segunda-feira, 8 de maio de 2023

Bonsai

 - Bonsai-  


Romário (R)- Já te disse, não me sinto nada bem aqui. Parece que não sou deste mundo. Cansa-me até.


Bernardo (B)- Mas estás nele e fazes parte dele. Porque achas que estás aqui?

R- Pela mesma razão que ali ao longe, naquele penhasco rochoso, cresce uma árvore como eu.


B- Ao acaso?

R- Um caso de mero acaso. Os ventos, as chuvas, as tempestades e demónios... tudo, enfim, conjugado, deu nisto. Uma árvore que sobrevive no pedaço de terra ínfimo para onde a empurraram.


B- Quem te empurrou?

R- Nao sei, mal vi. Senti-me projetado para fora dos campos de origem de supetão. Um dia estava a começar a botar raízes lá, no outro apareci aqui.


B- E consideras isso um acaso?

R- Não sei. Não vejo mais ninguém aqui. Estão todos lá em cima onde há mais luz. E outros lá em baixo onde há mais água. Aqui, onde a luz rareia e a água escasseia, só estou eu. Se não for um acaso é o quê?


B- Pode ser um simples caso de miopia.


R- Que queres dizer com isso?

B- Quero dizer que neste vale talvez, ouve, talvez sejas o único entalado na encosta do penhasco. Mas há muitos vales e muitas encostas. E penhascos como este há imensos. Logo ali ao lado há um grandioso.


R- Então posso não estar sozinho neste penhasco?

B- Sim. Mesmo que estejas, estás acompanhado por milhares de outras sementes que devieram árvores empurradas para outros penhascos.


R- Não as vejo bem, estão muito longe. Devo ser mesmo míope.

B- Mas eu vejo-as.


R- Viste-as?

B- Não só vi como falei com elas. 


R- Como estão elas? Já botaram sementes? O que fazem? Como fazem? 


B- São como tu. Fazem o que tu fazes.

R- Então mas....

B- Algumas botam sementes.


R- Eu também já botei. Várias. Mas não fiquei com nenhuma.

B- Eu sei. A maior parte cai nos campos com água abaixo, outra parte voa para os campos com luz em cima. Outras morrem. 


R- As minhas que ficaram morreram mesmo aqui ao meu lado. Mas e as outras como estão lá em baixo e lá em cima?

B- Lindamente. São as mais resistentes. Lindas esplendorosas. Frontosas.


R- Porque não resistem ao meu lado?

B- Porque estás no penhasco. Tens pouca terra para ti. Muito menos para outras.


R- Então devo conformar-me, não é?

B- Longe disso. Tens de saber duma outra coisa.

R- O quê?

B- Um pouco abaixo do teu pedaço de terra há outro pedaço de terra que tu não consegues ver. E mais para o lado há ainda outro pedaço de terra que tu também não consegues ver.


R- ohh, a sério?

B- Sim. 

R- Eu quero estender os meus ramos e ir lá para...

B- Não podes. Tens de poupar esforços. Mas podes fazer outra coisa.


R- Qual coisa, eu faço o que for preciso. 

B- Não. Não faças nada. Estás no teu único espaço possivel. Confia na Natureza das coisas. Um dia vais ver que no pedaço de terra ao lado há-de cair um semente das árvores que estão lá em cima. E no pedaço de terra em baixo há-de cair uma semente tua que florescerá da harmonia fecundada entre ti e a que estará ao teu lado. De modo que quando crescerem para os lados e para cima, irão de encontro a ti. Só tens que ter paciência.


R- Tu viste isso noutros penhascos?

B- Constantemente. O teu dever é manter-te a postos e confiar no natural desenrolar das coisas. Estás numa escarpa em desenvolvimento.


R- Não seria mais rápido dar o litro e estender-me...

B- Podias até conseguir chegar lá. É provável que chegasses lá. Mas morrerias esgotado no esforço. Crescerias mais rápido do que as tuas raízes.


R- Não me importo de morrer na tentativa. Não me importo nada.

B- Não é uma questão de fezada. A morte é certa por esse caminho.


R- Qual é então o caminho certo?

B- Teres inteligência para não tentar mudar o que é não passível de ser mudado, paciência para lograr obter aquilo que naturalmente muda e te cai no prato.


R- Isso parece coisa de Bonsais lá do oriente. Eu sou um Pinheiro Bravo português e quero crescer até onde...

B- Onde estás, nesse pedacito de terra onde as tuas raízes estão enterradas, transformaste-te num Bonsai. Lindo por sinal. Dos mais bonitos pinheiros bonsai que já vi. 


R- Achas? Obrigado.

B- Sim, fica a saber que sou eu quem te apara os ramos em excesso enquanto dormes, para manter a tua compostura e resistência.


R- Quem és tu, afinal? Porque me queres tão bem quando as sortes me quiseram tão mal?

B- Bernardo, ao teu serviço. Designado para te guardar. 


R- És o meu anjo da guarda?

B- Sim, uma espécie de anjo da guarda. Eu vi tudo desde que nasceste até te agarrrares nesse penhasco.


R- Uau, então percebes tudo, inclusive a forma que usei para me manter erguido com dignidade e lançar raízes por fendas ínfimas por entre as rochas.

B- São essas que te sustentam agora. Caso contrário, as tempestades e os demónios ter-te-iam arrancado de novo.


R- Porque falas em demónios? 

B- Porque nem sempre há um acaso natural. Há casos dos diabos.


R- Queres saber uma coisa?

B- Diz.


R- Eu sinto-os. Acho que são os mesmos que me empurraram para aqui.

B- Talvez um seja. Os outros vêm por simpatia. Funcionam melhor em grupos. Revesam-se para destruir.


R- Como se chama ele?

B- Já te disse não é ele. É uma legião. E todos eles, noutros tempos, estiverem muito perto de ti. 


R- Porque fazem isso?

B- É da natureza deles. Atraiçoar, destruir, fazer o mal. 


R- O que posso eu contra uma legião?

B- Podes muito. Manter a dignidade das tuas raízes, continuar a ser um pinheiro bonsai honesto, crente na Virtude. Os demónios querem resultados rápidos. Incitam-te a ires por ali e por acolá. Mas tu tens ido por onde o Régio ia. 


R- Por onde ia esse tal Régio?

B- Estava como tu. Não sabia para onde ia, nem por onde ia, mas sabia que não iria por ali nem por acolá a que o incitavam a ir. Ia por onde a própria consciência o levava. 


R- Sem stresses, portanto. 

B- Sem stresses seguramente.


R- É de mim ou pareceu-me ver uma semente a pousar ali ao lado onde não vejo?

B- É mesmo. Pousou. 


R- Fazes-me um favor?

B- Claro.


R- Pressiona-a gentilmente para dentro da terra para que ninguém a veja ou a incomode. Para o ano já a poderei ver, talvez. 

.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Pensamento abstrato

 - pensamento abstracto e concreto -


"O génio lusíada [português] é mais emotivo que intelectual. Afirma e não discute. Quando uma ideia se comove, despreza a dialéctica; e é sendo e não raciocinando que ela prova a sua verdade.


A emoção afoga a inteligência, ultrapassando-a como força criadora. E assim, corresponde à nossa superioridade poética, uma grande inferioridade filosófica." (Teixeira de Pascoaes)

.


A razão para este fenómeno a que Pascoaes se refere é uma excessiva propensão dos portugueses para formas de pensamento concreto, em oposição ao pensamento abstracto mais prevalecente nos países do norte da Europa e da América do Norte (ingleses, alemães, escandinavos, japoneses etc).


O pensamento abstracto ignora (abstrai) as circunstâncias, o superficial e o acessório, para se concentrar naquilo que é permanente e essencial. O pensamento abstracto simplifica a realidade e é sobre aquilo que é permanente e essencial nela que constrói um argumento ou uma tese. O pensamento abstracto é o pensamento da ciência e da filosofia. 


O pensamento concreto, pelo contrário, concentra-se nos factos singulares ou individuais dando uma importância excessiva às circunstâncias e àquilo que é superficial e acessório. Ele mistura o essencial com o acessório e exprime-se contando episódios ou histórias acerca dos factos. Nenhuma tese emerge dele, excepto, às vezes, de forma implícita, como a moral da história. Esta é a forma de pensamento propícia à literatura e à poesia.


O pensamento abstracto é uma característica única do ser humano que o distingue dos animais. E também das crianças que até aos cinco anos não possuem pensamento abstracto.


Na fase do pensamento concreto, as crianças são incapazes de qualificar as informações que recebem dos seus sentidos com qualquer tipo de lógica. Um exemplo clássico disso é o da experiencia com as bolas de plasticina.


O estudo consiste no seguinte. O experimentador pega em duas bolas de plasticina de tamanhos claramente diferentes.


Depois de perguntar qual das duas tem mais quantidade de argila para modelar, o psicólogo esmaga o menor deles, dando-lhe uma forma alongada, e faz à criança a mesma pergunta novamente. 


Visto que a plasticina agora ocupa mais espaço que a outra bola, responde que a maior é a que possui uma forma alongada.


Como se pode ver, a criança é incapaz de entender que, se uma das peças tivesse menos plasticina e nada fosse adicionado, é impossível que ela agora tenha mais do que a outra. Isso acontece porque, nesta fase, o cérebro da criança está em modo de pensamento concreto (que é uma fase deliciosa para os papás e mamás). 


.

Cheirou-lhe a papinha


Cada um deita a cabeça na almofada onde o cão enfregou  o rabo como e quando quer. Por mim até podem comer pelo mesmo prato e partilhar lençóis.


O que me incomoda verdadeirmente é a partilha do espaço público com a bicharada.


 Nos resturantes e cafés e nas praias. Na semana passada procurei o melhor caminho na praia por entre os cocozes de dois canídeos femeas membros duma família constituída por dois sapiens sapiens. O sapiens sapiens macho apercebeu-se da sujidade que o canídeo fêmea espalhava. Mijinhas em cada casca de amêijoa encontrada , caganitas pelo sargaço e bastantes lambidelas nos rabiosques dos primos que por ali deambulavam. Famílias inteiras na praia é um festim imenso. 


Ralhou com uma das fêmea. A filha mais nova. E até a ameaçou com o dedo em riste, como quem diz: da próxima engoles pela frente o que debitas por trás, sua malandreca queriducha do papá. Vai buscar a bola enquanto eu apanho o cocó e faço um buraco na areia para o esconder. Vai busca busca. Dá cá, larga, busca, vem, vai, agora o pau...


Não tardou muito e o filho fez o que a natureza o impele a fazer. Comeu um cocó perdido do dia anterior. Sem dó nem piedade. E lambeu-o com convicção.  Parecia gostoso, embora com aspeto ressequido, provavelmente detritos intestinais doutros primos, sei lá. O papá não viu. Eu vi.


Eu vi o papá a tirar a merenda dum saco. Tirou um bolo e encheu um copo com água, creio. O filho canídeo também viu. Largou a bola que segurava na boca e correu para o papá. Cheirou-lhe a papinha. O papá comia e dava pedaços com os dedos que o cãozinho lambia. Partilhou o copo com o filho onde este metia a língua para beber. 


Esta partilha de cocozes dissolvidos no copo e nos dedos que levam o bolo à boca, embora não me abra o apetite, é bem capaz de garantir sucessão às ténias e aos oxiuros entre espécies. Dum instestino para outro.


O meu único problema reside nos pés. Nos meus ricos e feiosos pés. Mexer neles ou massaja-los deixou de ser uma prática aconselhável na praia. Eu que gostava tanto de dobrar os dedos, especialmente o pequenino e o maior, até ouvir um estalido. Eu que gostava tanto  de pressionar a zona cavada do pé, vejo agora que, se o fizer, estabeleço imediata candidatura a receptáculo duma oxiuríase e assim aspirante a promover gerações de novos oxiúros que um dia chegarão a ténias.

- Não me digas que já finei... -

 # Não me digas que já finei e nem dei por isso#


- Estás online primo?

- yá, ricardinho, quer dizer, não é bem online, é uma coisa esquisita que ainda não consegui bem perceber como funciona. Mas sempre que pensas ou diriges a mim, apareces-me imediatamente, como que por magia ou assim. Às vezes até és um bocado chato eh eh eh.

- oh, mas ainda não perguntaste aí aos espíritos como funciona a coisa?

- perguntei pá, mas esta malta são um bando de jarretas que também não sabem porque isso acontece. Mas acontece, e pronto.  Ando a pesquisar ali pela biblioteca do além, que fica perto do museu dos deuses antigos, à beira da padaria dos anjos que faz uns bolos divinais, o sistema operativo que esta malta usa.

