quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Revelações de ODIN

 - Revelações de ODIN* -


* Deus dos vickings 


Há uns dois anos fui operado a uma mão cujos tendões estavam a definhar e encolher os dedos progressivamente. Para mal dos meus pecados o defeito ocorreu na mão direita que é aquela uso mais para... meter mudanças no carro, coçar... as costas, apalpar... a fruta, fazer... a barba e acelerar na manete da mota. E para escrever também, se bem que agora se tecla e qualquer dedo serve.


Não me lembro qual o nome técnico da doença.


Seja qual for o nome, a médica garantiu que é uma doença comum nos povos escandinavos, donde são originários os vikings, onde cerca de metade da população a tem. 


Alguns desenvolvem sintomas, outros não. Eu pertenço invariavelmente à facção que desenvolve, na mais pura confirmação da lei de Murphy.


Avançou mesmo, e depois confirmei na literatura médica, que se trata duma doença que só ocorre nos países onde os vikings estiveram ou conquistaram. Por essa razão é conhecida como doença dos vikings. 


A maleita vem do lado materno, que descansem os Bravos, porque isto é assunto da genética dos Morais, já que a minha mãe e os meus irmãos tem pequenos sintomas da doença sem desenvolvimentos maiores. Foi -me dito que o primo em sexagésimo grau Pinto Balsemão da Sic também tem essa maleita. Eu simpatizava com ele, agora percebo que seria uma empatia genética. Força nessa mão, primo.


Anyway, portanto, tive ontem uma revelação que Odin me fez enquanto dormia. Algures há mil anos, quando os vikings atracaram em Portugal, um deles ter-se-à apaixonado por uma mulher lusitana e, dessa relação, foi gerado um filho ao qual lhe foi transmitido os genes do pai viking e da mãe.


Esse moço nascido teve descendência e, passados mil anos de prolixa actividade sexual a fazer filhos, eu sou um deles. 


Descendo do cruzamento genético dum vicking qualquer... que devia ser bravo (embora com coração mole), duma beleza incomparável (a julgar pelos lindos olhos azuis da minha mãe e avó), profundamente teimoso, insubmisso, difícil de aturar, compaixoso, sonhador, nervoso, ansioso, protetor, amante da pinga e apaixonado por fumar ervas secas, obcecado com a existência ou não existência de Odin, honesto, violento, lamechas, coração mole, extremamente desconfiado, obstinado, difícil de aturar e, sobretudo, um crente ingenuo e profundamente leal. 


Não tenho por certo que usasse aqueles capacetes com chifres mas, nestas matérias, não se sabe ao certo se os tinha virtualmente. A mulher (e o homem) lusitana não é/são de confiar. 


Vá que o viking, pai de todos, decidiu partir para novas caçadas ou que o Odin o chamou mais cedo para o lugar onde descansam eternamente os guerreiros!?


Nada me garante que a mãe lusitana, mãe de toda a prol, não colocasse outro homem no lugar do vicking do qual descendo.


Na volta esse homem até dormiu na alcofa que o pai vicking construiu com muito labor e dedicação, sentou -se no banco e na mesa de madeira que tanto lhe custou a fazer, usou as ferramentas que juntou com tanto empenho. 


Até o filho da puta do arco de flechas e o machado que usava para caçar javalis o homem usou. Que grande cabrão.


Quer dizer, tanto trabalho e canseira que o pai vicking teve, tanto desgaste físico e mental para sustentar toda a prol que gerou com a mãe lusitana e, no fim, vem outro melro qualquer usufruir do empenho duma vida dum pobre vicking apaixonado e voluntarioso!?


Não se faz. O que o pai Vicking devia ter feito era desfazer-se de tudo, pegar na sua barcaça e levar a mulher e filhos a correr o mundo, pelas Caraíbas e Seicheles à procura de tesouros ou mesmo fixar-se na aposentadoria nos prados e lagos da Escandinávia  em vez de a deixar sujeita ao ataque dos vis lusitanos que se apropriam do que nunca construíram.


Acordei momentos depois da última revelação de Odin, uns minutos antes a porcaria do despertador esganiçou o alarme das sete da manhã. Bombástica, incrível, chocante a última revelação mas, essa, lamento, não vos posso contar.


.

Sem comentários: