quarta-feira, 18 de março de 2009

Conversas da treta… II


“ahh… mãe, num podi, ela me deu uma chapada… e cuspiu ná mia cára… como vou pérdoá???” dizia o motorista nelson ao atender o telemóvel.
continuou “ não mãe… ELA CUSPIU NÀ MIA CÀRA… ahhh… e dipois deu uma chapada…não dá prá esquecê… mais eu dipois ligu… não não, mi liga você que eu num tenh sáudo… meia hora”.
“ atão nelson… houve coisa feia lá em casa, não?” eu perguntei curiioooosoo.
“uichhh doutô mulê é chata mésmo… num podi continuá… vou prá casa da mia mãe” ele respondeu fulo da vida.
“atão mas o que é que se passou pá?” eu perguntei interessado na fofoca.
“ahhh doutô ELA é MUIIITU ciuménta… num podi vê uma mensagi… qui fica logo á pensá coisa” ele confessou e continuou “ … num tenh culpa di récébê mensagi… não é doutô?”
“pois… é pá… tens sucesso com o mulherio, não é… nessas alturas um gajo devia era abraça-las e tal… mas compreendo um gajo fica fulo, não é?” eu disse.
continuei “humm as mulheres são assim mesmo nelson… olha a minha é tal e qual… embora ainda não me tenha dado qualquer chapada… tão-pouco me cuspido na cara… mas já desligou o telefone variadíssimas vezes na minha cara pá…“ eu confessei também.
“pois, mais num cuspiu… não tá certo não é doutô?” ele continuou.
“pois isso é verdade, não cuspiu… mas vontadinha não lhe deve faltar ás vezes…” eu disse a reflectir na coisa.
“e depois pá… não cuspiu é certo… mas também tem uns ciúmes de morte pá… vê lá estou aqui em Luanda não é… longe… então passa-lhe tudo pela cabeça… o que é natural… ás vezes deve pensar que coiso e tal… que ando para aí com o mulherio não é?” eu disse.
“ e o doutô ânda?” ele perguntou.
“ não pá… mas a questão não é essa… por mais que um gajo explique, ela fica a pensar sempre isso, percebes?” continuei “ pá… se um gajo fica em casa… ela diz para sair… se um gajo sai ela diz que um gajo está diferente e tal… e que chega ás três da manhã e não sei que mais… percebes?” eu conclui
“uichh… e como ela sabi que o doutô chega á éssa hora?” ele perguntou
“épa sabe, porque eu lhe digo, naturalmente…” eu respondi
“ahahah doutô… num podi… mulé num podi sabê tudo sinão fica pensando coisa… ”  ele aconselhou e continuou…
“mais ela tem qui vi cá vê… que o doutô trabálha muiiito… assim ela vai vê que o doutô chega a casa tardi do trabalho…” ele aconselhou.
“pois pá… ela talvez venha cá ver isto… lá para Agosto, a ver se gosta e tal…” eu rematei.
…. dia seguinte…
“e que tal… ainda estás na casa da tua mãe…” eu perguntei
“tô… mais sabi doutô… num aguento mais ficá ná casa dos ôtros… não dá, não é?... minha mulé já pérduou… e eu aceitei” ele afirmou
“humm… ai sim, então passou-te rápido… Nelson… eheh”
“pois… meu tio me disse qui á casa era mia… “como vai deixá á tua própria casa, nelson?” e “eu pensei e vou voutá” ele disse num tom ansioso.
“acho que fazes bem pá… e depois vê se não dás o teu numero de telefone por aí, ao mulherio… senão vai acontecer isso outra vez… “ eu disse
“ahhh… elas num mi lárgam… mais não é só isso doutô… é qui quando o téléfone toca eu ás vezis me levanto e vou fálá lá prá fora… e ela ficá pensá coisa… mas um homi não podi contar tudo á mulé… ás vezis são amigos… e queru falá á vontadi… mais ela é chaata… ciumeeennta… uichhh.” Ele disse
“ai ai Nelson… as mulheres são todas iguais nesse aspecto… mas também te digo os homens não lhes ficam nada nada atrás… aliás eu pergunto-te… se a tua mulhé recebesse assim uns ‘telefonemas’ de algumas ‘amigas’ e se levantasse… o que é que tu pensavas?” eu provoquei.
“como assim?... ahhh mais mulé é diferente… num podi andar aí á falá cu homi… “ ele respondeu
Fiquei a pensar no assunto… é uma questão cultural… que eu até aprecio… aliás muito…
… e lembrei-me que na viagem a Malanje, a determinada altura quis tirar uma fotografia a uma mulher típica angolana, com cesto de fruta na cabeça… e ela vinha acompanhada com dois homens… um deles com uma catana… o portista…
“amigo diga aí áquela mulher para vir cá… queria tirar uma fotografia juntos… ok?” eu solicitei
“não senhô… áquela mulé é casada… num podi fotografá… sem o homi dela autorizá… ele vem mais lá ao fundo…” ele esclareceu
Mulhé alheia não podi sê incomodada… de geito algum… eu pensei em geito angolano... e depois… se o marido tiver uma catana muito menos… ápre.

1 comentário:

Anónimo disse...

Magnífico diálogo!!!Fiquei encantada...
Cuidado com as'mulé'!Tens uma que vale por mil...