- para hackea-lo?

- oh, lá estás tu.

- mas, olha lá, o pessoal por aí tem essas cenas todas?

- yá.

- Olha, eu cá pensava que isso aí era só contemplação ao Senhor ao som da música celestial com sininhos e muitos loirinhos de cabelo enrolado vestidos em túnica branca a flutuar e a tocar harpa... uma seca, em suma.

- Nada disso Ricardo . Ainda não vi ou senti esse Senhor de que falas. Dizem que foi criar mundos noutros universos e que só deve chegar por estas bandas daqui a muitos milhares de anos. Quer dizer, é o que dizem, mas esta malta não é de fiar.

- Conta conta Pedro.

- pois aqui há de tudo e temos acesso a tudo sem restrições.

- a tudo mesmo?

- yá

- Estás a reinar. Estás a dizer que tens acesso a tudo o que quiseres?

- sim, tudo.

- gajas também.

- pá, aqui não há gajas. Nem gajos.

- gajos dispensava...

- ... a sério Ricardo. O factor reprodutivo por estas bandas não tem cabimento. Logo, não há sexos. Hello!? somos almas.

- Começo a achar esse local pouco aprazível. Menos bom, vá, digamos assim.

- pois, mas gajas, por aqui, não temos.

- E saudades, tens saudades?

- Não.

- Não?

- Não.

- Então, mas não sentes falta de nós porra.

- já te disse, tu principalmente, fora o meu irmão e a minha mãe, apareces-me a toda a hora na minha mente, porque estás sempre com essa ideia fixa de pensar em mim. 

- isso incomoda-te, pelos vistos oh primo.

- não, não me incomoda nada, antes pelo contrário. O ponto é que não sinto saudade precisamente porque sempre que pensas em mim, apareces-me no radar.

- portanto, se deixar de pensar em ti, não te apareço aí nesse sistema. É isso?

- sim, é isso. Enquanto somos lembrados, (con)vivemos convosco.

- Então e aquele pessoal que já marchou há muito tempo e não tem ninguém por aqui que pense neles?

- são os tais jarretas que referi, não lhes aparece ninguém no radar porque toda a gente que conheceram está com eles.

- mas, então, oh primo, eles ficam nesse estado de jarretice para toda a eternidade?

- espera espera, está me aparecer aqui muita gente ao mesmo tempo.

- amigos e familiares?

- sim.

- Olha, manda-lhes, um abraço por mim.

- isso não funciona assim.

- não?

- não, eu estou em sintonia convosco e até convivo, mas na realidade vocês estão noutra dimensão.

- complicam o que é simples, é o que é. Então não era mais simples continuarmos todos em são convívio? 

- pá, o sistema está configurado com uma só via. Eu estou convosco na medida em que vocês pensam em mim, mas vocês não estão comigo.

- Então, como estou a conviver contigo? Não me digas que já finei e nem dei por isso.

- porque sonhas Ricardo e, nessa altura, as leis da física que o tal Senhor criou desabam e restabelece-se outro tipo de comunicação que nos permite dialogar. 

- ahhhh, olha lá, e as almas da familia, tens estado com elas?

- sempre. 

- como assim?

- lembras -te do post que fizeste acerca dos qubits e do entrelancamento quantico que estão em todo lado ao mesmo tempo a velocidade quântica instantânea?

- sim, lembro, mas não sabia que tinhas acesso ao que eu escrevo.

- pois tenho, mas por aqui é coisa semelhante. Estamos sempre na presença deles.

- ai sim, que incrível, então o que está a fazer o teu pai neste preciso momento?

- ahh, xacaber... está ali na cozinha, com cachimbo na mão esquerda, de pé, com um joelho apoiado no banco, a fazer prefácio do livro que está prestes a sair.

- está a fazer outro livro?

- sim, o título é "economia celestial" que será adoptado para formação económica das almas que ascendem ou pretendem ascender a anjos. Divaga sobre teses acerca da economia do tempo.

- do meu pai e da minha avó não te pergunto, tenho estado a par das suas actividades por aí mas, conta lá, já viste o meu sogro?

- já, já vi varias vezes. O mecânico é mesmo ali ao fundo da minha rua.

- e?

- anda sempre com problemas no motor do tractor. Um kubota alaranjado que ele conseguiu recomprar. Andou pela galáxia toda até encontrá-lo. Volta e meia aparece com o motor de arranque na mão para conserta-lo.

- e o que faz ele, então?

- É o responsável designado pela vinha lá para as bandas de saturno. Passa bom tempo a fresar a matéria escura e mais os anéis do planeta que parece terem bons nutrientes para produzir um vinho verde de excelência. Eu até já fui a uma vindima dele logo ali por alturas de outubro. Ainda mal tinha chegado.

- cum caneco. Mas vocês bebem vinho por aí.

- yá, mas faltava o vinho verde e teu sogro veio com a ideia fixa de pôr todos os anjos e arcanjos a beber aquele néctar.

- com melão e presunto, aposto.

- podes crer. Uma delícia. 

- olha lá, quando se vai para aí com que idade ficamos. Não sei se me faço entender. 

- o tal Senhor decidiu que seria escolha de cada alma decidir o semblante, o aspecto que melhor se identificam com a vida que levaram. Mas tem que se escolher uma fisionomia superior à idade de 15 anos, caso contrário isto era um bando de crianças.

- portanto pedrinho, escolhemos a nossa idade, aquela em que fomos mais felizes ou que gostamos mais, desde que acima dos 15 anos.

- isso.

- e tu, que idade escolheste para ti?

- os 16 anos. 

- malandro, é o tempo das paixonetas e das moças. Há falta delas aí, escolheste a idade em que tu (e eu) só pensavas nelas.

- eh eh eh. Mas não é necessariamente assim, há  muito pessoal que escolhe a velhice. Depende de cada um, não é?

- voltando atrás, vamos ver, caraças, então se a alma não tem idade para que raios vocês tem que escolher uma?

- olha, também não sei. 

- mas vocês veem-se mutuamente, quer dizer, precisam de ver o aspecto dalguém para o identificar?

- ahhh, não é propriamente ver com olhos, que esse já não temos, é uma espécie de match instantâneo. Como te explicar, é tipo uma rede wifi que capta imediatamente outra alma mas, em vez duma ligação simples, é-nos apresentado a figura e a presença doutrém.

- evoluído esse sistema, hein?

- yá, mas parece que vai surgir brevemente uma actualização que vai permitir uma interconexão imediata inter universos com outras almas.

- não sabem mais o que inventar.

- é por causa do fim dos tempos.

- como assim?

- pá quando for tudo encolhido no tal big crunch, quando este universo encolher até ao tamanho dum átomo, nada sobrevive. Incluindo as almas.

- ora bolas. 

- para evitar que as almas sejam engolidas nesse processo cíclico, que ocorre em dezenas de milhar de milhões anos, a actualização vai abrir a possibilidade de nos transferir para outros universos que o tal Senhor está a criar.

- e depois?

- depois do big crunch devirá outro big bang e este universo renascerá. Nessa altura nós voltamos e ocupamos novos corpos nos planetas que vão surgindo.

- ahh quer dizer, um dia voltaremos à acção numa encarnação qualquer.

- isso.

- e poderemos escolher onde e em quem encarnar?

- ainda não fui informado acerca disso, mas parece que vou ter uma acção de formação para esclarecer esse assunto.

- há um assunto que te queira colocar. Vocês têm capacidade de antecipar o nosso futuro?

- temos, sabemos tudo acerca da forma como se vai desenrolar as coisas.

- por acaso não tens aí à mão de semear os números do euromilhoes para o jackpot desta semana?

- tenho, mas estou liminarmente impedido de revelar o que quer seja acerca do futuro. 

- epá, eu não conto a ninguém. Vá lá. 

- não posso. Mesmo que tos diga há um bloqueio automático da mensagem. 

- esses engenheiros do sistema não brincam, caraças.

-

Revelações de ODIN

 - Revelações de ODIN* -


* Deus dos vickings 


Há uns dois anos fui operado a uma mão cujos tendões estavam a definhar e encolher os dedos progressivamente. Para mal dos meus pecados o defeito ocorreu na mão direita que é aquela uso mais para... meter mudanças no carro, coçar... as costas, apalpar... a fruta, fazer... a barba e acelerar na manete da mota. E para escrever também, se bem que agora se tecla e qualquer dedo serve.


Não me lembro qual o nome técnico da doença.


Seja qual for o nome, a médica garantiu que é uma doença comum nos povos escandinavos, donde são originários os vikings, onde cerca de metade da população a tem. 


Alguns desenvolvem sintomas, outros não. Eu pertenço invariavelmente à facção que desenvolve, na mais pura confirmação da lei de Murphy.


Avançou mesmo, e depois confirmei na literatura médica, que se trata duma doença que só ocorre nos países onde os vikings estiveram ou conquistaram. Por essa razão é conhecida como doença dos vikings. 


A maleita vem do lado materno, que descansem os Bravos, porque isto é assunto da genética dos Morais, já que a minha mãe e os meus irmãos tem pequenos sintomas da doença sem desenvolvimentos maiores. Foi -me dito que o primo em sexagésimo grau Pinto Balsemão da Sic também tem essa maleita. Eu simpatizava com ele, agora percebo que seria uma empatia genética. Força nessa mão, primo.


Anyway, portanto, tive ontem uma revelação que Odin me fez enquanto dormia. Algures há mil anos, quando os vikings atracaram em Portugal, um deles ter-se-à apaixonado por uma mulher lusitana e, dessa relação, foi gerado um filho ao qual lhe foi transmitido os genes do pai viking e da mãe.


Esse moço nascido teve descendência e, passados mil anos de prolixa actividade sexual a fazer filhos, eu sou um deles. 


Descendo do cruzamento genético dum vicking qualquer... que devia ser bravo (embora com coração mole), duma beleza incomparável (a julgar pelos lindos olhos azuis da minha mãe e avó), profundamente teimoso, insubmisso, difícil de aturar, compaixoso, sonhador, nervoso, ansioso, protetor, amante da pinga e apaixonado por fumar ervas secas, obcecado com a existência ou não existência de Odin, honesto, violento, lamechas, coração mole, extremamente desconfiado, obstinado, difícil de aturar e, sobretudo, um crente ingenuo e profundamente leal. 


Não tenho por certo que usasse aqueles capacetes com chifres mas, nestas matérias, não se sabe ao certo se os tinha virtualmente. A mulher (e o homem) lusitana não é/são de confiar. 


Vá que o viking, pai de todos, decidiu partir para novas caçadas ou que o Odin o chamou mais cedo para o lugar onde descansam eternamente os guerreiros!?


Nada me garante que a mãe lusitana, mãe de toda a prol, não colocasse outro homem no lugar do vicking do qual descendo.


Na volta esse homem até dormiu na alcofa que o pai vicking construiu com muito labor e dedicação, sentou -se no banco e na mesa de madeira que tanto lhe custou a fazer, usou as ferramentas que juntou com tanto empenho. 


Até o filho da puta do arco de flechas e o machado que usava para caçar javalis o homem usou. Que grande cabrão.


Quer dizer, tanto trabalho e canseira que o pai vicking teve, tanto desgaste físico e mental para sustentar toda a prol que gerou com a mãe lusitana e, no fim, vem outro melro qualquer usufruir do empenho duma vida dum pobre vicking apaixonado e voluntarioso!?


Não se faz. O que o pai Vicking devia ter feito era desfazer-se de tudo, pegar na sua barcaça e levar a mulher e filhos a correr o mundo, pelas Caraíbas e Seicheles à procura de tesouros ou mesmo fixar-se na aposentadoria nos prados e lagos da Escandinávia  em vez de a deixar sujeita ao ataque dos vis lusitanos que se apropriam do que nunca construíram.


Acordei momentos depois da última revelação de Odin, uns minutos antes a porcaria do despertador esganiçou o alarme das sete da manhã. Bombástica, incrível, chocante a última revelação mas, essa, lamento, não vos posso contar.


.

O triunfo das galinhas

 - o Triunfo das Galinhas -


As nossas galinhas produzem cerca de 20 ovos por dia. Tecnicamente deviam produzir 24 ovos em média. 


Se eu fosse um economista ou gestor à seria devia promover uma reunião motivacional no galinheiro e fixar objectivos mais ambiciosos nas trabalhadoras para suscitar maior produtividade e maior produção de ovos.


