todos, afirmam que, pese embora o Altíssimo seja omnipotente, o caminho e as vontades Dele são, digamos, ajudadas e levadas a cabo por aquela hierarquia.

Na hierarquia Celestial há, grosso modo, uma equipa constituída de seres criados por Deus que os dotou de excelentes dons naturais - embora assexuados, garantem - pelos quais se tornaram muito superiores aos homens em perfeição. Além disso, Deus concedeu-lhes a graça santificante, que os faz resplandescer em sobrenatural beleza e dignidade…

Ei-Los:

- Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potências, Virtudes, Principados, Arcanjos, Anjos.

… bem, esta estrutura, criada com rigor, disciplina e determinação militar e refinada Virtude vá, pelos visto, terá criado num daqueles Seres alguma ambição fora do âmbito dos objectivos para que foram criados, ou não… na verdade um deles revoltou-se e levou consigo parte substancial dos colegas…

Mas não era um qualquer, era o Chefe de todos, de nome Lúcifer, que quer dizer “Anjo da Luz”, era o anjo mais poderoso do céu e gozava de todas as regalias celestes. Era o braço direito de Deus, um anjo da Sua especial estima e confiança. Deixando-se levar, porém, pela soberba, ao que dizem, acabou julgando-se superior a Deus, em poder e majestade.

Muitos anjos, na eternidade, guiados por Lúcifer, pecaram e rebelaram-se contra o Criador, havendo no céu grande batalha. Miguel, à frente de todos os anjos, comandou luta contra os anjos rebeldes e reagindo sob o lema “Quem como Deus?”, liderou intenso combate do qual saiu vitorioso, precipitando o seu colega e irmão Lúcifer, e todos os seus sequazes, para o fogo do inferno, local cuja inauguração se terá observado nesta precisa altura por obras das artes Supremas. São eles os demônios ou espíritos malignos.

Os demônios, vendo-se para sempre expulsos do céu, passaram a odiar e a invejar os homens, procurando causar-lhes danos ao corpo e à alma, a fim de arrastá-los à desgraça eterna.

Aos anjos vencedores da contenda, os bons e fieis ao Senhor, foi-lhes dada uma Graça nova que até ali pelos vistos não tinham… foi-lhes conferida a incapacidade para toda a eternidade de se revoltarem novamente, isto é, Deus tirou-lhes a vontade, o desejo eventual de se rebelarem contra Ele próprio, uma espécie de instalação de um anti-virus no sistema Angelical que inviabilizou o ataque de ideias mais atrevidas. Na verdade Deus ter-lhes-á tirado o livre-arbítrio, por causa das coisas.

Compreendo bem esta iniciativa de Deus. Há que eliminar as fontes de problemas. Aqui pela Terra os criadores de bicharada fazem frequentemente a mesma coisa com os animais potencialmente perigosos, capando-os… dizem que os amansa.

Talvez seja esse o motivo, admito eu, de se crer que os Anjos não tem sexo… é muito provável que Deus, na linha dos criadores tirrenos, tenha também ordenado a amputação das Angelicais preponderâncias…

 

Anyway, sempre me perguntei a mim próprio, com infinita incredulidade, acerca das motivações dos anjos (caídos) revoltosos… teriam achado eles que podiam ter vencido a grande batalha contra quem os criou?

Terão sentido que podiam ganhar, avançando para uma batalha contra o exercito de Deus?

E se sim, how on earth poderiam eles pensar uma coisa dessas, sabendo de antemão que quem os criou era o Omnipotente, quer dizer, aquele que tudo pode.

Confesso que nunca percebi a coerência desta trama... sempre me pareceu uma estória muito estranha sob ponto de vista dedutivo e lógico…

 

Mas enfim, viro agora de novo para a esquerda, para bombordo, para a visão que Deus terá sobre as coisas por Ele criadas, para o ponto que queria salientar inicialmente, depois de me perder pelos angélicos caminhos de estibordo. E o ponto traduzia-se na observação que Deus fará da humanidade.

 

Pessoalmente, acho que Ele nos verá como nós o fazemos quando observamos um formigueiro.

Vejamos, dei comigo a pensar no MacDonalds. Além de me apetecer um Big Mac ardentemente, sem que isso represente o pecado da gula, recebi a informação de dois amigos de que os brinquedos do Happy Meal seriam produzidos na China por crianças escravas. Já tinha ouvido uns zuns zuns acerca disso.

Vai daí, imaginei-me Deus. Se eu fosse Deus como veria, lá de cima, esta situação…

 

… quer dizer a panorâmica que Ele tem ao observar de um lado do formigueiro, digo, do planeta, umas crianças obscenamente abusadas na escravatura do trabalho por terem de fabricar com as suas maozinhas, brinquedos de plástico fantásticos… e, virando Ele os olhos ligeiramente para a esquerda, observar do outro lado do planeta outras crianças em justa histeria, felizes da vida, a brincar com os mesmíssimos brinquedos de sangue.

O mapa assim posto à minha frente não seria, para mim, feito Deus em pensamento, uma visão agradável… Deus feito eu próprio teria mandado um raio que os parta a todos aqueles filhos de uma grande puta que fazem o fazem às crianças chinesas. Mas eu não sou Deus. Deus é Ele… e os Anjos que alegadamente Guardam.

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1 comentário:

professoratriste disse...

Na pequenez humana não cabe um racional entendimento do Supremo! Contudo, tu já estás um passo mais á frente ao dedicares a tua atenção a esse entendimento... Fantástica a tua crónica!!!
Xinha