sábado, 8 de novembro de 2008

é o cara...

Andei a 'navegar' por alguns blogs onde se defendia (regra geral) o uso do 'vernáculo' como forma de expressão... admito que o possa ser... não obstante, nunca fui muito partidário de tais métodos... a não ser quando inseridos num contexto apropriado, em que o seu uso se torna útil, inevitável e com alguma piada.
Por outro lado um palavrão usado sem qualquer critério 'roça' a vulgaridade... e pode até ser ofensivo para determinadas pessoas.
Mas no norte de portugal, não é bem assim... no porto o uso do 'vernáculo' é cultural... afonso praça elaborou uma definição de 'caralho' hilariante...
"Ouçamos: "Termo chulo para designar o pénis; usa-se também como expressão de irritação ou revolta". Certo. Parcialmente certo. Mas só parcialmente. Afonso Praça não teve cuidado com os regionalismos.
Não olhou, por exemplo, para o Porto. O "caralho" do Porto não é um "caralho" qualquer.
Nem sequer é expressão de "irritação" ou "revolta". O "caralho" do Porto não agride. É um "caralho" meigo, nobre, íntimo, expressão sincera de amizade.
No Porto, quando ouvirem chamar pelo "caralho", convém olhar para trás. O "caralho" podemos ser nós. O "caralho" é um tratamento entre amigos que se amam e respeitam, como "caralho" que são.
Ser um "caralho" é ser amigo de alguém. No fundo, é ser amigo de um outro "caralho".
Aliás, a expressão tem um significado tão profundo, que é sempre acompanhada de um possessivo.
Ninguém é, simplesmente, "caralho". Quando um portuense chama o "caralho" do amigo, trata-o sempre por "meu caralho", ou "seu caralho".
Há um sentido de posse entre "caralho". Os "caralho" pertencem-se.
- Onde é que andaste, meu "caralho"?
- Por aí a pastar. E tu, seu "caralho"?
Claro que existem excepções. Nem toda a gente chega ao estatuto de "caralho".
No Porto existem também os "caralhos" em potência: são os "caralhotes" (que Afonso Praça igualmente esquece).
Um "caralhote" é alguém que tem todas as condições para ser "caralho" mas ainda não chegou lá.
Talvez com a idade. Talvez com a experiência. Ou talvez nunca.
Um "caralhote" pode transformar-se em "caralho" - ou não. Se falhar, não fica "caralho" - isso é que era doce! Se falhar na carreira da "caralhice", torna-se na mais reles espécie de "caralho" que existe sobre a Terra.
Torna-se azedo. Pulha. Inimigo do seu amigo. Transforma-se num "caralhão".
- Quem é aquele "caralho"?
- Aquele "caralho"? Aquele "caralho" é um "caralhão" de primeira. Nem te conto.
O ideal, portanto, é começar por ser "caralhote" e dar o salto para o "caralho", fugindo dos "caralhões". E como é que isso se faz? Eu só conheço uma maneira: evitando "encaralhar".""

3 comentários:

ameixa seca disse...

Aqui "caralho" tem o estatuto de sinal de pontuação :) É tipo vírgula!
Gostei muito deste texto... é do caralho he he
Bom Domingo!

Anónimo disse...

Comigo "caralho" tem o efeito de um cigarro... sem dúvida a palavra que mais diminui o stress ou mesmo os nervos. Daí que me permitam juntar esse efeito terapeutico aqui às caralhadas.

Anónimo disse...

Isso seria um óptimo tema de dissertação...Só é pena não me sentir muito "confortável" a escrever sobre o tema.Agora que a tua reflexão é interessante, não há dúvida!
A música está muito bem escolhida!Bjs