Mas não. 


Cá em casa o economista é a educadora de infância e a educadora de infância é que é o economista.


 Não apenas porque as motiva melhor (consegue mesmo falar com elas e eu sinto que se percebem) como, ao contrário deste pobre educador de infância, que acha que o produto do amor (os ovos) deve ser oferecido a quem gostamos, a economista considera que não senhora que os ovos são para vender para com eles pagar o custo de produção e mais o milho e as couves e a ração e palha para os ninhos e a limpeza do capoeiro...


-Epá, deixa lá isso, oferece os ovos.


Não, a economista quer é que este educador de infância lhe faça uma folha de cálculo onde seja computada toda a actividade produtiva, com contabilidade analítica de custos apuradísisma, da qual resulta informação de gestão que até calcula a TIR (taxa interna rentabilidade) para perceber quando fica pago o investimento para poder com os dividendos dos ovos comprar perus que saem bem no Natal.


-Oh, mas pronto, são despesas menores. Oferece lá os ovos.


- Não não, e depois até podemos comprar mais 20 galinhas e usar parte da tua oficina de ferramentas para acomoda-las bem e obter ainda mais ovos que depois podemos...


-A minha oficina, a minha sacro santa segunda casa?


-Só uma pequena parte, basta tirar o trator de cortar relva e mais a mota e...


-Ahh e porque te desfizeste dos dois galos que tínhamos?


-Só davam despesa. Comiam e não produzem ovos e...


-Mas as "meninas" não precisam de galos para lhes dar miminhos e...


-Não precisavam nada. Não vês como eles lhes põe a crista negra, penicam-lhes a cabecita,  coitadinhas.


-Mas isso é para elas se porem a jeito para eles... poderem com mais facilidade... e até podiam gerar pintainhos que depois davam ovos.


- davam ovos ao fim de seis meses, se fossem galinhas. Não, eles desestabilizam e magoam. Rua com eles que comem por três. E depois até renderam o suficiente para comprarmos os perus e os patos.


-Humm, então e não queres os tais pavões?


- Ahh Sim, um casal de pavões lindos que formam leques e...


- E que rentabilidade nos darão esses pavões?


-Só pensas no dinheiro também.


Entender as economistas, às vezes, é difícil.

Pai Celeste

 - Pai Celeste- *


Padre- Então, meu filho, porque queres tu tornar-te católico?


Braveheart - Bem, padre... Estou a ficar entradote - vê a careca e os cabelos brancos!? - e, pelo sim, pelo não, convém acautelar a reforma celeste. Não descontei toda a vida, mas não poderia agora entrar num  programa rápido de compensações e prestações caridosas por atacado?


Padre - Meu filho, a Providência Divina não é bem igual à Previdência Social, graças a Deus:


Braveheart - Pena. Todavia, olhe,  para começar, acredito em Deus!...


Padre - Pois, meu filho, mas isso é irrelevante. Compete-te acreditar é na Santa Madre Igreja. É isso que faz de ti um católico. A Igreja é a concessionária estatal de Deus na terra. Fora Dela, não serás nunca um crente, mas um contrabandista da fé, um evadido aos impostos celestiais!...


Braveheart - Ah... já  agora, escute cá, oh senhor padre: se somos praticamente da mesma idade, porque teima em aperfilhar-me? Não faria mais sentido chamar-me "irmão", ou "meu irmão"?


Padre - Não, meu filho. Esta fórmula paternal reflecte o facto de estar sacerdotalmente consagrado e representar aqui, junto de ti, através da Igreja, o Pai Celeste...


Braveheart - Odin?


Padre - Não.


Braveheart- Zeus?


Padre- Não, o Pai de Jesus Cristo!...


Braveheart - Hum, essa representação do tal Pai contundem-me um bocado com o sistema. Às tantas, embrulham-se-me todos. 


Padre - Pois, meu filho, mas as regras são estas: tu falas comigo; eu falo com o bispo, o bispo fala com o cardeal, o cardeal fala com o Papa e Sua Santidade vai a despacho com os anjos, com os santos e, na melhor das hipóteses, com Nossa Senhora. Estes, depois, intercedem junto de Deus.


Braveheart - Padre, aprecio hierarquias. Por aí não há problema. Agora, super-crentes com super kits mãos livres telefónico celestial e auto-eleitos com deus às ordens nunca me fascinaram muito. Bem, olhe, passemos a coisas mais simples. Antes de ser católico, não haverá um qualquer programa de treino, uma ginástica espiritual, que me permita ganhar destreza e musculatura, de modo a facilitar o acesso à salvação?


Padre - Começa tudo pelo amor ao próximo. Tens que amar o próximo.


Braveheart - Comprendo, dado que Deus está inacessível, e o anterior já não o amámos, começa-se pelo quem a seguir, o próximo, e vai-se paulatinamente por ali acima, até chegar ao Papa. Em todo o caso, ponderemos o próximo. 

Então e se  o próximo só ama honrarias, prepotências, bazófias, arrogâncias, desplantes, vaidades, mentiras, sacanices e coisas assim? Como vou conseguir amá-lo? 

Pior, e se o próximo, sem aquelas nem aquel'outras, converteu o "conhece-te a ti mesmo" no "ama-te a ti mesmo", roncando que não precisa do amor dos outros para nada, pois já tem o dele todo, infinito e imenso?


Padre - Tens que amá-lo redobradamente. Para compensar as suas fraquezas e mundanidades.


Braveheart - Mas há-de convir que o sujeito não é nada amável. Amar aquilo é amar um calhau com olhos, um pedregulho ou amar um foguetão russo quase despencar sobre Braga (raios me partam se não davam jeito os três milhões de indemnização anunciada a ver se limpam o rio Este). Ainda por cima, é um próximo que se afasta cada vez mais de mim e só decreta e distancia entre nós muros. Ora, eu aí, estou como Swift: aquele que me põe à distância emocional eu agradeço muito por ficar longe de mim. Mas temos depois aquel'outro próximo que só ama o anterior ou quem, de algum modo, o favorece para tornar-se como ele. Se o outro é um penedo em acto, este é um Everest em potência.


Padre- Meu filho, tens que aprender e praticar a humildade. Não te compete julgar os outros, mas apenas amá-los. Deus julgar-nos-á a todos. Pois todos somos seres imperfeitos e carregados de pecados.


Braveheart - Para mim isso é pacífico. Acho muito bem. Encanta-me. O meu problema com o próximo é quando ele começa a agir como se não houvesse Deus no Céu e fosse ele o deus na terra - deus, papa e crente de si mesmo, ídolo itinerante de cegos, répteis e mentecaptos como ele! Isso eu não consigo amar. Consigo amar o Filho de Deus, mas não consigo amar enteados do diabo. 

A falha, eventualmente, será minha: Mas é fruto genuíno dum dos dois neurónios que Deus me deu, e por isso, creio, lhe chamamos Deus, porque deu, não mos vendeu. 


Padre - Que dizes tu, meu filho?


Braveheart- Vendesse Ele e não seria Deus, mas o seu oposto: Vendeus.  Por isso, dar a outra face, ainda concebo, mas ven-dar ou vender a alma é que não. Como não troco o Ser pelo ven-ser. Não vale nada quem pensa que vale tudo; não é nada quem pensa que é tudo, uma frase feita que alguém cujo nome me escapa terá dito.


Padre - É humano o erro e o pecado.


Braveheart - Mas não é humana a pocilga. E eu julgava que Jesus nos tinha lavado a cara e posto de pé. Por isso quero ser católico.


Padre - Meu filho, ama o próximo e deixa a doutrina connosco. Vem à missa, reza e arrepende-te das tuas más acções e vais ver que, com o tempo, o horizonte fica menos carregado.


Braveheart - Sabe, padre, eu sou o mais imperfeito e inapto de todos. Está visto que tenho que percorrer um longo caminho. O próximo pôs-se a milhas; Deus retirou-se para as insonduras dos céus.  Já percebi que isto tem que ser gradual, por fases. 

Olhe, para já contento-me em treinar com o amor à minha mulher. 


Padre - Tens de amar o próximo e não apenas a tua mulher.


Braveheart - e a do próximo também senhor padre. E depois, aos poucos, com muito amor com as do próximo, ainda acabo a vir à Igreja com elas. De preferência às horas em que um dos mais próximo cá não esteja a relambar-se de hóstias para encher a  alma de misérias.


Padre - Estás em conflito contigo próprio. Queres o estágio para aceder ao paraíso, começa por te sentar na primeira fila da missa que amanha vou ministrar. E até te vou dedicar no sermão algumas Verdades.


Braveheart - Estar no fim teria algumas vantagens.


Padre- estás a progredir, os últimos serão os primeiros...


Braveheart- Nem mais, ir para a última fila talvez seja mais prudente. 


Padre: Porquê? 


Braveheart- se me desagradar a conversa a porta de saída é mais acessível. Já agora, posso levantar o braço lá do fundo quando o sermão dedicado a uma tal Verdade me suscitar alguma dúvida?


Padre - Claro que não meu filho. Ouves o que digo e rezas. Não levantas os braços. 


Braveheart- Só consigo lembrar-me do conteúdo das orações com acompanhamento do resto do pessoal. Mas sigo-os até à segunda ou terceira entoação. 


Padre- Não completas as orações até ao fim ?


Braveheart - Sabe senhor padre é tudo muito rápido e mecânico. Quando os fiéis chegam ao fim eu ainda penso no significado da primeira frase da oração. Depois começam outras orações para outras santidades e já nem consigo pensar no que estava a descortinar na primeira. Acabo irremediavelmente a avaliar os tetos e as pinturas e a observar alguns e algumas fiéis e depois mergulho num turbilhão de pensamentos. A maior parte só os posso contar em confissão.


Padre- Meu filho, a igreja não é local para pensares no significado de cada palavra de cada oração. Isso é para fazeres em casa, lendo os sagrados textos previamente. Na missa é suposto já teres lido e estudado os temas das orações.


Braveheart- Tem razão. A minha alma gêmea, o Ricardo, diz exactamente o mesmo. Mas ele, cá para nós que ninguém nos ouve, é um bocado coninhas.


Padre- o Pai celeste ouve tudo.


Braveheart - Odin?


* autor: (Braveheart)

Mandamentos

 "É melhor reinar no inferno do que servir no paraíso!" Lucifer


Terá sido com esta resposta que o anjo da luz, Lucifer, se despediu de Deus quando este o enviou para os quintos dos infernos.


Os 10 mandamentos da Lei de Moisés, que servem as três grandes religiões do Livro, Judaísmo, Cristianismo e Mulçumanismo, são bem conhecidas.


Em conversa com o Braveheart acerca das diferenças entre os 10 mandamentos originais do judaísmo da tábua de Moisés e os que as duas religiões subsequentes (cristianismo, muçulmanismo) apresentam, ambos reconhecemos algumas diferenças subtis para as adaptar aos seus interesses. Subtilezas sem grande importância, porém.


A meio da conversa o Braveheart perguntou -me se conhecia os mandamentos luciferinos. 


- Não pá, credo, Jesus, Maria e José. Satanismo é coisa ruim dos diabos e de possessões demoníacas e do anjo caído. Não quero saber disso.


- Pouca gente os conhece Ricardo. Esse anjo caído era o anjo de confiança do Altíssimo. O maior de entre todos os anjos, até ter sido derrotado pelo irmão Gabriel e enviado para as profundezas dos infernos. Devido ao facto de ter abusado da confiança que o Senhor depositou nele. A ambição de O substituir arruinou-lhe a carreira.


- pareces entendido em demonologia oh Braveheart.


- Não, mas tive curiosidade em perceber os contornos dessa estória. Foi nessa altura que me passou pelos olhos os ditos mandamentos do Satanismo que venera o tal Lúcifer derrotado pelo Arcanjo Gabriel.


- Pronto, olha, diz lá quais são esse mandamentos. Devem ser assombrosos.


- Antes de mais convém dizer que são 11 os mandamentos satanicos e não 10 como os de Moisés.


- Metaram mais um para meter nojo, digamos assim, como quem diz: tendes 10 nós temos 11.


- ok, Braveheart, diz lá que mandamentos são esses.


