terça-feira, 2 de setembro de 2008

Penteado olé... penteado olé...

Bom... já faltava... na minha modesta arrogancia, cantava aos quatro ventos, que ainda não havia sido 'penteado'... começava a a sentir-me mal... de tanta sorte vivida. Era, digamos, um oásis de secura, nesta selva urbana.
Não havia forma da policia mandar-me parar... os tipos não queriam nada comigo... andava, de certa forma curioso... que penteado me fariam? com corte e lavagem? rapado? risca ao meio?
Neste dia foi um penteado simples... vi o sr. agente a estender o braço... parei logo a seguir. Depois da continência, pediu-me os documentos... entreguei-lhos todos, num molho. Estava tudo certo... sentia-se na cara dele um certo desalento... cheguei a ter pena dele... pegou-me na carta de condução e manteve-a apertada na mão... olhou para o interior do jipe... "hã, falta ali á placa com u nomi i á moráda... bô tê que passar multa...", respirou ele de alivio. "Ah é? ok passe lá a multa... o proprietario do veiculo é a empresa x... tudo bem amigo passe lá a multa..." eu disse relaxadamente.
Senti de novo o desalento na face do sr. agente... mas o tipo era dos bons... "não, eu vou tê qui multá á carta di condução e não o carro..." retrucou o finório... "mais podemo risolvê a coisa áqui mésmo" continuou.
Na realidade só tinha us dolares comigo e as notas mais altas... aquilo não merecia um gasto tão avultado..."ivan tens aí qualquer coisinha...?" eu perguntei.
A festa ficou-se just for a thousand kuanzas, o equivalente a uns oito euros. Depois da troca de galhardetes desejamo-nos mutuamente um excelente dia. Na verdade tratou-se de um roubo simpatico entre pessoas de bem, que se entenderam na perfeição. Nada a dizer. A virtude nos negócios prima também pela simpatia... um ladrão simpatico é outra loiça. Talvez a mulher dele tivesse telefonado uns minutos antes a pedir-lhe para passar no supermercado e trazer as compras em falta... e nessas alturas nada melhor do que apanhar um nabo fresquinho de portugal.
Em todo caso cantei "haa penteado olé... penteado olé...". Não há nada como viver as coisas para saber como proceder no futuro em situação análoga... foi mais fácil do que imaginava... mas o sr. agente também ajudou muito para esta minha aprendizagem, devo admitir.
No dia seguinte foi-nos buscar o reis, regressado de portugal, o destino era passar Viana rumo a Catete.
Antes porém o reis, talvez já farto do penteado que usava, decidiu atalhar por uma estrada em sentido proibido... lá bem no fundo da estrada, operação stop... havia barbeiros, cabeleireiros e tosquiadores... um deles mandou-nos parar... o reis saiu-se bem... dois minutos depois lá estava ele com um ar 'limpinho', asseado e muito bem penteado... ao preço de tabela.
Tinhamos de passar em Viana e buscar o luis, um tuga que trabalha para uma empresa de construção; é como que o master chief dos trolhas; é o responsável por toda a coordenação de trabalhadores nos empreendimentos que estão em curso, tipo capataz. Era sócio do reis em portugal numa empresa de construção e reconstrução de edificios... mas já não tinham muito trabalho em portugal, e as margens eram insuficientes... já para não falar dos 'calotes'...
Anyway, rumamos então a catete; já perto o reis chamou-me a atenção para uns edificios militares... "aqui era o quartel central de toda a actividade portuguesa... todo e qualquer militar vindo de portugal para combater em angola passava necessáriamente por alí... e depois era distribuido pelas provincias..."
Aquelas instalações eram baixas de um piso só e estendidas no terreno, com avenidas largas... pareciam instalações bem estruturadas...
Mas á medida que o reis falava, eu tirava fotografias... achei que o meu pai tinha estado ali... no tempo da guerra... e teria estado lá cerca de dois anos... o curioso é que quarenta anos depois passei pelo mesmo local, a cinco mil quilometros de portugal... tive uma sensação agradávelmente esquisita.
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Mais tarde chegou a confirmação a minha mãe lembra-se e afirmou que ele tinha estado de facto nas instalações militares de catete. Boa!
Passando catete, convenci o pessoal a visitar uma fazenda de bananas... prontamente iniciamos o caminho... o reis conhecia uma fazenda ali perto. Mas primeiro paramos para almoçar na zona do 'bom jesus' num restaurante no sopé do rio kuanza... local esplendoroso... mulheres a lavar a roupa no rio... crianças a brincar na água... rapazes a pescar. O almoço foi um peixe do rio com molho vinagrette com feijão e pedaços de mandioca... muito bom... mesmo.

