segunda-feira, 11 de agosto de 2008

quando são mulheres… é o diabo

Isto ‘num’ pára… o pessoal da empresa assola-me com pedidos variados… nem sei bem porque vem todos ter comigo, ao que julgo saber não tenho o pelouro do pessoal ou recursos humanos… mas pronto é porque é assim... toma lá; costumam também deixar ‘bilétes’ na minha secretária… um dia vou publicar alguns, são dignos de serem vistos.
Os temas tem sempre a ver com a mesmas coisas…funeral na sexta… casamento no sábado com cabeleireiro na sexta… dentista na sexta… mudança de casa na sexta.
“ok… vai lá ao dentista arrancar o dente… mas de tarde vem cá porque precisava que fosses…” eu disse; “doutô… di tardi… num dá, tem qui discansá depois do dentista…” ele argumentou; mas claro… que ideia a minha, onde é que estava com a cabeça.
“sinhor doutô… quando fui para avisare já tinha saído… mais uma vez tenho que ir ao funeral do meu cunhado… desculpe mais uma vez” dizia um bilhete. Não me contive, tive que soltar uma gargalhada monumental… já era a segunda vez que ia ao funeral do cunhado… mas ok eu percebi a ideia… adoro estas coisas.
Coloquei uma observação no bilhete mas não tive coragem de o reentregar, que dizia “á terceira… será de vez? da próxima vez que o seu cunhado falecer… avise-me com uma semana de antecedência, a empresa gostava de enviar umas flores, ok?”
Depois são as férias… vem todos pedir ‘autorização para gozo de férias’ das que estão por gozar… depois de aprovar tudo quanto me põem á frente para aquele efeito… vêm mais tarde negociar as mesmas. “doutô á fulana quer negociar…” dizem. “negociar??? o que me quer vender?... ” pergunto eu com um ar imbecil. “hã doutõ… o doutõ tem qui ajudá o péssoá… é prá negociar ás féria… trocá por dinhéro…” dizem-me. “… é suposto haver algum leilão?” pensei.
Isto parece fácil, mas não é; vejamos… eu não sei se posso autorizar férias a cada uma das pessoas… desconheço ainda as suas funções, não sei sequer a importância de cada uma no funcionamento da empresa, portanto não tenho remédio leva tudo pela mesma bitóla… “bom… primeiro quero que o chefe de cada departamento escreva um comentário ao pedido de férias de cada elemento… e só depois analisarei a questão”.
Na realidade tiro constantemente a água do meu capote… não tem outro jeito, manos.
Mas é aí que começam na realidade os problemas laborais, a intriga, a inveja, a maldicência… uns para com os outros… enfim. Vêm fazer queixa deste e daquela e daquele.
Tenho sido algo duro nestas questões… já não vem aqui por dá cá aquela palha.
Gerir pessoas numa empresa, não raras vezes se assemelha a entrar num galinheiro e tentar apaziguar a bicharada… o barulho, todos a falar ao mesmo tempo, os conflitos de interesses… á que ter uma postura firme, sem vacilar, responsabilizar cada um, e não deixar falar ninguém… se fala um, está tudo fo… e depois quando são mulheres… é o diabo. Felizmente respeitam-me… até ver... ter algumas brancas no cabelo até tem algumas vantagens.
O patrão sim, esse é que foi fino, paga-me para eu os aturar; o preto que resolva…
Na verdade não me custa muito… até gosto de ver certas e determinadas situações.
Mas agora, depois de perceber a coisada toda, escalonar o pessoal e tal, vêm-me com a história de negociar… eu sei lá se é costume ou não, se o patrão quereria… não sei, deixam-me a mim decidir estes pincéis... quer dizer.
Portanto negoceio tudo… mas fui avisando as galinhas que ‘sextas-feiras santas’ tem que reduzir… só me sento á mesa de negociações com quem tem cumprido com o seu trabalho…
Na verdade o galinheiro gosta de mim, porque a primeira medida que tomei foi inscrever toda gente na segurança social… e isso foi apreciado… soube depois que era uma luta antiga… o pior é se não era suposto fazê-lo… mas, tou nem aí. E depois anulei alguns procedimentos bancários que estavam a fazer engordar os bancos em detrimento do pessoal... e isso caiu bem no estado de alma daquela gente... o pior é que agora querem subsidios para isto para aquilo; empurrei essa questão para o final do ano... após avaliação do desempenho... safei-me.
“doutô… préciso di falar… o salário é baixo… eu desempenh funções de relaçoes públicas, andu nus banco, é muita risponsabilidadi… tem qui vê o sálário” disse o motorista chefe da empresa. Parece-me que nunca ninguém tratou desta gente, isto andou abandonado durante alguns anos, e agora passam a palavra uns aos outros acerca da minha pessoa e é o que se vê… ando a pensar mandar fazer uma porta nas traseiras… e seguranças á entrada...