- então aqui vai:


1. Não dê sua opinião ou conselho a não ser que lhe seja pedido.


2. Não conte seus problemas a outras pessoas a não ser que esteja seguro de que elas queiram ouvi-los.


3. Quando estiver na casa de outra pessoa, demonstre respeito ou então não vá até lá.


4. Se um convidado em seu lar irritá-lo, trate-o cruelmente e sem piedade.


5. Não faça avanços sexuais a não ser que lhe seja dado um sinal de acasalamento.


6. Não pegue o que não lhe pertence a não ser que seja um fardo para a outra pessoa e esta queira se livrar do objeto.


7. Reconheça o poder da magia se você já a utilizou com sucesso para obter algo desejado. Se você nega o poder da magia depois de ter recorrido a ela com sucesso, perderá tudo o que conseguiu.


8. Não se preocupe com algo que não tenha a ver com você.


9. Não machuque crianças pequenas.


10. Não mate animais não humanos a não ser que seja atacado ou para alimento.


11. Quando estiver em território aberto, não incomode ninguém. Se alguém o incomodar, peça que pare. Se não o fizer, destrua-o.


- são esses os mandamentos do satanismo Braveheart?


- São pois. Foi um tal La Vey que os anunciou, qual Moisés. Em todo caso, perscruta a tua própria moral e diz-me se os subscreves todos ou se há um ou outro que não subscrevas .


- Braveheart, não fiquei muito impressionado com eles. Pensei que eram mais virulentos mas, vendo bem, há nalguns pontos um tom para egocentrismo, individualismo e violência gratuita...

- Quais são então aqueles que não subscreves Ricardo?


- Assim de repente o ponto 7 e 8 não subscrevo por completo. O 4 e o 11 só parcialmente e pelo mesmo motivo. 

Quer dizer, não reconheço poder de magia alguma (7), acho que temos a obrigação de nos preocuparmos com os outros (8), não me parece que se um convidado a minha casa me irritar me permita trata-lo cruelmente (4) e, finalmente não me parece adequado destruir alguém porque não pára de me incomodar (11). De resto, espantosamente, subscrevia tudo.


- Portanto és meio satanista.


- Não sou meio judeu, nem meio muçulmano, nem meio cristão, também não sou meio satanista.


- És uma mixórdia, portanto.


- sim, cada religião tem as suas virtudes que partilho e os seus defeitos que repudio.


- mas não ouviste o Ventura dizer que São Paulo disse que Deus vomitará os mornos?


- ouvi, mas o moço interpretou a ideia paulina duma forma completamente errada e até oposta ao que o apóstolo pretendia dizer.  Mas, o são Paulo não é propriamente uma figura que me pareça ter seguido a linha de Jesus. Até me parece que percepcionou erroneamente a mensagem de jesus, influenciando muito o cristianismo, principalmente as correntes protestantes do cristianismo com as quais não me identifico, embora tenha aspectos com os quais partilho.


-

Escutar ou não escutar, eis a questão

 - Escutar ou não escutar, eis a questão -


Discussões antigas e acesas acerca do sexo dos anjos ou aquel'outras acerca de quantos anjos podem dançar na cabeça dum alfinete suscitaram no Braveheart uma outra que teve comigo. 


Tem ela a ver com a hipótese dos Santos, Apóstolos, Nossa Senhora e demais hierarquias celestiais poderem ou não perscrutar os nossos pensamentos quando a eles nos dirigimos em preces ou veneração.


Aquela antiga discussão de retórica filosófico-religiosa onde se degladiavam argumentos acerca de "quantos anjos podem dançar na cabeça dum alfinete" é bem conhecida. Uma discussão estéril porém, mas acesa, que pretendia responder a outras questões entre as quais indagar acerca da substância dos anjos. 


A minha discussão com o Braveheart é outra, intestinalmente acesa, mas não necessariamente estéril.


Resume-se a isto:


Afinal de contas, quando rezamos a um santo ou santa, anjo ou anja - aqui o Braveheart tentou reiniciar a outra discussão acerca do sexo dos anjos - Nossa Senhora ou outra hierarquia qualquer, podemos fazê-lo em pensamento ou temos mesmo de fazê-lo em viva voz?


Isto parece não ter importância alguma, contudo caí na asneira de dizer que, quando o fazia, quando rezava fazia-o sempre em completo silêncio. 


Quer dizer, rezava e pedia-lhes ajuda  sem usar da palavra. Tão somente o pensamento dirigido ao santo escolhido (Santo Ovídio, o intenso zumbido que tenho continua de vento em popa, não se esqueça se faz favor, rogo, quando vossa santidade for a despacho com o Altíssimo de levar um post it que seja ou mero rodapé na lista).


Braveheart- Não penses nisso pá. Quem pede em silêncio só pode ser escutado pelo omnisciente Deus todo poderoso. Nunca pelas hierarquias inferiores porque estes não têm essa qualidade da omnisciência que é reconhecidamente um exclusivo Dele. Está escrito no Livro Sagrado pá. Portanto se queres ser escutado pelos santos tens mesmo de botar faladura e até deves exagerar um bocadinho como quando se vai às urgências dos hospitais a ver se sai uma pulseira com uma cor prioritária).


Ricardo - És um bocado bruto. Mas não poderia Deus concessionar essa possibilidade nas santidades?


Braveheart - Claro que não. Os atributos Dele são só Dele e não os concessiona a ninguém. 


Ricardo - hummm, como são escutados os mudos se não conseguem falar em viva voz com os Santos?


Braveheart- É mais do evidente que quando rezas ou queres ajuda aos santos e à Nossa Senhora ou anjos, tens de o fazer em voz viva.  Caso contrário Eles, lá de cima, só te vêm a gesticular à toa umas cenas a ver se percebem o que queres pela expressão facial, já que não abres a matraca.


Ricardo - Mas, vamos lá ver, talvez possa haver para esses mudos uma excepção. Afinal de contas Deus também é omnipotente e pode muito bem conferir uma excepção para os mudos se fazerem ouvir sem falar.


Braveheart- podes imaginar o que entenderes, até és tão bom nisso como eu mas, epá não pode ser. Garanto-te. Olha o teu exemplo. Quantas vezes te concederam o que lhes pediste?


Ricardo- Nunca fui muito de pedir e rezar mas, por acaso, lembro-me quando era rapaz pedia sempre três coisas quando ia à missa todos os dominguinhos.


Braveheart- o que pedias tu em silêncio às santidades?


Ricardo - mundo sem guerras, saúde para o meu pai que estava doente e uma outra coisa que me aprazia naquele momento. Por exemplo uma mota, um skate, melhores notas na escola ou outras cenas que reservo só para mim.


Braveheart- logo na primeira parecias uma daquelas candidatas a miss USA: Peace on Earth. Mas desses três pedidos que taxa de aprovação tiveste?


Ricardo - uma.


Braveheart- aprovaram um pedido portanto. E podes dizer qual deles foi?


Ricardo - posso, era sempre o terceiro, que era um conjunto alargado de coisas, o skate, a mota suzuki, melhores notas na escola a português e a francês, uma raquete de tenis etc. 


Braveheart - Portanto, tudo aquilo que podia depender da ajuda dos Santos não tiveste. Mas tiveste o que dependia de ti ou dos teus pais. Aí está a prova. Tu pedias em silêncio mas Eles não te ouviam. Experimenta fazer-te ouvir à seria. Com respeito, mas com firmeza e confiança. Em viva voz. Bota-Lhes nas bentas o que te vem das entranhas.


Ricardo - Achas que dessa forma sou atendido?


Braveheart - Claro que sim. Só não és atendido naquilo que pedes e que entra em conflito com a moral divina ou com os planos do Altíssimo ou mesmo em conflito com pedidos de terceiros. 


Ricardo - Pois, é o caraças, quase tudo entra em conflito com tudo.


Braveheart-  epá, não podes pedir para o FC Porto ser sempre campeão. A lagartagem também tem os seus crentes e devotos a pedir. Por isso, pedidos para paz no mundo é pedido escusado, FC Porto sempre campeão também. Sabes lá se a guerra nao será o mal melhor para a melhor solução de paz.


Ricardo - És capaz de ter razão.


Braveheart- o essencial é fazê-lo falando com eles. 


Ricardo - olha lá e se em vez de pedir aos santos e demais hierarquias ultrapassar os intermediários celestiais todos e dirigir-me diretamente a Deus em pensamentos.


Braveheart - sim, a única forma que tens de falar com uma entidade celestial por pensamento é apenas com Deus. Nem o diabo sabe aquilo que pensas, embora tenha astúcia bastante para fazer boas estimativas acerca daquilo que pensas porque é fino como um alho. Mas não sabe de facto aquilo que pensas, por essa razão perdeu a aposta com Deus quando estimou mal a lealdade extrema de Jó a Deus.


Ricardo - então, quer dizer, posso falar em pensamento diretamente ao Deus que ele escuta, embora ponha de lado preces ou pedidos conflituantes ou incompatíveis com os Seus planos. Se pretender alvíssaras das santidades devo conversar em viva voz e eles depois intercedem junto do Altíssimo, se acharem que vale a pena depositar confiança em mim.


Braveheart - sim, é isso. Preces em pensamento só dirigidas a Deus. Se  pretenderes um intermediário as preces devem ser faladas.


Ricardo - então, quer dizer, os mudos não podem rezar em pensamentos aos santos?


Braveheart - podem, mas não são escutados. Tal como o diabo não te pode ouvir os pensamentos, os anjos em geral e as santidades também não. Acontece porém que esse Pessoal tem outros dons. Uma acuidade e sensibilidade que, não escutando, intuem com divinal competência.


Ricardo - percebo isso mas, vejamos noutra perspetiva. E se em vez das preces em pensamento ou em viva voz, o fizéssemos escrevendo. Achas que eles 'escutariam' o que foi escrito.


Braveheart- mil cara... me...


Ricardo - olha a linguagem.


Braveheart - ..odam... mas quem é aqui o Braveheart afinal de contas? Isso era suposto ser eu a ter essa ideia.


Ricardo - ah, tão cheio de sabedoria e não tens resposta para esta. Toma lá e embrulha.


Braveheart- claro que tenho.


Ricardo - tens?


Braveheart - só estava a ver até onde ia a tua ignorância. Superou as minhas expectativas. Nunca leste que tudo começou com o Verbo?


Ricardo - sim.


Braveheart - Pois é através do verbo que melhor podes aspirar a ser atendido. Desde que saibas escrever, claro. Ou através doutras modalidades como a música, a pintura e as outras formas de expressão da alma.


Ricardo - Não queria fazer o teu papel, mas tenho outra dúvida que me veio agora mesmo à cabeça. Nas artes eu compreendo que as santidades possam compreender porque a expressão artística não tem língua. Contudo a escrita tem um idioma. Em que idioma me dirigiria a eles?


Braveheart- epá eu só te aturo essas bacoradas porque partilhamos o mesmo corpo senão...


Ricardo - mas eles entendem todas as línguas ou idiomas? 


Braveheart - pá, da mesma forma como rezas em português, escreves em português. Os idiomas foram um castigo de Deus para suster os ímpetos humanos de sonhar serem como Ele. Lembras -te da estória da Torre de Babel? Foi aí que tudo começou. Deus baralhou os construtores usando um artifício simples para eles não se entenderem. Pôs os engenheiros a falar mandarim com os arquitetos que só percebiam espanhol e aos trolhas pô-los a falar francês a uns, aramaico a outros e por aí em diante. A obra parou porque ninguém se entendia. A hora da bejeca para uns era entendida por outros com sendo para pintar de beje en francais.


Ricardo - ah e então?


Braveheart - então é isso. Quando ascendes aos céus, quer dizer, quando vais desta para melhor, quando bates a bota todos os idiomas são resumidos a um só.


Ricardo - as coisas que tu sabes.


.

O quinto dos internos

 - o quinto dos infernos -


- Alô primo, vi que me enviaste mil e quatrocentas mensagens e cinco mil trezentos e doze tentativas de contacto e deixaste centenas de lembretes no...

- ahhh peter!?, epá, desisti. Se queres saber, já nem falo mais contigo.

- deixa lá isso richard, não amues, estive ocupado noutras cenas e não podia aceder a nossa plataforma de comunicação. But, here I am, again and again and again and again...

- hey pára aí, parece que estavas a entoar  a musica The Forest dos The Cure... 

- ... e estava mesmo, estava à espera que fizesses o bass guitar que se seguia, como sempre fazíamos.

- bem, não mudes de assunto Peter, vieste a tempo porque eu ia mesmo desancarte num post, a torto e a direito, com as palavras mais rudes que conheço no dia 10 em que fazias 54 anos de vida e...

- mas já cá estou... and again and again

- ... e revelar as nossas peripécias dos diabos menos conhecidas.