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Fiquei fascinado com a paisagem... a natureza no seu verdadeiro estado... a vegetação potente...
Pensei, por diversas vezes, o quão diferente são estas paisagens... aprecio as coisas no seu estado natural.
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Se visualizarmos a nossa paisagem, em portugal, verificamos que a mesma foi transformada pelo homem, em todo lado. As praias estão condicionadas por muros de betão, as margens dos rios guiadas... o homem não deixa a natureza seguir o seu rumo, é assim a evolução... mas é bonito observar a natureza a tomar as redeas das coisas... para variar.
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Enquanto observava a fazenda e todo o enquadramento da mesma, sonhava, sonhava e voltava a sonhar... imaginava-me a cavalo ou de moto4 a percorrer a 'minha' própria fazenda... por aquelas infindáveis avenidas de bananeiras... olhava para o lado esquerdo e seguia-me o rio kuanza, quase ao mesmo nível... lindo...
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No regresso tivemos a excelente ideia de parar num café/restaurante em viana... estavamos com fome... verifiquei que estava repleto de portugueses... das obras!!! sentou-se ao nosso lado, na nossa mesa, um tuga... se tivesse sido protagonista do filme italiano 'feios, porcos e maus' teria sido concerteza laureado com um oscar para a melhor caracterização.
O tipo, além de bem bebido... era... indiscritivel... falava pelos cotovelos... chamava constantemente pelas empregadas... e fazia-lhes, a todas, declarações com um tal conteúdo... que me reservo no direito de as não publicar integralmente... para não ofender as almas mais susceptiveis.
Senti-me péssimamente... envergonhado... o ivan, o reis e o luis também... o homem contava histórias de pasmar... acerca de tugas das obras que lá viviam... longe de casa, alguns viviam com as 'dama' lá nos musseques.
"aqueles caral... agora vivem numa barraca com as pretas, sem electricidade, nem agua, nem esgotos... nada... mas é isso que as gajas querem... um fil... da p... estupido que lhes pague as despesas, o telemovel, a comida... os gajos de dia boum trabalhar e elas metem lá outros... dass a mim num mapanham essas pretas do caral... tinha uma em portugal... mandava-lhe a massa todos meses e ela metia lá outros... ta q pari... agora aqui, tenho as que quizer" gabou-se o grande tuga português. "oh paula... paula minha linda chega aqui... olha tu és muito bonita... dás-me o teu numero de telefone minha linda" continuou o irrascível tuga a olhar fixamente o decote da rapariga.
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Confesso que não lhe adivinhava grande futuro... mas enfim passado cinco minutos lá apareceu uma a dar-lhe o numero de telefone. "esta já está... hoje temos festa..." concluiu.
Resolvemos finalmente sair... antes porém o homem veio-me cumprimentar... "doutor desculpe lá... ás vezes não me contenho" disse ele regressando finalmente a um normal ser humano. "não faz mal amigo... mas pense que estas raparigas podem estar a passar o mesmo que as suas próprias filhas em portugal... por isso não as trate assim" eu disse para aliviar. "desculpe doutor... " ele finalizou.
Na verdade a distancia de portugal, a par das más condições em que esta gente trabalha... transforma-os e traz ao de cima o pior que o ser humano tem... na realidade as desculpas daquele homem revelam que o mesmo não éra na realidade assim...

2 comentários:

BibaRita disse...

tIO!
Gostei especialmente da expressao " nabo fresquinho chegado de Portugal"! ta demais essa! mas olha que nao tiveste nada de nabo nesta tua 1a paragem no "cabeleireiro"!! O penteado fez de ti um Admiravel Tuga do Norte!;) Imagino o Moina! com o seu ar desconsolado por nao te roubar mais um poukinhu!
Tive pena de nao te ver... mas tava eu na Croacia as voltas de carro em curva contra curva, pq eskece autoestradas e conduzir nao é com eles ainda! Nao ha praias, mas a historia esta cravada em tudo o que sitio! Cidades medievais muralhadas é aos pontapes!! vale a pena pa kem gosta de visitar/conhecer/ inteirar-se de novas culturas e habitos mas definitivamente nao para akeles q procuram destinos turisticos de praia, coco e palmeiras!
Continuação de boa jornada! beijinhu

PS: ouvi dizer q tas mt bonito ;)

Anónimo disse...

ESTA AQUI FOI UM BOCADO FORA!!ESTES "SR.AGENTES"QUE NAO SAO MUITO BEM AGENTES ANDAM AI PARA VER SE GANHAM UM BONUS NAO'??

ASSI:MSB