sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

…atingímos o clímax…

… “ultramar”… “ultramar”… são expressões que se ouviam amiúde… há uns bons anos. Nessa altura, a ideia era manter sob o domínio da ‘pátria’ as colónias além mar… jovens da dita pátria durante uma década partiam em navios… devidamente fardados… em ‘calção colonial’.
Regressavam uma vez por ano… num total de dois… ou mais… uns de pé… outros deitados. Não existiam formas de contacto… não havia internet, web cams… não havia telemóvel, o telefone era coisa rara e as ligações não eram fáceis… não existiam satélites de comunicações.
Postais e cartas eram a forma usual de se comunicar com a família… que esperava as ditas com a ansiedade de quem desconfia do pior… as noticias corriam… de boca em boca… o vizinho complementava a informação do outro… e o outro vizinho a do outro ainda… assim sucessivamente… e em círculo, a informação era espalhada… actualizada por cada um… uma rede de pessoas unidas pelos mesmos interesses… que partilhavam entre si as alegrias e as tristezas… assim foi Portugal em tempos idos… tempos de guerra…
Tal foi o impacto psicológico que aquele período teve nas pessoas envolvidas, que ainda hoje, se reúnem uns com os outros… em festas comemorativas.
Participei em algumas delas… ainda miúdo… levado pelo meu pai… e fiquei com a ideia até hoje, que aquela gente… os sobreviventes tinham uma relação única… nem a mãe, nem a mulher… ninguém… os conhecia tão bem como os parceiros de luta daquele tempo… do que somos ou não capazes só o revelamos em situações extremas… e isso sentia-se… conseguia-se respirar o comprometimento entre uns e outros.
Hoje, as coisas não são assim… desde logo porque não há guerra… no entanto também partimos … de igual forma deixamos a família… os filhos a mulher a mãe os irmãos… procuramos algo que o nosso próprio país… por quem muitos deram a vida… não nos consegue oferecer… fazemo-lo sem a imposição coerciva de outrora… mas de igual forma, somos levados a faze-lo… pelas circunstancias de cada um…
Fizemo-lo por diversas vezes na nossa história… nos descobrimentos… no estado-novo ás escondidas… contrabandeados… a pé… rumo a frança, suíça, luxemburgo… embarcados até á américa do sul, eua, canada… em naus… em paquetes…
Vivemos em constante fuga da nossa pátria… cinco milhões… e sinceramente duvido que o problema seja individual… de cada português individualmente considerado… ou apenas resultante do nosso génio de cariz aventureiro…
Na verdade, poucos povos tiveram a capacidade que os portugueses demonstram em se adaptar ás circunstancias… o génio aventureiro do povo lusitano deu, porém, resultados… exploramos os recursos do brasil, de angola, fomos traders exclusivos das especiarias do oriente… portugal obteve grandes proventos do génio do seu povo…
A realeza e todos os sucessivos chefes de estado subsequentes… com estimadas excepções… fizeram desses proventos o uso que muito bem lhes deu na gana… mas portugal… nunca aproveitou de forma sustentável… essas injecções de capital … tudo foi gasto em futilidades… em obras sumptuosamente caras… em desnecessariadades…
“… desmanchámos as casas, tornámos de volta, pobres numa muleta… acabou-se a teta.. ao serviço de grandes senhores, regressamos de vez, confiado nesta promessa, enganado nesta esperança…” Fernão Mendes Pinto
… e de novo uma nova esperança… Portugal na CEE… fundos comunitários… 1985… Mário Soares dá corpo á adesão. Dez anos de mudança profunda se seguiram… pelas mãos de Cavaco, portugal desenvolve-se a um ritmo promissor… chega a ser internacionalmente apontado como exemplo a seguir.
… divida externa controlada, investimento em infra-estruturas, inflação a descer, pib em bom crescimento… condições de vida a melhorar… positividade… estabilização do escudo.