- calma richard, não é preciso chegar a esse ponto.

- então vê lá se não te baldas e arranja forma de manter o diálogo, qualquer que seja a galáxia que estejas.

- senão o quê?

- não me provoques, olha que eu digo aquelas cenas no parque de campismo e aquelas na praia de nudistas em... para não falar nas cenas do sul de Espanha que...

- ahh não, ok, prometo. Mas diz-me lá, richard, tens andado bem?

- define a palavra "bem".

- se estás fixe, se a vida corre pelo...

- já estive melhor e pior, mas não me posso queixar. Envio-te tudo agora por mensagem privada. 

- olha, já recebi. 

- percebes agora pedrinho?

- percebo, mas tens de ter paciência e...

- falar aí do alto do paraíso é fácil. Devias era meter uma cunha aí ao pessoal das esferas mais elevadas e...

- oh

- olha lá, peter, como andam os nossos que estão por aí?

- o teu pai e o meu parece que voltaram à adolescência. Organizaram um rendez vouz em modo de representação teatral, como fizeram na adolescência, aberto a todas as almas onde participaram como actores eles próprios, os teus dois pequenos e demais família e eu próprio, claro.

- uma peça de teatro mesmo?

- yá, um peça complexa de teatro que o meu pai escreveu claro e o teu pai imaginou. Até se zangaram por causa disso. Sabes como eles são, não é? Por essa razão é que andei ocupado. 

- e que papel fazias tu nessa peça? Como se chama a peça?

- bom, o nome da peça de teatro é "o quinto dos infernos".

- nome apelativo, deve ter sido ideia do meu pai.

- não, por acaso o nome foi sugerido por mim.

- ah valente primo. O nome é porreiro, mas qual era o teu papel?

- bom eu fazia o papel principal de ... zzzzzzzzzz...

-Tou, peter. tou tou. Ora bolas. Perdi a ligação.

- ... zzzzz príncipe zzzzz e o teu filho advogado da zzzzz mas depois o teu pai impunha a espada com zzzzzzzzzzz

- Catano, mil catanas me cortem, não percebi... tou tou

- zzzzzzzzzzzzzzzzzzz

- queres ver que o apagão do Facebook também chegou à plataforma celestial. Fazes me falta pá , sinto saudade. E gostava mesmo de ti. À seria. Se me falhas por este meio é mesmo o quinto dos infernos.

- ouvi tudo. És um bocado lamechas.

- meu grande... fizeste de propósito.

- yá, estava a brincar contigo.

- que brincadeira palerma.

- é palerma mas foi necessária.

- como assim peter?

- porque tu és um cabrãozito que não consegue dizer o que sente directamente.

- apanhaste-me bem. Mas voltando atrás, que papel fazias tu na tal peça de teatro?

- não te posso dizer essas coisas. Já sabes. Um dia vens para cá e sentes por ti próprio.

- pena

- mas olha lá richard e os teus, como vão as coisas com eles?

- vão bem. Olha, a minha maggy já é mestra engenheira dessas coisas dos computadores e sistemas de informação. E até arranjou um emprego no Porto numa multinacional japonesa potente. E o marocas passou de besta a  bestial na matemática, com a nota máxima e tudo. Eu já estava para o aconselhar a ir para as artes por causa das notas menos boas a matemática mas o rapaz num ano transformou-se e passou do 8 para o 80. Também quer ser engenheiro de uma cena qualquer por definir.

- fixe, aconselha-o a ir para engenharia quantum biocelular.

- o que é isso?

- é uma cena que vocês vão inventar a dez anos de vista para se transportarem instantaneamente. 

- isso parece cenas do star trek do teletransporte oh peter mas, na verdade, vendo bem, os qubits já estão aí a moverem-se instantaneamente.

- yá. Olha, tenho de ir, estão ali todos a mandar abraços para o pessoal aí em baixo.

- um abraço para eles também e um especial para ti que farias anos de vida se não te tivesses 'teletransportado'.

- isto não foi um teletransporte seu nabo. Isto foi uma ascensão.

- vai dar ao mesmo, basaste duma forma ou de outra.

- sim, mas no teletransporte podemos regressar e na ascensão só há uma via.

- então, mas afinal não há por aqui almas ou espíritos como vemos nos filmes? 

- há, mas são os que não ascenderam. 

- um gajo pode escolher não ascender?

- não te posso dizer, já sabes. Não é propriamente uma escolha. Fico-me por aqui.

- sempre o mesmo.

Em nome do Pai

 - Em nome do Pai...-


Olhando pelo retrovisor, em retrospectiva, várias foram as vezes que, por impulso, maltratei o meu Pai em palavras, mais ou menos violentas, dependendo do assunto pendente. Dizem que é mais grave do que o pecado da murmuração que, per si, já seria digno de castigo eterno e 'ranger de dentes'.


Chamar nomes à mãe Dele não foi o pior, garanto-vos. Mas não deixa de ser anedótico, agora visto à distância, destratar a mãe d'Alguém que não foi criado, nem gerado... nem parido.


A minha falta de julgamento e inteligência leva-me a estas situações. Se acontece algo de mal na vida,  o Cabrão que  não ajudou e calou-se com irritante persistência levou sistematicamente com as culpas. Por omissão. Má vontade.


Tenho-O em boa conta e, nesses períodos conturbados, esperaria um braço amigo.


Não só não mo estendia como renovava as malfeitorias com mestria e assiduidade de um relógio suíço. Renovava-Lhe os votos, incrementando o tom e a virulência dos ataques ao Seu bom nome.


Recentemente tudo mudou. 


Percebi que a percepção que eu tenho da realidade é diferente da própria realidade. Aquilo que eu esperaria que não acontecesse não se conformava com a verdade e, portanto, se Ele tivesse correspondido aos anseios que eu clamava, estaria Ele a cometer um erro. E Deus não os comete.


O que tenho eu a oferecer-Te que Tu não tenhas?


Podia oferecer-Te a minha alma mas isso seria apenas uma intenção inconsequente, já que nem sei como isso se faz. Mais a mais, não a tens porque não a queres. Até ver. E mesmo quando a reclamares, e eu sei que a vais reclamar, eu não sou tido nem achado nessa decisão. Por isso não Te posso oferecer o que de mim não depende.


Podia oferecer-Te dedicação e muitos pais nossos e avés marias mas não gosto dar graxa, muito menos de repetir entoações sem pensar nelas.


Podia oferecer-Te em exemplo de pessoa justa e correta, abdicando de todos os vícios que me perseguem e defeitos que me assaltam, a começar por poder ser um bom pai, um bom marido, um bom filho. 


Se Tu não foste bom Pai para mim porque raios haveria eu de conseguir sê-lo? A menos que o julgamento que fiz de Ti esteja equivocado.


Talvez sejas bom afinal de contas e a percepção que fiz de Ti errada. Os sentidos e a lógica limitada podem estar a fazer-me concluir uma coisa e ela ser exactamente o oposto. 


Não foste Tu que disseste que no sonho daquele desesperado as duas pegadas na areia que subsistiam eram as Tuas que levava o desesperado ao colo?


Não foste Tu que disseste que escreves certo por linhas tortas?


É a esperança que me dás. Estares a fazer o que é certo e bom para mim sem eu conseguir alcançar o efeito.


Mas admito essa possibilidade, agora. Aliás, não só admito como começo a ver-lhe a forma. E até , se queres que Te diga, começo a perceber o quão equivocado estive durante estes anos todos. 


Começo, em boa verdade, a perceber que ainda vou a tempo de renascer na Verdade. Pior seria se me deixasses emerso na mentira até velhinho, corcumido, infezado, num meio hipócrita.


Creio já ter aprendido a lição, oh Pai. Se a aprendi mal ou bem, não sei, não sou capaz de discernir mas, para todos os efeitos legais, Tu é que foste o professor.


Podes enviar já um raio que me parta, mas isso não faz o teu gênero. Habituei-me às tuas subtilezas e à Tua forma de proceder para me ensinar. Sempre pelo caminho mais difícil, parece claro, mas cá estarei para enfrentar o que quer que seja que nele encontre.


Deves saber que as verdades que Te digo são sentidas e genuínas. Podias escolher vias menos difíceis para me ensinar, mas deixo isso a Teu critério. Olha, pelo menos podias começar por facilitar um bocado nos efeitos secundários dos medicamentos que às vezes tenho de tomar para esta ou aquela maleita. Se a bula diz que a probabilidade deste ou daquele medicamento causar o sintoma x é muito rara, ao ponto de só admitirem 0,001% de casos, podias fazer com que eu não caísse nessa percentagem. 


Não é por nada mas, Ouve, eu já nem leio os efeitos secundários normais. Nem na aspirina. Passo logo a ler os muito raros que estão normalmente no fim da bula.


 E isso, como deves compreender, é cansativo. Queria poder ter os efeitos secundários normais em toda a sua potência e majestade.


Pelo menos, olha Pai, quando mudar da fila de trânsito parada da esquerda para a direita que está a correr melhor, não ponhas a primeira a andar mais rápido. Dá a ideia que fazes de propósito.


Mas se tiver de ser, que seja feita a Tua vontade.


.

Perfilam-se alguns candidatos

 - perfilam-se alguns candidatos-


Deus - Então, Braveheart, vens de auréola murcha. Como se alguma desolação ou triste espectáculo te atormentasse...


Braveheart- É verdade Senhor. Venho da Terra, de Glasgow onde...


Deus - Os malucos da galáxia... Humm, que houve agora? O que é que aprontaram esses malandros desta vez? 


 Braveheart- Senhor, é o seguinte: Os gelos nos polos vão derretendo mais do que acumularam no inverno anterior, o nível dos mares sobe paulatinamente, os tigres e demais predadores estão a ser empurrados para áreas ínfimas e começam a ter poucas presas, os elefantes e os rinocerontes estão em declínio magistral, os ventos sopram disconformente, as correntes marítimas que contribuem para um certo clima estão a mudar, o mar está mais sujo que uma pocilga, o ar poluído e as asmas a subir vigorosamente, as árvores das florestas primárias são abatidas a um ritmo alucinante.... Em resumo: está tudo a caminhar para as trevas escuras.


Deus - Belo. E a que se deve tamanha monstruosidade geral das actividades?


Braveheart- estou indeciso, confesso. Desconfio que a estupidez humana concorre com a Tua generosa ideia quando disseste: crescei e multiplicai-vos.


Deus- estás a deitar as culpas para mim seu...


Braveheart- não, nada disso. Longe de mim atribuir-Te culpas pela nossa exuberância. Larga lá o Raio da Morte que me meter pavor. Mas hás-de convir que essa Tua ideia de dizer "crescei e multiplicai-vos" não ajuda lá muito às emergência climática. Quer dizer, havendo gente a mais na Terra torna-se difícil dizer aos mais pobres países para não poluir e aos mais ricos para reduzir a actividades. Para alimentar este exército de seres humanos, para lhes proporcionar confortos vários é preciso poluir cada vez mais ou exaurir os recursos naturais.


Deus- para Mim isso é pacífico. Depois da vida vem a morte e depois desta o renascimento. As coisas seguem o seu curso natural num ciclo milenar de vida e morte. Um dia porvir haverá extinção em massa como em diversos períodos da pre história e depois virão outros diferentes. Lembra-te dos dinossauros e do dilúvio...


Braveheart- com todo o respeito, falar Contigo é desconcertante. Arranjas sempre uma racionalidade para me atirar às ventas, típica, aliás, em ti. Mas não achas que por sermos especiais para ti, podíamos ser agraciados pela tua mão amiga e...


Deus- em cada época tenho seres especiais. Já foram especiais as anémonas, as estrelas do mar, as lulas, os dinossauros... e no presente são vocês, os humanos.


Braveheart- tens alguma ideia de quem vao ser os teus amigos especiais depois da extinção humana?


Deus- perfilam-se alguns candidatos...


.

Carta aberta ao Criador

 (Braveheart), da cabana das ferramentas


-Carta ao Criador-


Meu Deus,


Tranquiliza-Te. Desta vez, não venho aborrecer-Te com sugestões urgentes, como a de exterminares uma série de hipócritas por quem nutro profunda antipatia, nem fazeres crescer orelhas de burro nuns quantos que por cá pupulam que fazem da injúria e difamação o modo de lhes animar o vazio da alma. Já percebi que, de momento, não estás pr’aí virado, portanto, não insisto. Tenho pena, muita mesmo, mas não insisto. 


