terça-feira, 8 de julho de 2008

Bom dia doutô

"Bom dia doutô.. vi suas camisa ná gaveta; engomei direitinho ... pu lá nu cabide."
"ha é ... obrigado senhora" eu disse. "ha doutô vi lá uma bousa ... deixei ná gaveta".
"boa porra a mulher descobriu a minha carteira" pensei। Corri disfarçadamente para o quarto, estava lá direitinha, deixou no meio da única camisa que não engomou. Gostei. Em todo caso já mudei a carteira 500 vezes de local; sou assim, não há nada a fazer; ás vezes fico irritado comigo mesmo por ser assim, mas não resisto a muda-la outra vez.

Bem, há três empregadas na casa, uma cozínha, outra faz a limpeza e outra lava a roupa; depois tem dois seguranças á porta da casa, um fora e outro lá dentro do pátio a ver televisão; autênticos rambos; feras intimidoras; digo-lhes sempre “bom dia senhor” e invariavelmente respondem “brigado doutô, brigado” (tinhas razão Lou)। Oito da manhã lá fora está o motorista Nelson á espera para me guiar pela selva urbana. Rapaz simpático, culto, 34 anos, cinco filhos (quer ter sete) estuda á noite económicas tipo curso médio.


“não quero ir prá Portugal tenho lá amigos e familiares e se lhes telefono a pagar no distino não aceitam; é porque não estão bem, não acha doutô”। Gostei da dedução, confesso.


O transito é qualquer coisa de assustador. Absolutamente caótico. Sem quaisquer regras. Não me atrevo a pegar no jipe para guiar um metro. Para andar 4 km demora-se uma ou duas horas. Ando espantado com isto, fiquei a saber que o seguro automóvel NÃO é obrigatório por lei. Portanto quando se tem um acidente um toque num outro carro a culpa é sempre do branco. Por mim está bem. Juro que não vou discutir.

O gasóleo custa cerca de 0,40 usd, uns 0,26 eur o litro. Oh Zé Eduardo , mais valia dá-lo. Angola é o maior produtor de petróleo de toda África; dois milhões barris por dia; dizem as más línguas que um dólar por barril fica com o sr. supra citado cujo nome shall not be spoken. Hoje o referido sr. resolveu dar uma volta pela cidade para ver as obras em curso, levou as damas de honor, cerca de duas mil, vestidas de verde, boina preta, óculos escuros, cheias de estilo. Sim senhor. Fez-me estar uma hora a apreciar o desfile. A dez metros do desfile uns carros davam a volta para ver se se esgueiravam por outra via. Há três anos quem se mexesse enquanto passa o (desfile) era agraciado com uma salva de fogo e umas festinhas, agora não, já se pode dar a volta, inverter a marcha, até dez metros; não convém abusar; podemos ofender as damas. Achei útil a informação. Não me vou aproximar das damas em desfile, “jamais”como diria o nosso Lino das obras pública.

A caminho para o trabalho passo por bairros do melhor que há। Vendedores ambulantes e rapazes deambulantes. “aah cuidado com o rapaz” disse eu ao motorista Nelson. Já não fui a tempo. Acertou em cheio no rapaz com uns 13 anos. Aquilo estranhamente pareceu-me ser normal. O rapaz nem discutiu; continuou normalmente. “Então Nelson o que foi essa mer... podias ter ferido o rapaz” eu disse. “ Não doutô, esses rapazes, quando vêm um branco no carro ficam testando, passando devagar á frente do jipe, o branco pára e depois vem outro e pumba, assalta; é á liamba”. “ Como sou ingénuo” pensei.

Outra coisa que aprendi é que não devo usar cinto de segurança pois tal é visto como sendo carne fresca europeia. Mas esta regra não é universal. Nas zonas más de Luanda tenho que usar cinto. “ F... ó Nelson não estou a perceber a lógica, afinal uso cinto ou não”. “Bem doutô nas zonas más vou ter que travar fundo e acelarar como aconteceu com aquele rapaz a um bocado e o doutô tem qui tar seguro”, ele disse. Pois, pois, é que não acerto uma.

Chego finalmente ao trabalho. Tarde como todos. Dependentes do humor do tráfego. Segundo dia de trabalho. O chefe supremo e todos os seus compatriotas foram para Portugal receber o líder religioso deles que vai estar em Lisboa; vai lá ficar mais uma semana; o director geral está quase quase a ir a Portugal, ansioso; diz que já não consegue ficar mais do que dois meses seguidos em Luanda; “dois dias e eu também já ía” pensei eu.

3 comentários:

BibaRita disse...

nao vinhas nada! agora que gostamos tanto de ler as tuas "aventuras" por ÁFRICA! isso parece a selva urbana! Adoro Tio! Adoro ler os teus post!! Sao espetaculares!
Beijinhu grande cheio de força!

Anónimo disse...

xiii sei bem do que falas! mas é só até ires a Mussulo... Grande abraço e boa sorte na serva Tarzan!
Kiko

Anónimo disse...

este é o post que eu mais gosto pai.esta muito bem.sim senhora .apoio a ideia da tete em pensares em escrever um livro talvez sobreas cronicas da terra ardente pensa seriamente no assunto ook???