… 1995 a 1999… atingimos o clímax… o povo tinha finalmente dinheiro… emprestado… o estado gastava… o ritmo da construção acelerava mais… o pais endivida-se… alegremente… o deficite da balança comercial agravava-se… a produção agrícola era desincentivada… a frota pesqueira abatida… a industria portuguesa fica sujeita á concorrência (desleal) da china que entretanto entra na organização mundial do comércio… pela mão amiga dos eua…
…incentivam-se projectos… sem valor… incentivam-se projectos que previlegiavam a elegibilidade de apoios a activos sem qualquer rentabilidade económica… gastou-se o dinheiro comunitário em equipamentos de escritório, ar-condicionados, financiaram-se maquinas de calcular, computadores, estantaria, empilhadores, gruas, obras de readaptação não sei de fábricas ou de casas particulares, maquinas usadas inadequadas vindas do exterior como novas… a avaliação de projectos por um organismos, o iapmei, cujos quadros apenas viam papeis, que pela formação que tinham desconheciam sequer para que serviriam as ditas máquinas… financiaram-se formações profissionais hilariantes…
…incentivavam-se mega-investimentos de multinacionais com tudo o que isso trás de bom e de muito mal… excessiva dependência a meia dúzia de empresas… como estamos agora a assistir…
… sem que algum idiota de entre todos os idiotas políticos que passaram a governar a ‘pátria’… se tivesse apercebido que a divida de Portugal ao estrangeiro aumentava paulatinamente… de 20% em 1995… para 90% em 2008…
… e de novo estamos como nunca estivemos… mal… e sem perspectivas… esta situação configura uma situação de falência… como no tempo do governo de soares… e das negociações com o fmi… a chamada bancarrota… regredimos, pois, novamente… trinta anos… com a agravante que destruímos todo o tecido económico que éramos conhecedores… do qual tinhamos know-how. Hoje dependemos de uma quimonda… de uma autoeuropa etc e tal.
Necessitamos de ser governados por pessoas de excelência… e não por produtos do marketing… o país não aguenta mais esta casta de incompetentes que assaltaram a liderança deste país… precisamos de uma colheita de políticos com sentido de objectividade… de missão… com experiência… com cultura… com visão… com muita dedicação e trabalho… precisamos de um ‘presidente do conselho’… em versão democrática… que volte a unir o povo em torno de um objectivo… como nação europeia… num desígnio… recuperar sustentávelmente a economia de Portugal… sem demagogia… sem falsas promessas… que possa indicar um rumo nos diversos sectores económicos… alguém no qual se possa confiar… a definição clara das potencialidades do país… nos diversos sectores… alguém objectivo…
Paralelamente não precisamos de lideres generalistas… de bom discurso… de pessoas com capacidade argumentativa… que nos fazem crer que o branco pode ser preto… de carreiristas de partidos… que nada fizeram de relevante na vida para merecer tais cargos… de profissionais da politica… e do parlamento… e do governo… não mais… esta estirpe de gente… que vivem á tona… como…
Resta-nos, enquanto esses messias não chegam, esperar que os lideres de outros países consigam fazer aquilo que os nossos não conseguem… e por esse efeito disfarce a incompetência dos nossos e nos alavanque para alguma melhoria daí resultante… resta-me, felizmente, a consolação que o mundo não depende de nós… dos nosso governantes… claro está.
… e isso é muito muito positivo…

2 comentários:

Anónimo disse...

É tudo um ciclo. Não há como fugir nem como não passar pelo mesmo. Aguarda-se pela volta boa.

Anónimo disse...

O pior é que já ninguém está realmente de D Sebastião, num dia de nevoeiro...
O pior é que já nem mito temos...
Entramos no reino do fantástico: óculos, espelhos,câmaras, apenas servem para refractar uma realidade vazia de sentido.Uma realidade draconiana:ele olhava-se ao espelho e não se via,lembras-te?
Bjs