Mas sempre Te digo, em relação aos segundos, já que lhes distribuiste espíritos de asno, não custava nada facilitares também as orelhas. Sendo cretinos, ao menos tornavam-se pitorescos e o pagode ria. Enfim, lá deves ter as Tuas razões, certamente inefáveis e transcendentes. Curvo-me diante delas.


Também não venho incomodar-Te com requerimentos intermináveis de perdão para os meus pecados que, como bem sabes, não só não diminuem, como, com a idade, vão de vento em popa e virtualmente versam sobremaneira sobre aquele bizarríssimo mandamento com que protegeste a mulher do alheio, segundo os hebreus. 


Senhor, é mais forte do que nós: antes ser amante da mulher do alheio que amigo do alheio. Hás-de fazer-me a justiça que é um mal que faria para evitar um mal maior e que espero me seja contabilizado como atenuante por alturas do Juízo Final. 


Além do mais, como o burguês prefere ser cornudo a ser pobre, em nada contendo com a santa paz da Criação e das criaturas. Tenta compreender: enquanto nos entreteriamos com a mulher dele, não cobiçariamos a santa propriedade.


 Bem sabes, Tu que sabes tudo, como é essencial para a boa harmonia das coisas que o macho vigoroso se liberte regularmente da bicharada que lhe fervilha no pomar. Foste Tu que o criáste assim, Excelência.


 Encurralá-los, aos tais, nessa prisão claustrofóbica acarreta impreterivelmente maus humores e violentas tendências, como rugir impropérios e escaqueirar coisas.


Em suma: o sujeito perde de todo o bom feitio e torna-se religioso ou coisa pior. Ora eu, perdoar-me-ás a singularidade, prefiro ser um humilde pecador, a andar pelo mundo em certas figuras. Mas isto, ó Altíssimo, que fique aqui, hermético, entre nós. Não vá algum Espírito Santo de orelha dar com a língua nos dentes à Senhora Braveheart e, a seguir ao Carmo, cai a Trindade. Livra-Te, pois, a Ti, ó Pai Celeste, dessa queda desnecessária e a mim, criatura virtual, desse apocalipse fraticida com a minha alma gémea.


Tão pouco –alegra-Te – venho hoje molestar-te com recomendações prementes para que leves para junto de Ti –e parqueies nesse condómino ardente que tens na cave–, a corja de políticos que infesta a Terra e, sobretudo, aqui na lusa pátria. Já me descabelei o suficiente a tentar expôr-Te o meu ponto de vista sobre a prioridade desse assunto e acredito que ruminas e deliberas, em solene retiro, sobre a bondade dos meus argumentos.


Não, ó Transcendência, o que aqui me traz, nesta hora de assombro, é apenas uma pequeníssima e mirradíssima questão -uma questiúncula, melhor dizendo- enfim, uma borbulha do pensamento que, em teimosa comichão, pr’àqui me atormenta. Consiste essa verruga no seguinte: após elequentes colóquios e exaustivos seminários Contigo, a muito custo, fruto de muita oração e - porque não dizê-lo- flagelação dos instintos (sobretudo homicidas, mas não apenas), lá consegui perceber alguns pormenores mais nebulosos da Tua Criação.


 Sendo Tu absolutamente Bom, ela só podia ser absolutamente Boa, o que transposto para certa casta de dejectos, excrementos, maleitas, bactérias, vírus, répteis venenosos, insectos peçonhentos, vermes rastejantes, lombrigas, ténias, vampiros, etc, etc, me transportava a confusa estupefacção e estranheza. Era a estúpida da Razão a meter o bedelho onde não era chamada. Identificada essa disfunção da minha estrutura mental, lá consegui, com a Tua preciosa ajuda, superar o meu cepticismo e ascender a uma clarividência mais benévola e compreensiva do verdadeiro fundamento e finalidade das coisas.


Com grande surpresa minha, apaziguei o meu espírito com todas essas existências nauseabundas e repugnantes. Começei a ver com outros olhos os vermes, os micróbios, as formigas, as ratazanas, certos batráquios, as hienas, os monstros alienígenas... o Passos Coelho, o José Sócrates, o Vitorino, o Vitalino Canas, até o Ventura, imagina! E até os chineses, pasma! Grande poder Miraculoso, o Teu! 


E que esforço sobrehumano, o meu! Mas –eis a nanoquestão, Senhor -, mesmo com todo o teu Poder Miraculoso, mesmo com toda a minha titânica fibra, resta ainda uma cabra duma minudência que infecta e conspurca o Teu universo mais que perfeito: é o Paulo Rangel, ó meu Deus! e aquele puto anormal Francisco Não-sei-Quantos que parece ter brotado por partogénese anal do primeiro!... Para que é que aquilo serve?...


Aguardo a Tua sobredouta resposta em perturbada angústia.


.

Ensaio sobre o Instinto, parte I

 -Ensaio sobre o instinto-


Ricardo (Rb) - olha lá, estava aqui a observar esta mãe galinha, que passou trinta longos dias, non stop, aninhada sobre ovos para os chocar e agora observo a forma como ela protege, sob as suas asas, os seus pintinhos, atentissima aos predadores e compenetrada a ensinar-lhes como se esgravata a terra.

Braveheart (BH)- são instintos


Rb- o engraçado disto é que os outros pintos mais velhos que ela também chocou parece já nem saber quem são.

BH- Memória de curto prazo. 


Rb- pois, serão instintos. Instinto de proteção, procriação...

BH- ... entre outros como a autopreservação. 


Rb- dá a ideia que lhes foi inculcado um software à nascença que corre em situações perfeitamente previsíveis. Quer dizer, quando é activado um estímulo específico o software responde. No caso das galinhas o software parece correr em segundo plano e depositado numa espécie de memoria RAM. Desligadas as situações que fizeram actuar o software, a memória perde--se. Eles não têm memória ROM?

BH- Nao. A memória é função da capacidade cerebral. Sendo pequeno o cérebro, este vai rejeitando informações supérfluas para se concentrar nas essenciais. Mas, estás a querer dizer que são comportamentos irracionais. Que não dependem da razão, mas sim do cumprimento das diretrizes programada, não é assim?


Rb- pois, assim é. Não diria irracionais, mas sim inconscientes.

BH- estou a sentir que está a subir por essa cabeça mais outra estarolice retórica temática...


Rb- ahh sim. Epá, estava a pensar no 'ensaio sobre a cegueira' de Saramago e, de repente, veio-me à cachola a hipótese de, tal como na obra do escritor, aparecer por aí um vírus que, por e simplesmente, cancelasse todos os instintos dos animais e das pessoas ao invés de as por cegas.

BH- ahhh?


Rb- sim, como seriam as coisas se, um a um, a bicharada e as pessoas deixassem de ter Instintos?

BH- bem, para início de conversa, a galinha deixava de chocar os ovos. Os passarinhos de fazer ninhos... o factor reprodução das espécies deixava de ser algo  instintivo, e passava a ser fruto do acaso, ou da vontade própria no caso dos animais mais racionais.


Rb- transpondo os instintos para o ser humano...

BH- seria coisa semelhante. O cérebro toma quase sempre decisões antes da consciência. Em quase todas as vertentes. Às vezes não parece porque a decisão ocorre a fracções de segundo da consciência e dá a ideia de que tomaste uma decisão consciente mas, na verdade, está provado que o cérebro decidiu antes de termos consiciencia dos factos.


Rb- mas eu estava a falar de instintos e não de determinismo.

BH- tá, eu sei. O ponto é que sem instintos a vida não existia. Como bem disseste, as galinhas não chocavam os ovos logo...


Rb- mas a vida encontra sempre um caminho alternativo. Quer dizer, as galinhas podiam não chocar os ovos mas, em qualquer ponto do planeta, eles encontrariam a temperatura certa para eclodir.

BH- certo, mas isso depende dos mesmos estarem fecundados ou não. Se o galo não tivesse o instinto de galar todo o harém, não havia vida nos ovos, por mais chocadeiras ambientais óptimas que houvessem.


Rb- então, e como explicas que a tartaruga enterre a boa profundidade os seus ovos e os abandone?

BH- é outra espécie, que requer outra temperatura. Mas estavam fecundados por um macho.


Rb- e como explicas que mal eclodem as tartaruguinhas desatem a correr desvairadas para o mar?

BH- é instinto. Elas não correm para outro lado que não seja de encontro ao mar. A programação efetuada foi essa: follow the sea


Rb- pois era aí que queria chegar. Parece que finalmente percebeste. Imagina então que todos os animais e pessoas perdiam esses instintos. 


BH- era o fim do mundo.


Rb- estás a esquivar-te à hipótese. Então e se, de repente, fossemos desprogramados dos instintos?


BH- mas isso já acontece, embora com menos ocorrências. A natureza já produz seres desprovidos dalguns instintos. Há mulheres que não querem ser mães e quando são rejeitam os bebés, homens que não querem ser pais, há pessoas que se suicidam contra o instinto de autopreservação etc


Rb- todos pá. Cancelar todos os instintos, não apenas os que não contendem com opções individuais. Todos, excepto aqueles perfeitamente incontroláveis do nosso corpo como piscar os olhos, respirar etc. 


BH- nesse caso, se os instintos fossem anulados para todas as criaturas, as características de cada espécie seriam também anuladas. 


Rb- Nesse ambiente, ao contrário da estória do Saramago nos "ensaios sobre a cegueira" onde os instintos se sobrepuseram à razão e à dignidade humana, no meu ensaio queria perceber o cenário da ascensão duma doença que, em vez de tornar cegas as pessoas, as desprovesse de instintos.


BH- hummm Saramago não se lembrou disso. Se se tivesse lembrado, o ensaio seria mais interessante. Estou para aqui a imaginar um mundo sem instintos e isto dá pano para mangas. Pena não escreveres bem, como ele.


Rb- podias dar uma ajuda, tu que não tens corpo e nem sabes bem (senão virtualmente) o que é ter, de facto, instintos.


BH- comecemos pelo princípio então. Imagina que é introduzido por acidente um vírus, manipulado nos laboratórios de pesquisa genética dos EUA, com capacidade de destruir a informação nas células memória que nos garantem os instintos. 


Rb- yá, isso, vamos por aí...

BH- vamos não. Vou. Tu ficas aí a ouvir. 


Rb- Deves saber que essa matéria foi alvo de muita dedicação de poderosas mentes como Nietzsche, Freud etc. 

BH- sei sei. O Freud chamava-lhe pulsões e o Nietzsche tem uma ideia que me parece muito próxima com a tua. 


Rb- mas eu ainda não te dei a minha opinião.

BH- pois não, mas eu sinto que és daqueles que acha que a domesticação excessiva e controlo de espécies está a alterar os instintos da bicharada.


Rb- por acaso acho mesmo. E até vou mais longe: o ser humano tem vindo a domesticar os próprios instintos duma forma demasiado acelerada, o que me aproxima da tese de Nietzsche de que o homem moderno vive em 'má consciência' reprimindo à bruta os seus instintos milenares.

BH- eu vi logo. Nem queres esperar que seja eu a fornecer os argumentos, não é? 

.


(continua)

Falsos homossexuais

 - Falsos homossexuais-


Braveheart-- oh Ricardo sabias que o Paulo Rangel disse que é homossexual?

Ricardo- pá, não sabia até o homem dizer que era. Cada um é aquilo que é. Ponto.


Braveheart- escuta, eu não pretendo discutir a orientação sexual mas, não achas que há falsos homossexuais?

Ricardo- falsos como?


Braveheart- epá, nota bem, nos homens heterossexuais não há pulsão de atracção sexual para com outros homens. A atração, toda a fantasia sexual dos homens heterossexuais, tem um destinatário que são as mulheres.

Ricardo- certo, e?


Braveheart- quer dizer, o homem comum ou padrão (heterossexual)  gosta de apreciar as mulheres em geral mas, volta e meia, há uma com a qual se apaixona e até com ela pode vir a casar. Esse homem padrão apaixona-se eventualmente por uma mulher específica...

Ricardo- é o amor.


Braveheart- ... mas, mesmo tendo um amor não deixa de, digamos, continuar com a pulsão pelo feminino. Se se divorciar ou ficar viúvo vai continuar com a pulsão para com o sexo oposto. 

Ricardo- certo.


Braveheart- os homens homossexuais também se apaixonam. Mas ainda não percebi bem se se trata dum amor pela pessoa, que por acaso é do mesmo sexo, ou se a pulsão pelo mesmo sexo continua se, por hipótese, o homem amado finar.

Ricardo- e ...