Nunca pensei que tivesse tanta paciência como aquela que tenho tido… estou estupefacto comigo próprio… muita calma, no stress… estou inclusivamente a pensar pedir-me um aumento a mim próprio…
Em todo caso pelo andar da carruagem acho que vou precisar de um assistente para me ir dizendo os costumes, habitos desta gente... e fazer o trabalho de gestão do pessoal... caso contrário fico sem tempo para... pensar nas finanças.
O meu grande pai, na sua particular sabedoria, dizia que o sinal exterior de um bom administrador era ter a secretária vazia, sem papeis... e sem nada que fazer... e na verdade sabia bem o que dizia... é suposto saber delegar, com prudência, todas as funções em terceiros e proceder apenas ao seu controle geral; desta forma temos tempo para pensar no que é verdadeiramente importante sem nos perdermos com merdas.
Ainda não cheguei aí... mas estou a tratar de o conseguir... tenho primeiro de confiar em quem delego.
Mas o que me apetece mesmo é ir para o mar… pescar, ver, observar, ir á ilha mussulo, ás cascatas, ao parque natural, ao huambo, lobito.
Estou a pensar mandar vir o meu iate, o fuzileiro 'marixór', leva sete pessoas e é o ideal para estas águas… penso eu de que. O co-proprietário do iate, o 'sôr arquiteito da cambra', está de acordo e também quer vir cá ‘botá-lo’ na água, beber umas 'cirbias', comer umas lagostinhas, e dançar o kizomba; podia aproveitar e trazer o 'de carvalho'. Cá os espero… entretanto vou tratar de obter a carta de marinheiro… se é que existe tal coisa.
A viagem á praia de Sangano foi fantástica, a paisagem é mais próximo da ideia que tinha de África; senti pela primeira vez a dimensão das coisas… e é algo que não se traduz pela escrita… apenas se pode sentir… o horizonte que não acaba, a escala das coisas, o enquadramento, a vegetação…
Á medida que ia descendo rumo a sul, a paisagem transformava-se… nada tem a ver com Luanda, absolutamente nada. Passei o miradouro da lua, local fantástico, com uma atmosfera mítica, lunar, subaquática, marciana…eu sei lá, nunca estive num local que congrega-se tudo aquilo… é de facto especial…
Deu-me a ideia que á medida que ia descendo rumo a sul tudo ia melhorando em aspecto, natureza… “pára meu… a máquina… macacos” disse eu. Parei junto a um bosque logo a seguir á ponte sobre o rio kuanza… montes de macacos nas arvores a saltar.”não saias pá… ainda…” ; saí logo do carro, fui direitinho para debaixo da árvore dos macacos; eram uns vinte; saltaram todos para outra árvore por cima de mim, aos saltos, galho a galho; tive uma sensação agradável, uma sensação que só temos quando somos crianças… já nem me lembrava … apetecia-me ir atrás deles… “boa porra a maquina está sem bateria… vai mesmo com telemóvel”;
Vi o que poderia ser o mais próximo da selva… vegetação abundante, macacos… mas receava as cobras… por isso não me aventurei muito; se tivesse umas botas ainda entrava na minha selva. O pior é a minha 'jane'... as saudades... gostava de poder partilhar estas coisas.
Por mim ficava ali mais tempo… mas o dia aqui acaba cedo… da próxima vez vou levar bananas para ver se os macacos vem ter comigo.
Chegamos ao quilómetro cem para sul; Sangano… praia lindíssima, pouca vegetação, mas linda; a miudagem é muito fixe, ao contrário do que se passa em Luanda, todos querem ser fotografados; um país com pessoas tão diferentes…
Em Luanda as pessoas levam a mal se as fotografo… não querem… resmungam… não se pode fotografar nada; edifícios públicos é proibido, as pessoas, não gostam… é uma gente esquisita… um policia mandou-me parar porque eu fotografei dentro do carro a rua comercial; “diz aí ao mano para não tirar fotografias…” disse o sr. agente ao meu motorista. Eu ao lado disfarçava… eeu a tirar fotos… que ideia…
