Preambulo – a little bit of history…
Era uma vez, há muito muito tempo atrás, homens brancos e fortemente armados ocuparam um pedaço de terra à beira-rio plantado; ergueram um pequeno posto militar (1581)sobranceiro ao rio kwanza, bem no coração da selva aonde viviam povos nativos e tribais que guerreavam entre si.
Estes povos eram ferozes e difíceis de controlar… viviam no mato, comiam do mato e moviam-se com agilidade no mato… os portugueses, embora com vantagem tecnológica militar, não eram capazes de submeter aqueles povos…
El Rei lusitano, qual Deus na terra, ordenava urgente captura de carne humana… o engenho das gentes lusas e a sua inabilidade em lidar com as tribos guerreiras locais, conjugaram-se para formar um ardiloso plano… eleger uma das tribos e arma-la convenientemente; a ideia era usar uma tribo (amiga) para capturar outras tribos e obter escravos em numero suficiente para enviar para as Américas…
… por falar em Américas, estou agora convencido que esta técnica (lusa) foi devidamente estudada e aproveitada pelo pentágono americano… ouvi dizer que foram os gringos que armaram e financiaram Bin Laden… e os Talibãs Afegãos… afinal de contas, esse método é bem português…
Anyway, construiu-se então uma fortaleza naquele local, no ano de 1609, um entreposto comercial, aonde eram presos os escravos obtidos e vendidos aos agentes de trading internacional… para El Rei engordar.
Conta a lenda popular que, erigida do nada, surgiu repentinamente uma capela, a capela da Muxima, por obra de um milagre da Santa Maria, que terá tido duas aparições no local na primeira metade do século XVII.
Muxima, que significa coração no dialecto Kimbundu, é uma zona de forte tradição de magia e bruxaria, pelo que o "surgimento milagroso da capela" terá sido uma demonstração de poder de Maria sobre as outras poderosas tradições da área.
Esse facto alimenta a suspeita de que o local já era considerado sagrado pelos autóctones antes da edificação do templo. Neste sentido, os colonizadores terão edificado o templo católico sobre o local sagrado dos povos locais, como forma de mostrar o seu poder e submete-los psicologicamente.
Com efeito, a dominação dos deuses de um povo tem sido uma técnica de submissão dos povos usada por várias potências imperialistas ao longo da história da humanidade. No meio de toda essa amálgama de lendas, milagres, mistérios e contradições, desde 1645 - e quiçá muito antes - que Muxima tem chamado a si corações de milhares de pessoas que junto dela falam das suas preocupações, angústias e desejos. Muita gente vai à "Mamã Muxima" na esperança de que esta resolva os seus problemas de saúde que a ciência não tenha conseguido debelar, outros vão pedir que ela lhes traga dinheiro e os livre da pobreza em que vivem.
Não raramente pessoas há que vão à Muxima para entregar-lhe a vida de alguém.
A viagem…
Bom, a viagem começou cedo… às 8h estavamos prontos para a viagem… esperavam-nos cerca de 210 km… Littlejohn e eu próprio queríamos conhecer aquele local.
Logo a seguir a Sangano, a uns 90 km de Luanda, deparamo-nos com uma placa a indicar o caminho para a Capela da Muxima… 120 km.
Ok, esses quilómetros seriam todos debelados em terra batida e frequentemente esburacada, rumo ao interior do parque nacional da Kissama, aquele mesmo parque aonde há uns meses fizemos um safari… lembram-se? pois, mas este parque tem uma área de 10.000km2… ou seja é cerca de cinco maior do que o distrito de lisboa ou braga.
E… bom, confesso… adoro viagens que metam jipes e estradas em terra…
Logo à entrada uns miúdos… parei o carro e abri a janela; qual foi o meu espanto que um dos miúdos, quando viu a minha cara, ficou aterrorizado… a chorar… parecia que tinham visto um monstro… enfim, a minha cor de pele não ajuda lá muito… marcou-me e, pronto admito, magoou-me um bocadito… afinal, não acho que seja assim tão feio… deve ter sido da minha companhia… :)
À medida que ia-mos avançando rumo ao interior da selva, a paisagem transformava-se lentamente… uns embondeiros de onde em onde, umas arvores espaçadas em extensas porções de terra, típica savana, foram dando lugar a uma paisagem mais verde e mais cerrada… à medida que avançavamos sentiamos a presença de maior vida animal… uns macacos a atravessar a estrada, águias, gazelas, muitas ‘fraacas’…
Paramos várias vezes durante o caminho… a cor da estrada alternava entre um cinzento claro e um vermelho forte…
Enfim, ainda quis imitar a capa do livro de Miguel Sousa Tavares – SUL – mas saiu aquilo (em cima à direita)… um tipo de olhos fechados… bem, na verdade o fotógrafo não é lá grande coisa e, bem, faz jus a própria alcunha no que a arte fotográfica diz respeito… embora, diga-se, fique muito bem à frente da camera (em cima à esquerda).
A paisagem é magnífica, de um verde estonteante… experimentamos suster os sons das palavras e o barulho do motor… e ouve-se estranhamente o som do nada misturado com todo o som dos animais da selva, que vão ululando aos pios e urros ecoando sucessivos alertas de perigo à sua própria comunidade… afinal de contas, dois animais esquisitos com semelhanças aos conhecidos macacos, mas estranhamente altos e com penugem singular, desassossegavam o quotidiano da vida selvagem… seríamos predadores, ou meras presas?
Nunca gostei lá muito de obter certezas a esse respeito…
A gazela não podia fugir desta vez… sai do carro, com algum cuidado, e ainda consegui apanhá-la… voilá
Estávamos já muito perto da Muxima… a povoação é muito pobre e vive em casas ainda feitas de estacas de paus forrada a paredes de lama ou barro…
A avenida principal da Muxima é fantástica… e tem bibliotecas e salões de beleza…
…. e roças modernas….
… e algumas estruturas de cultura lusa…
… e nativas a tomar banho e lavar a roupa…
… e miúdos simpáticos…
… e capelas e fortes…
… e árabes e mais árabes…
… e arcadas…
… ahhh e a Capela da ‘mama Muxima’
… e cruzes… e terços…
… e rapazes e raparigas…
… e estilosos…
… e imaginação…
Nota final…
… a viagem foi fantástica… littlejohn and my self na descoberta de africa.
.
1 comentário:
Fantásticas imagens e descrições...
Na Mamã Muxima está um letreiro verde... foi a mensagem que ouvi hoje de manhã... em casa de meu Pai.Tão perto que nós estivemos!X
Enviar um comentário