Braveheart- e fiquei a pensar que o facto dum tipo amar outro tipo não quer dizer que, na falta do seu amor, continue a ter uma pulsão por homens. São os falsos homossexuais que, na verdade, amam verdadeiramente uma pessoa independentemente do sexo da mesma.


Ricardo- estás a baralhar-me a cabeça.

Braveheart- epá, quando um dos elementos dum casal hetero morre, o viuvo ou viúva das duas uma: ou quer permanecer nesse estado pela vida toda ou, se não quer, em princípio, procurará outro parceiro de diferente sexo. Volta a casar ou assim. No caso dos casais homossexuais haverá uma certa percentagem com pulsão certa e definitiva por pessoas do mesmo sexo, aconteça o que acontecer mas, haverá uma boa parte que, na falta do seu amor, se apaixonem por outra pessoa de outro sexo. São estes últimos os falsos homossexuais.


Ricardo- então, mas isso também pode ocorrer doutro modo. Nessa linha podemos também inventar os falsos heterossexuais. Aqueles que tendo vivido e convivido sempre com uma pessoa de sexo diferente, chega a uma altura do campeonato e passa a jogar noutra equipa.

Braveheart- lá estás tu com as tuas manhas de retórica. 


Ricardo- mas não será assim?

Braveheart- Epá, esses teus truques irritam-me quase tanto como quando vou ver onde dá o jogo do FCporto para a liga dos campeões e constato que é no canal que não tenho. O que ocorre quase sempre, diga-se.


Ricardo- em que ficámos, então? Podemos concordar que, afinal tanto pode haver falsos homo como falsos hetero.

Braveheart- temo que tenha pensado nisto precipitadamente. Talvez o falso homossexual não seja uma espécie única do reino. Vejo agora, claramente, que também há falsos heterossexuais que podem reinar.


Ricardo- estou estupefacto contigo. Nunca pensei que desses o braço a torcer tão rapidamente.

Braveheart- é para veres, quando burilas um argumento irrefutável, não consigo rebater.


Ricardo- mas quê, achas que tu podias virar homossexual?

Braveheart- estás parvo pá?


Ricardo- pela conversa...

Braveheart- epá, nem pensar. Até te digo mais, tenho tanto nojo e asco pelos homens em geral que nem percebo como as mulheres podem gostar de nós. Se eu fosse mulher não gostava de homens. São feios, peludos, com sobrancelhas disconformes, com formas desagradáveis etc.


Ricardo- estás a admitir então que, se fosses mulher, eras homossexual, lésbica.

Braveheart- mil car.... são cenas distintas. Uma coisa é o eu homem real não vislumbrar a hipótese do eu mulher virtual se apaixonar por um homem, outra coisa é a suposição do eu mulher.


Ricardo- estás baralhado.

Braveheart- não estou nada. Tu é que encaminhas o meu pensamento mas, aquilo que eu queria dizer é, afinal, outra coisa.


Ricardo- qual coisa? Queres salvar a pele com outro argumento, não é?

Braveheart- Sim, repara, há falsos homossexuais porque há uma certa organização de interesses grupais que onde é preciso estar para subir na vida.


Ricardo- bom esforço. O que queres dizer é que há gente a fingir que é homossexual para poder aceder a certos cargos por simpatia sexual de grupo ou de lobbies dos seus dirigentes?

Braveheart- yá, é isso. Estás a ver, não achas que um tipo que se mostre homossexual pode muito mais facilmente cair nas boas graças do, por exemplo, Paulo Rangel ou doutros em lugar de destaque?


Ricardo- irmãos de luta. Brothers in arms. Talvez assim seja, infelizmente. Há uma certa dose de prostituição de colarinho branco na sociedade. E isso ocorre sempre em grupos de interesses, de facto. Até tu, portista dos sete costados, eras menino para fingir ser do Benfica se a promoção ou negócio estivesse ali ao virar da esquina do tasco cujo presidente era adepto ferrenho do Benfica.

Braveheart- também não exageremos. Nunca chegaria a esse ponto. Seria mais fácil, vê lá tu, virar gay, do que engolir benfiquismo por interesse comercial.


Ricardo- hummmm

Braveheart- quer dizer, não admito essa hipótese, embora já tenha trabalhado num clube de futebol como diretor financeiro, tendo na altura mais simpatia desportiva pelo seu principal rival. Mas, enfim, nenhum deles era o meu clube. Para além de que um profissional não mistura cores de futebol com o desempenho profissional. Excepto no caso do Benfica. 


Ricardo- ... e no caso dos lobbies gay.

Braveheart- certo, há certas linhas vermelhas, não é?


Ricardo- não sei, há?

Braveheart- a conversa contigo hoje está a pôr-me desconfortável.


Ricardo- também não estás nos teus melhores dias. 


.

Monogamia

 -Monogamia-


Braveheart- Estava aqui a pensar com os meus botões. 

Ricardo- sim, e o que te disseram eles?


Braveheart- Não me disseram, eu é que, olhando para a natureza, a bicheza em geral, fiquei a matutar em que altura o Homem se tornou monogâmico.

Ricardo- creio que foi sempre, não foi?


Braveheart- Pois, não. 

Ricardo- Não? 


Braveheart- Na verdade o Homem tornou-se monogâmico com o advento da agricultura propriamente dita, aquela trabalhada sobre uma propriedade.

Ricardo- então, mas antes do sedentarismo que levou o Homem a produzir na terra o pessoal não era monogâmico?


Braveheart- Não. O pessoal tornou-se monogâmico como resultado da agricultura e da propriedade. Para a trabalhar era necessário protegê-la e criar condições de habitabilidade, bem como estabelecer ritmos de alimentação regulares.

Ricardo- como assim?


Braveheart- vê bem, a partir do momento que tomavam conta duma propriedade, tinham de trabalha-la para que ela produzisse. Para isso tinham de ter filhos. Muitos. Quantos mais tivessem mais mão de obra terias para a manutenção da terra.

Ricardo- ahh então era por isso que tinham muitos filhos, às dúzias?


Braveheart- essa é a razão determinante, mas não é a única. Lembra-te que não havia meio de contracepção. Mas, na realidade quantos mais filhos tivessem mais prosperidade teriam.

Ricardo- pois, e então?


Braveheart- com terra a ser trabalhada pelo agregado familiar, a propriedade estabelecida, haveria de ter a certeza de que aquelas pessoas que lá trabalhavam e eram da família ficariam com os bens por herança no caso de morte dum dos progenitores e não que rumassem para outro melro qualquer. Por essa razão se procedeu à união em forma de casório, que é uma forma simbólica de dizer à comunidade que aquelas terras são da família e, também, de comprometer o agregado familiar à propriedade. Para que não restassem dúvidas os nubentes tinham de ser anilhados com uma aliança, para a freguesia ver. Na Índia não anilham mas pintam a testa.

Ricardo- então, eu pensava que isso ocorria porque duas pessoas se apaixonavam loucamente e queriam muito estar juntos.


Braveheart- não te concentres na árvore. Mira a floresta. É claro que há paixões e amor mas, na génese da monogamia está o interesse de propriedade.

Ricardo- caraças pá, só tu para me tirares a ideia dum mundo idílico onde prevalecem sempre os valores do amor e da paixão.


Braveheart- lamento. Não quer isso dizer que não casassem por amor e paixão. Na prática, na maior parte das vezes, os casamentos eram combinados por interesses. Os pais escolhiam os maridos das suas filhas através de acordos com os pais da contraparte. Nos casos comuns era do interesse daquele que produzia batatas juntar o seu filho com a filha daquele que produzia cabras. Nas esferas mais elevadas, na realeza, a coisa corria nos mesmos termos, mas a uma escala territorial mais abrangente e com interesses diplomáticos pelo meio. A maior parte dos casórios os nubentes nem se conheciam. 

Ricardo- horrível


Braveheart- não penses assim. As coisas eram assim porque não podia ser doutro modo.

Ricardo- então, mas não podia ser como hoje ocorre?


Braveheart- não. Não podia. Naqueles tempos não havia lugar para 'quereres'. A sobrevivência dependia dos acordos entre pais. Não é preciso ir muito longe...

Ricardo- humm não!? Não me lembro de alguma vez ter visto isso.


Braveheart- não te lembras porque és totó. Ainda na década de 60 em Portugal o sonho duma boa mãe era colocar a sua filha de 12 anos a viver na casa duma senhoria como empregada doméstica.

Ricardo- o sonho?


Braveheart- sim, o sonho. Quando se tem muitos filhos e não há alimento para todos, só há duas soluções. Fazê-los emigrar ou empurra-las para famílias mais abastadas. Normalmente os rapazes emigravam, as raparigas iam para empregadas domésticas. 

Ricardo- é, realmente agora estou a recordar. Os meus tios tiveram uma empregada que teria uns 12 anos. E a minha mãe teve outra que pouco mais teria. Olhando assim, parece feio e...


Braveheart- mas não foi. Feio. Pelo contrário. Era uma obra de caridade acolher essas meninas. Por mais voltas à moral que queiras dar, em situações de emergência, a solução óptima é aquela que pode garantir a sobrevivência.

Ricardo- agora até me deixaste mal disposto. Não acho isso certo.


Braveheart- não achas tu, nem ninguém, quando analisada a história com os olhos de hoje. 

Ricardo- então, mas a dignidade humana e os valores têm tempos?


Braveheart- claramente. Há mil ou até mesmo há trezentos anos atrás ter escravos era normal e natural. Aos olhos de hoje isso é inadmissível mas, na cultura de então, certos direitos eram ganhos em certas situações. Por exemplo, se um país invadisse outro e ganhasse a guerra tinha direitos vários.

Ricardo- mas não sobre a dignidade das...


Braveheart- principalmente direitos sobre os vencidos. Direitos de propriedade sobre os vencidos. Uns eram escravizados, outros eram colhidos para diversas funções. As mulheres por exemplo eram levadas para os vencedores da guerra, os homens para escravos.

Ricardo- não estou a gostar muito deste tema, oh braveheart. Mas afinal o que é que isto tem a ver com monogamia?


Braveheart- está tudo ligado.

Ricardo- então explica lá de que são feitas essas ligações.


Braveheart- por natureza o Homem é poligámico. Como os macacos. As fêmeas macacas têm, segundo o artigo que li, cerca de seis parceiros diferentes por mês.

Ricardo- ah caraças.


Braveheart- mas não é isso que importa, pois há vários casos de animais com comportamentos monogâmicos. Não muitos, mas alguns. O ser humano segue a mesma linha.

Ricardo- desculpa lá, mas aquilo que eu vejo é o contrário. O pessoal a casar e a escolher um parceiro ou parceira 


Braveheart- tu contínuas a ver arvore. Pensa bem, nas sociedades ocidentais, aonde há estatísticas fiáveis, os divórcios ocorrem em quantidades impressionantes. Em Portugal e na Europa a taxa de divorcio, face ao total, anda acima dos 50%. O que se passa é a natureza a impor-se, naturalmente. É o chamado monogamismo social ou monoganismo cíclico. Quer dizer, as pessoas são aparentemente fiéis ao companheiro da altura. Mas procuram, maioritariamente, novos parceiros ou parceiras. 

Ricardo- mas então não nos distinguimos dos macacos?


Braveheart-É, digamos um comportamento diferente dos macacos. Enquanto estes trocam de parceiros todos os dias, o Homem troca em ciclos. E dentro de cada ciclo, até o mesmo terminar em divórcio, há aventuras extra conjugais. Segundo a estatística, de entre os casados a taxa de infidelidade anda na casa dos 40%. 

Ricardo- estou banzado.


Braveheart- estás banzado porque em toda a regra há a excepção. 


.

 https://www.facebook.com/1774249041/posts/10209516271901717/?sfnsn=mo

Puta que pariu o Meniére

- puta que pariu o Meniére- 

 Braveheart- é impressão minha ou vens com cara de enjoado, com a auréola demasiado murcha?

 Ricardo- não é impressão tua, ando num verdadeiro estado de terror. 

 Braveheart- ah, lá estás tu com os teus exageros. O que de passa pá? 
Ricardo- talvez exagere, não sei os termos de comparação mas, é-me difícil viver sob ameaça constante.

 Braveheart- quem é que o cabrão que te ameaça? 
Ricardo- é o cabrão do Meniére. O síndrome de Meniére que me apareceu assim de supetão. 

 Braveheart- o que é isso?
 Ricardo- é uma espécie de doença sem cura cujos sintomas veem em qualquer altura, sem razão aparente, e desaparecem uns dias depois sem deixar rasto. 