Outro dia estava a observar um policia sinaleiro que me chamou a atenção… era absolutamente fantástico… vim a saber que ganhou uma série de prémios. O tipo está no meio da estrada em cima de um estrado, com luvas brancas. Os gestos que faz são deliciosos, parece que está num filme oriental, de artes marciais… em camera lenta gesticula como se estivesse a praticar yoga, kung fu; quase fica deitado na horizontal suspenso no ar, a mandar vir os da esquerda, com uma mão lá em cima revirada a gesticular; de repente parece-se com um perdigueiro a apontar os que vem de frente, numa mistura de artes marciais, com dança kizomba, dança do ventre, perdigueiro; bom mas estava lá a observar o tipo há uns bons dois minutos, deliciado, nem reparei que estava em frente do ministério do interior… “ó amigo… siga toca a andar…” disse um guarda de metralhadora na mão; não falou muito, mas o gesto… fez-me desaparecer como um ninja…
Mas pronto são assim… outro dia numa rotunda fotografei dentro do carro umas vendedoras de fruta… ficaram aos berros, a protestar. Fiz a rotunda outra vez… e tirei mais uma foto… caiu o carmo e a trindade. Mas como sou um tipo um tanto ao quanto nojento tornei a fazer a rotunda, parei a uns dez metros… e tirei outra fotografia. Abri o vidro… ri-me… cumprimentei as donzelas… devem ter achado estranho… não esperavam a ousadia, o facto é que todas se riram…
A viagem de regresso é que foi uma verdadeira odisseia... mas se estou a escrever é porque sobrevivi... no problem.
Tive a brilhante ideia de regressar por outro caminho vindo de luanda sul... disseram-me que haveria uma estrada que ia até muito perto do aeroporto... e portanto "mr.ivan conheço uma estrada do melhor... direitinha até casa..." disse eu com ar entendido.
Apesar do imenso transito a coisa rolou até um cruzamento em obras... tive a impressão, a julgar pelos meus calculos astronómicos, que o mar era para o lado da lua, consequentemente virei á esquerda. Era já noite cerrada... mas eu continuava confiante na avaliação posicional do calhau celeste... lembrei-me várias vezes dos marinheiros portugueses, da forma de navegar... os astros, as estrelas... e pronto fiquei convencido que na realidade sou português, mas marinheiro nem por isso... pertenço áquela estirpe de tugas marinheiros que se perdeu e de cuja vida não reza a historia...
Estavamos completamente perdidos... mas o pior era o ambiente das ruas. Nunca vi nada assim... o ivan estava com aspecto de quem se estava a despedir mentalmente do mundo; deu-me para cantar o tema dos pink floyd "goodbye cruel world...", o ivan queria que desse a volta.
Em boa verdade não podia dar a volta... passamos pelo miolo de um conglomerado infindável de casebres, estrada em terra com buracos do tamanho do jipe, e depois dar a volta dá muito nas vistas.
Disse ao ivan para baixar as palas... para não verem dois branquelas ou 'pulas' alí sozinhos... mas a estrada estava a desembocar numa outra ainda mais pequena... não sabiamos se tinha fim ou não... iamos assim tipo desconfiados.
O ivan não queria perguntar a ninguém o caminho... tinha receio. Persuadi-o a perguntar só a raparigas... ficava mal se não o fizesse... e eu já sabia, este tipo de coisas resulta nos homens; é aquela cena do macho não tem medo de rapariga e tal... e assim fez algumas ignoravam mas outras lá foram indicando o caminho.
A dimensão daquilo era assustador... tenebroso; mas em boa verdade devo estar completamente inconsciênte, ou então já terei visto daquilo em filmes e habituei-me; não senti, apesar da envolvente, grande grande medo; mas ando surpreso comigo, confesso. Aquilo era para ter horror... não conheço nada que já tivesse visto que se assemelhe, por isso nem estabelecer uma comparação posso; talvez o filme madmax.
E pronto fomos aparecer a meio da estrada que vem de viana para luanda... essa sim já conheciamos... um pesadelo de outrora... uma estrada amiga do presente.
O ivan até já cantava... então quando viu a estatua do agostinho neto... já abria a janela...bem estava na segurança absoluta da cidade de luanda.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem pai!Gostei muito deste post!bjs da tua filha maggy

Anónimo disse...

Uau!já faltava o texto! magnifico!Gosto de saber o que fazes e como passas os tempos livres...Adoro quando imitas os "manos"...Sinto que tas bem!Se não fossem as saudades dos "teus queridos" podias estar muito bem!Grande abraço!

Anónimo disse...

Doutô, estô à gostá dos téu Post.
Tenho-me rido bastante e fico contente que esteja a correr tudo bem. O teu blogue dá dez a zero a políticos proeminentes da nossa praça. Alguns já nem sabem o que hão-de escrever e fazem “copy-paste “. Espero beber um copo contigo brevemente ! Quando tiveres facturas minhas vê lá se as despachas rapidinho ! Um abraço do Rori… e bibó Puarto !