(a persistência da memória – Dali)
Este quadro, de pequena dimensão, é provavelmente a mais conhecida de todas as obras de Dali. A flacidez dos relógios dependurados e deformados aonde ele jaz, mostram uma preocupação do artista, com o tempo e a memória… a persistência da memória.
Os relógios deformados talvez queiram dizer que o tempo é o que nós fizermos dele, assim dizem os analistas de Dali, mas não será o contrário do que Dali quis transmitir?
Acentuou-se, em todo caso, assim, a obsessão pelo tempo, que eu também partilho, pela necessidade de viver e, pior que tudo, acentua-se a angustia perante o tempo que foge, a vida que passa demasiado depressa.
Dominar o tempo, controlar a sua impiedosa tirania torna-se uma quimera para o impotente ser humano.
A vida humana é um verdadeiro furacão, uma tempestade permanente que ocasiona cada vez mais desespero perante a impiedade do tempo. A modernidade passa a ser controlada pelo relógio: as tarefas quotidianas, o trabalho, o lazer, a SAUDADE, tudo é controlado e o homem vai acentuando a sua escravidão ao tempo.
Mas enfim, o Tempo sem Espaço nada representa. A obsessão de Dali, na minha opinião, também se centrava no espaço. Este quadro revela bem que o espaço é, também ele, uma ilusão dentro dos conceitos de relatividade entre o tempo e o espaço. Chamou-me à atenção a sombra criada pela (semi) realidade de um corpo sentado, a mulher que fala com um menina na praia e que faz parte da boca e do queixo e nariz de uma ilusão, num cenário observado numa caverna pela própria Realidade que, dependendo da perspectiva, observa a sua própria Verdade… ou a ilusão ou a (semi) realidade, a cara ou a mulher sentada.
O que me fascina realmente, é conhecer pessoas, ainda que através das suas obras, que nos permitam comungar das ideias e sentimentos.
O tempo é, pois, o maior valor que podemos emprestar a alguém. Dar o tempo para ouvir alguém, ou estar com alguém, deve valer o Tempo que lhes dispensamos. Neste sentido, que melhor presente poderemos dar a alguém, do que dar-lhe o nosso próprio tempo? o tempo que dispensamos, tem um valor superior a qualquer tesouro terreno.
Lembrei-me disto devido a uma situação comum e bem terrena e até pitoresca… ao receber o ULTIMO telefonema das vendas da tvcabo. Ao fim de dezenas de chamadas, aonde tentei ser simpaticamente dissuasor, lembrei-me de dizer-lhe que, a insistência despropositada que a empresa estava a fazer, com chamadas sucessivas, levava-me a considerar verdadeiramente a hipótese de enviar uma factura de honorários à empresa... pelo “Tempo disponibilizado; por que carga de água sou obrigado a dispensar gratuitamente Tempo com merdices destas? por acaso reembolsam com anos de vida o Tempo que me fazem perder?”
Ter tempo para dar ao Tempo a memória de tempos que foram… ter tempo para não chorar pelas coisas que acabaram. Ter tempo para sorrir porque elas existiram de facto; Tempo de vive-las e ter mais tempo para viver outras. Quero não desperdiçar Tempo, para ter tempo de dar a coisa mais importante que um pai pode fazer pelos seus filhos… amar a mãe deles.
PS. É tempo de melancolia, que a mão faz o favor de me fazer esquecer… a porra do passaporte não sai e este tempo, eu não queria mesmo dispensar…
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