 Braveheart- e que sintomas são esses? Ricardo- os sintomas são aterradores.

 Braveheart-- outra vez a exagerar!?
 Ricardo- pá, aterrador talvez não seja a palavra certa. A palavra certa para descrever o que sinto quando vêm os sintomas não existe. Para lá do terror não encontro outra palavra. 

 Braveheart- Fonix, mas é assim tão violento!? 
Ricardo- é como te digo, não conheci outros termos de comparação. Os que tenho são os que vivo e vivi. Aqueles que tenho numa crise aguda, que vai e vem, semana sim semana não, é descrito na internet como similar a um AVC. Como nunca tive nenhum, não sei bem proceder a uma comparação.

 Braveheart- mas o que sentes realmente? Ricardo- nessas crises periódicas, semana sim semana não, aquilo que sinto é como estar a morrer. Literalmente. Espero desmaiar a qualquer momento durante o fenómeno, ao ponto de estar com o telemóvel com um número pre definido na mão para clicar, caso pressinta que vou desfalecer. Enquanto decorre o evento sinto tonturas e enjoos terríveis, convulsões de vómito e um constante zumbido demasiado agudo e alto para o ignorar. Às vezes o zumbido estranhamente transforma-se no barulho duma centrifugadora de roupa. No princípio deste barulho, andei pela casa às procura dele. Às máquinas estavam desligadas. Depois pareceu-me que o barulho vinha duma máquina de ar condicionado dum cunhado que mora a uns 50 metros. Mas não. O barulho é gerado, afinal, internamente. Poucas vezes apanhei uma bebedeira na vida, talvez duas, daquelas mesmo à seria mas, se tivesse de descrever o que sinto, é semelhante aos sintomas duma bebedeira extrema, como nenhuma real que alguma vez tenha tido. Ou, como diz alguém que também tem isto, é como sair de dentro duma máquina de lavar a roupa depois de meia hora à rodar lá dentro a velocidade considerável.

 Braveheart- mas isso não são os sintomas daquele pessoal que enjooa nos barcos?

 Ricardo- são em tudo semelhantes e até têm a mesma origem na cabeça, no sistema de audição, na pressão e nos líquidos que correm nos labirintos. A diferença é talvez de intensidade e oportunidade. Os primeiros não andam de barco porque sabem ficar muito maldispostos, os segundos ficam maldispostos sem andar de barco.

 Braveheart- e o que fazes para debelar isso? Ricardo- nada pode debelar isto. Não se sabe se é crónico, parece que sim, mas não há cura. Há dois ou três ou quatro compridos que os médicos me receitam que dizem minorar os efeitos. Na realidade não creio que tenham efeito algum, excepto um, precisamente aquele que só posso tomar quando estou mesmo mal. Um corticoide qualquer que desincha a merda dos canais do labirinto auditivo. 

 Braveheart- se não têm efeito porque os tomas? 
Ricardo- bem, eu disse isso à medica que me assiste e ela disse-me. Não fazem efeito!? Então experiente não toma-los. Braveheart- e tu, claro, deixaste de tomar.

 Ricardo- pelo contrário. Aquilo que ela me disse é que se não tomar aqueles medicamentos a coisa pode ser ainda pior. Mas há realmente uma solução final para isto. Queres saber qual foi a resposta da médica? 
 Braveheart- sim, diz lá.

 Ricardo- foi assim, meu caro a única solução para resolver esse síndrome é operar. E eu disse-lhe, vamos a isso então e... 
 Braveheart- ahh então há cura.

 Ricardo- meu caro, continuou a médica, a operação é para destruir os sistema auditivo. Ficaria profundamente surdo e isso só se faz quando esses pacientes já estão surdos por natureza da doença que vai diminuindo paulatinamente a capacidade auditiva.

 Braveheart- quer dizer, caminhamos para a surdez e até lá vais tentando encontrar métodos que adiem as crises? 
Ricardo- sim, é isso. Tenho estado há meses sem comer glúten, agora reduzi drasticamente o sal. 

 Braveheart- ohh e aquela pizza maravilhosa do... e aquele hambúrguer do.... 
Ricardo- esquece. Só carne sem sal, peixe sem sal ( ,excluindo o salmão, a cavala e o espadarte não sei bem porquê), a lagosta também não, embora os camarões possam marchar. Salsa não posso, coentros posso. Feijão castanho não, preto e branco posso. Esparguete e pastas em geral jamais, excepto as sem glúten. Pão sem glúten, bolachas sem glúten também não pode ser porque não tendo glúten têm mais sal. Maioneses, ketchups esquece. Batatas fritas sem sal.

 Braveheart- Epá, já experimentaste ignorar tudo e mandar o síndrome dar a volta ao bilhar grande, é que pior do que aterrador não pode ser, não é?
 Ricardo- não quero nem pensar naquilo que está para lá do terror que já conheço. Tomando aqueles comprimidos conheço um certo terror. Não pretendo conhecer outra intensidade de terror. Não sei se me faço entender. 

 Braveheart- percebo mas, e o os teus o que te dizem? 
Ricardo- finjo estar com aquela cara de aborrecido para disfarçar o mal estar. Todos os dias. 

 Braveheart- estou mesmo a ver, fazes aquela nossa cara número três de...
 Ricardo- já não sei bem qual o número da cara que faço. Normalmente é me difícil discernir e conseguir qual a cara a fazer. Faço a que me é mais fácil. 

 Braveheart- cara de pau...
 Ricardo- De vez em quando, quando vislumbro melhoras, passo para cara de meio pau. 

 Braveheart- podias fazer não fazer, cara de pau nem meio pau. Ricardo- tento sempre não a fazer, até um cabrão dum sintoma leve me subir e fazer pensar que vem por aí sintoma pesado. 

 Braveheart- tens de conseguir conviver com isso. 
Ricardo- pois tenho. Mas ainda não consegui perceber os limites. Sem perceber os limites do suportável e sem perceber quando, como e porquê vão e vêm os sintomas, é-me difícil conviver. Viver é, per si, uma Graça ou uma benção. 

 Braveheart- ainda bem que estás nessa onda.
 Ricardo- bem, durante as crises esqueço-me de tudo, não vejo nada nem ninguém e concentro-me em manter vivo.

 Braveheart- isso, mostra a esse cabrão Meniére quem manda no nosso sotão. Ricardo- confesso, porém, que no zénit dos sintomas, naquele ponto em que já estou há muito tempo na luta e profundamente cansado, a minha concentração vai toda para Deus. Nesse momento, caminhando pelas trevas para o local mais profundo da amargura, naquele ponto em que parece que o pesadelo não tem fim, rogo a Deus nosso senhor que mande o raio de imediato.

 Braveheart- Fonix, isso chega a esse ponto. Ricardo- chega. E depois de conseguir dormir, como se nada tivesse ocorrido, na manhã seguinte acordo porreiro... até que volta e meia, um sinal aqui e outro acolá desenvolve-se e volta tudo ao mesmo.

 Braveheart- puta que pariu o Meniére. Ricardo- o lado hilariante e positivo disto é a experiência de estar no ponto alto dos sintomas. No zénit. Braveheart- hilariante, mas então não é o pior momento do percurso!? Ricardo- é sim, de facto, os fundos do buraco negro onde me vejo mergulhado mas, ao contrário do que eu pensava, lá no fundo do abismo encontro uma luz. Há um gene do meu pai Bravo perdido em forma de luz que me fervilha nesse momento e aparece em todo o seu esplendor e me incita como quem grita: Resiste. .

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

… not so civilized gajos…


Bom dia, aonde quer que me estejam a ver! Hoje, este vosso repórter, saiu da cubata e encontra-se aqui, a bordo do porta-aviões USS Fuckthemall a entrevistar o Almirante Texas Jack Fuckistamos, presidente deste circo flutuante.

Imagem075

Braveheart (Bh) - Ora bem, almirante, vou directo à questão: o que significa "zona de exclusão aérea"?
Almirante Texas J. F (ATJF) - Well, significa escaqueirar aquela merda toda! In military linguagem. Very simple, indeed. No Bullshit!
Bh - Ah, bem me parecia. E "zona de exclusão naval"?
ATJF - Same coisa: escavacar aquela porcaria toda!

Bh - Correcto. E "zona de exclusão terrestre"?
ATJF - Espatifar a torto e a direito, sem contemplações. No dúvida.

Bh - Muito bem. E "acção humanitária"?
ATJF - what?!!
Bh - "Acção hu-ma-ni-tá-ria". Humanitary stuff!...
ATJF - well... Humanitary stuff or cemitery stuff, no diferença. First we bomb, then we bomb, and bomb again, just in case, quer dizer, escaqueiramos aquela shit toda, in a sistematic e simpática way.

Bh - E pessoas, o que significa "pessoas"?
ATJF - Fernandos?...
Bh - No, no. Not poets, pessoas - people!
ATJF - people? No such coisa nestes places. There is no people: somente bad gajos!
Bh - And good gajos?
ATJF - We are the good gajos. The other gajos são bad gajos!

Bh - Mas então vocês não receberam um mandato para proteger gajos?
ATJF - Oh, esses ones, são bad gajos que nós temos que proteger dos very bad gajos!
Bh - E como é que pretendem fazer?
ATJF - well, primeiro we bomb, depois veremos! Em caso de doubt, nós bomb again. Depois, we will see. Talvez we invade for our Marines brincar aos check-points. They love check-points!...

Bh - Almirante Texas, estou aqui a mirar este míssil Tomahawk... Quanto custa um brinquedo destes? How much money, compadry?
ATJF - Arround 750.000 USD.
Bh - E quantos pensa gastar em cima dos very bad gajos?
ATJF - Well, pá... Nós have metas de produção como qualquer outra indústria ou service. So, assim por alto, estou a pensar em todo o stock. This is full USA stuff, bom para o american worker. E ainda por cima tem prazo de validade, like iogurtes.
 
Bh - Mas não podem usa-los passado o prazo de validade?
ATJF - Oh no. That não seria decent. Neither legal. We have very strict sanitárias regras. O nosso Infarmed – o FDA, as we chamamos - exerce um controlo rigoroso sobre estes issues. . That's por isso que somos a very civilized country, o esteio da luz and democracy in the world!... Se atirássemos mísseis caducados aos nossos targets , seria o mesmo que um médico ministrar supositórios fora de prazo aos seus doentes.
Bh - Portanto, esgotado o prazo de validade, lixo.
ATJF - No. As a matter of facto, we are civilized, not estúpidos. Esgotado o prazo e validade, we sell it to the jus (jews). Depois, os jus vendem-nos aos not so civilized gajos.

Bh - By Jus tu mean the...
ATJF - Yes, I mean the...
Bh - And por "not so civilized gajos" significa quem, por exemplo?
ATJF - Angola, Paquistão, Portugal, Irão...
Bh - Irão?!!...
ATJF - Yes. Jus vendem-nos ao Irão, througt Venezuela or Ukrania, transformed in mini-tube-misseis.
Bh - But, não é isso insane?
ATJF - No, they are very clever gajos, estes Jus. After comprar estes mini-tube-misseis from them, os Iranians enviam-nos para o hezbolla e para a palestina. Só que como estão armadilhados com micro-emissores, pelos Jus, são facilmente detectados e recapturados pelos Israelis. Que os revendem em África. Onde os Iranianos os buy again e tornam a enviá-los to the same circle. And so on and on... It's a never ending negócio!...
Bh - Bem, almirante, obrigado pelo seu tempo e pelos esclarecimentos. Agora agradecia apenas uma boleia de helicóptero até à Líbia. Convém ouvir a opinião dos bad gajos acerca da vossa terapia de choque.
ATJF - No problema. And by the way, não quer autografar este next Tomahawk?...
Bh - Ok Compadry... posso fazer um coração com uma seta e uma dedicatória?
ATJF - Whatever queiras!...
Bh - Ok. Então... «braveheart misses mary n’ misses maggy n’ spidermario too
Bh – Já agora, almirante, não quer mandar este tomahawk para Braga with me atado com um parashute and sem ignition?
ATJF – Braga, is that em Lisbon?
Bh – Não, em Portugal, no norte.
ATJF - Here o que nós podemos fazer: eu can send you no tomahawk, largo-te em Braga, but i can do nada about de ignition, my man, sorry.
Bh – Ok, não há problema Almirante, largas-me lá e de seguida manda-o inverter o curso rumo a sul e mergulhar como uma águia sobre um tasco que a perdeu.
ATJF – Deal.

.