terça-feira, 10 de março de 2009

Jardim do Éden… III

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17h… dia escaldante… para trás deixamos quem quis ficar a descansar da viagem… mal paramos o carro… ao longe ouvia-se claramente o som da agua em queda… via-se lá no fundo o vapor da água… estava-mos ansiosamente curiosos.
A primeira impressão que tive, foi deslumbrante… um precipício enorme… um pequeno miradouro, para onde logo fui… em passo acelerado. Em frente ás quedas… do lado direito… uma selva; bem no meio da encosta um antigo hotel em ruínas… viam-se algumas arvores que cresceram nas ruínas, alguns ramos procuraram a luz pelas janelas do hotel, ao longo dos anos… ‘ queira deus que não o reabilitem…’, assim pensei.
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Na linha de água o rio continuava… depois da queda de 120m, serpenteava pela floresta rumo ao infinito… uma visão paradisíaca…
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As quedas estão abertas ao público, e não tem qualquer tipo de protecção… está-se permanentemente on the edge…
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Senti muita falta dos meus amores… a mary e a maggy em especial… haveriam de adorar ver esta maravilha da natureza… estou habituado a partilhar estas coisas com elas, e sempre que estou deslumbrado com qualquer coisa, penso nelas… we are connected… ou como dizem em angola… ‘estamos juntos, yá?’
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O zalov é mwangolé, gerente bancário… embora seja mwangolé, ainda não conhecia as quedas de água… a estela é famalicense, trabalha com my bro na empresa campi carnes, e também não conhecia as quedas, assim como o ricardo e a elisa, que já cá estão cá há cinco anos… o primeiro trabalha numa seguradora como director, a elisa trabalha na imobiliária siccal, a ana nasceu em angola, mas já cá não vinha à 30 anos… e chegou à pouco tempo… quando desceu do avião, colocou-se de joelhos e beijou a terra ardente… o cunha é o cunha, and my bro é o meu bro… velhos conhecidos… de outros posts.
Todos eles sem excepção… foram extraordinários, em simpatia e boa disposição…

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’mr. ivan where the fuck are you?’ respondi ao atender o telemóvel.
‘épá, sei lá, tou aqui… no meio de… não sei!’ ele respondeu naquele tom típico de quem não sabe aonde fica o que quer que seja.
Parece que meteu o jipe pelo meio do capim com uma altura maior que o próprio carro… e portanto, nem os próprios colegas noutros jipes ele enxergava…  tão-pouco via um metro sequer à frente do nariz, tal era a imensidão de capim… fiquei a imaginar a cena, pois passei por dezenas de quilómetros de  capim durante a viajem… e na realidade aquilo é bastante alto… o ideal para emboscadas, no tempo da guerra. Mas o ivan andava à procura da base das quedas de água… dizia que podia passar por baixo das cataratas… hummm… o reis já tinha desaparecido…
Depois de visitar as quedas de kalandula… a directora do hotel, a dra. patrícia, jantou connosco… é mwangolé também, mas esteve vinte anos em lisboa e estudou gestão hoteleira… ‘tenho saudades de portugal… ás vezes fico a pensar no rossio…’ ela disse pensativa.
O curioso disto é que o zalov e a patrícia foram amigos de infância, e já não se viam há quinze anos… o tempo que ela esteve em portugal… esta ocasião foi pois o reencontro dos dois.
Foi-nos chamar para irmos até esplanada, e colocou musica africana… como qualquer boa africana… dançou a nosso pedido… e dançava muito bem, com aqueles passos esquisitos e impossíveis de imitar… mas lindos… ainda tentei fazer uma pequena imitação… mas a minha figurinha já é ridícula o suficiente a dançar ritmos ocidentais, quanto mais a dançar ritmos africanos… quer dizer, não dá… é muito triste a figura…
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A patrícia disse-nos que havia umas cascatas a uns 18 km de kalandula, aonde se podia tomar banho… aonde se faziam percursos de jipe em estrada de terra e picadas… enfim tudo o que eu gosto… designou um rapaz para nos guiar… o econ, assim chamado por ser o responsável pelo economato do hotel.
Mas ainda durante esse dia… a estela estava cheia de febre e dores de garganta… estava-mos com receio que fosse malária… eu, o ricardo e a elisa fomos procurar uma farmácia… eu tinha visto um anúncio na vila de kalandula; lá chegados reparei que a mesma ficava ao lado de uma taberna, com acesso directo entre um estabelecimento e outro… tinha meia dúzia de medicamentos… ainda li alguns folhetos, mas não descortinei nenhum antibiótico… a mulher que lá estava percebia de tudo menos de farmácia, devia ser empregada da taberna… mas indicou-nos o caminho do hospital de kalandula… ‘hospital? então existe cá um hospital?’ comentei satisfeito.
Antes porém, a mulher comentou que naquele dia era o dia da dama ou da mulher… ‘ aí sim… então e o que é que um angolano costuma oferecer à dama, neste dia?’ assim perguntei… ‘humm… podji sê uma flô’ ela retrucou… ‘uma flor, mas eu não vejo flores por aqui…’ eu continuei... ‘ahh… podji sê uma flô ou um carro…’ ela respondeu.
Gostei de saber que prendas gostam as dama cá em angola, confesso… e das alternativas, principalmente… uma flor ou um carro. Estou mesmo a ver a conversa de um casal angolano ‘queres um flor ou carro querida?’ ‘ humm prefiro uma flô…’
Mas fomos procurar o dito hospital… e quando o vi, duvidei que tal edifício pudesse ser alguma coisa, muito menos um hospital… paramos o carro em frente das escadas… ao cimo um rapaz com curativo na orelha, mais à frente uma porta aberta; entrei e passei por uma corredor com camas de um lado e do outro com doentes… um homem mandou-me esperar cá fora. ‘hoji é domingo tem qui custeár…’ ele afirmou. ‘ tá bem eu custeio pá… diga lá… eu quero é saber se tem aí um antibiótico para uma pessoa que está cheia de febre e tal’ eu respondi firmemente.
Mandou-nos entrar e a conversa foi esclarecedora, prescreveu-nos um antibiótico para os sintomas que eu previamente lhe tinha descrito… antes porém lemos as indicações… no papel dizia que era para o tratamento de problemas do útero… ‘ atão pá isto é para o útero… como é?’ indignado eu afirmei… por mais que ele me dissesse que também dava, a desconfiança fez-nos desistir daquele local… o responsável pelo hospital não percebia nada de medicina…
O aspecto do hospital era de tal forma degradado… só mesmo em filmes passados na somália, afeganistão vi coisa semelhante… estou convencido que naquele local, quem não morrer da doença… morre da cura. Tivemos de fazer 140 km para ir a Malanje e comprar o antibiótico… mas conseguimos… e ela ficou melhor e até foi bom porque ficamos a conhecer a cidade…
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No dia seguinte logo de manhã, fomos à aventura…

(Capitulo III)

1 comentário:

Anónimo disse...

Fantástico!!!E eu a pensar...
Que bom poder viver e trabalhar num sítio onde simultaneamente se está de férias!!!
Vocês estão é no paraíso!BOA!!!
BJS